Notícia
Lúpulo pode ajudar a prevenir e reduzir os efeitos da gengivite e periodontite
Flor do lúpulo, usada na fabricação de cervejas, tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias
Pixabay
Fonte
UFRGS | Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Data
terça-feira, 30 março 2021 11:55
Áreas
Bioquímica. Odontologia.
O lúpulo é uma planta trepadeira de origem europeia da família Canabiáceas. Sua flor é utilizada na produção de cervejas, conferindo-lhes amargor e aroma específicos. Há estudos que sugerem que o consumo baixo/moderado de bebidas alcoólicas pode ter efeito protetivo contra inflamações e algumas doenças cardiovasculares. A partir deles, o Dr. Eduardo José Gaio, professor da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), obteve uma patente sobre o uso do lúpulo em produtos de saúde bucal. O objetivo é aplicar propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias da flor – observadas pelo professor em um estudo de 2017 – em produtos de uso bucal diário, para prevenir e reduzir os efeitos da gengivite e da periodontite, inflamações muito comuns na população em geral.
As pesquisas do professor Eduardo são no campo da periodontia, área da odontologia que estuda o sistema de sustentação e implantação de dentes (a gengiva e os tecidos ósseos da região), atuando no diagnóstico, na prevenção e no tratamento da gengivite e da periodontite, causadas pelo acúmulo de bactérias nos dentes e na gengiva quando falta higienização. O pesquisador explica que a gengivite é uma primeira inflamação, a qual não causa danos às estruturas da região, mas traz mau hálito, sangramentos e dor durante a escovação, dificultando a higiene. Com o tempo, se não for tratada, ela pode se tornar crônica e evoluir para uma periodontite. Esta, por sua vez, tem como consequência a destruição de tecidos gengivais e ósseos, podendo levar à perda de dentes e até causar outros problemas relacionados com o sistema cardiovascular.
Em 2017, o professor coordenou um estudo no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) no qual observou um efeito antioxidante presente em cervejas lupuladas, o que pode ajudar a controlar a inflamação. A pesquisa foi feita com ratos Wistar, que foram divididos em quatro grupos: um de controle (que não ingeria álcool); um que consumia cerveja Indian Pale Ale (IPA) (com alto teor de lúpulo), outro, cerveja Pilsen (menos lupulada); e outro que recebeu uma solução alcoólica sem lúpulo. Todas as bebidas possuíam a mesma concentração de álcool. Então, foi induzida uma inflamação periodontal nos ratos, que chegou à periodontite, com destruição de tecido ósseo. Os grupos experimentais, exceto o grupo de controle, ingeriam diariamente a bebida alcoólica, disponibilizada por doze horas, voltando à dieta normal com água depois. A intenção era analisar a destruição dos tecidos em cada grupo mediante o consumo moderado da bebida – a relação entre o benefício e o malefício do consumo de álcool envolve algumas variáveis, como por exemplo a quantidade de doses ingeridas, peso corporal, gênero, idade e dieta, o que faz o consumo moderado ser peça-chave do estudo.
Como resultado, os grupos que ingeriam cerveja apresentaram menor dano em seus tecidos, mesmo que não tenha acontecido inibição total da inflamação. E o grupo que consumiu cerveja IPA, mais lupulada, apresentou um dano ainda menor.
Esses resultados foram levados à Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, em 2018, para que a pesquisa fosse testada em nível epigenético – para tentar explicar o que aconteceu geneticamente em relação aos danos nos tecidos periodontais. Comparando os ratos que não ingeriram álcool com aqueles que consumiram cerveja IPA, há muita diferença nos marcadores genéticos. O professor Eduardo disse que “a presença da cerveja IPA fez modificações na cromatina, e isso provavelmente explica por que esses animais tiveram menos inflamação e destruição do tecido ósseo”. Por outro lado, ele afirma que, com o modelo aplicado até aqui, não é possível afirmar se o efeito protetivo funciona de forma local, na gengiva, ou sistêmica, via corrente sanguínea, ou até mesmo de maneira conjunta. Mesmo assim, surgiu a ideia de patentear a aplicação do lúpulo em produtos de saúde bucal, já que os resultados são interessantes na área odontológica.
Com a obtenção da patente, pesquisas nesse âmbito podem prosseguir. “É importante [obter a patente], porque protege intelectualmente esse produto em desenvolvimento”, destacou o professor. As patentes nacionais são concedidas pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), e o pesquisador redigiu o pedido citando exemplos de produtos odontológicos nos quais o lúpulo e seus extratos podem ser utilizados, como cremes dentais, géis de aplicação caseira e enxaguantes bucais. A patente foi obtida em dezembro de 2019, na categoria “patente de invenção”, e o próximo passo é fazer um registro internacional.
Acesse a notícia completa na página da UFRGS.
Fonte: Thiago Sória, UFRGS Ciência. Imagem: Pixabay.
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