Notícia

A ética e os estudos clínicos com vacinas contra a COVID-19

Morte de  voluntário brasileiro durante o estudo com a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford gerou um debate sobre a ética nos estudos clínicos das vacinas contra a COVID-19

Bermix Studio via Unsplash

Fonte

Universidade Northeastern

Data

sábado, 24 outubro 2020 15:25

Áreas

Doenças Infecciosas. Estudo Clínico. Ética. Saúde Pública. Vacinas.

À medida que a corrida para criar uma vacina COVID-19 aumenta, muitas pessoas expressam relutância em receber a imunização assim que estiver disponível, argumentando que a vacina não terá tempo suficiente para passar por uma avaliação adequada.

Por outro lado, os pesquisadores temem que algumas dessas mesmas pessoas não estejam interessadas em participar de estudos clínicos para a comprovação da eficácia e segurança das vacinas: as pessoas não querem uma vacina a menos que ela seja testada, mas também não querem ser parte dos testes por causa dos riscos desconhecidos.

As dúvidas sobre o processo de desenvolvimento das vacinas foram reforçadas na semana passada após a morte de um voluntário brasileiro durante o estudo com a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e produzida pela farmacêutica AstraZeneca. Embora não esteja claro se a morte do participante esteve ligada ao estudo, o incidente, no entanto, semeou dúvidas entre uma parcela da população, conforme refletido na subsequente queda nas ações da AstraZeneca.

Esse evento gerou um debate sobre a ética nos estudos clínicos das vacinas contra a COVID-19. “Infelizmente, não há uma resposta simples”, disse o Dr. John Basl, professor de filosofia da Universidade Northeastern, nos Estados Unidos, e especialista em bioética. “Estamos em uma emergência médica sem precedentes e os benefícios de se obter uma vacina rapidamente são extremamente altos. Como podemos equilibrar o desejo de controlar esta [pandemia] com o mesmo cuidado ético que esperamos aplicar no contexto da pesquisa médica cotidiana?”, refletiu o pesquisador.

Na maioria dos testes de vacinas em andamento, um grupo recebe a vacina contra a COVID-19, enquanto  outro grupo não recebe. Então, os participantes vivem suas vidas normalmente para testar a eficácia da vacina.

O participante do estudo AstraZeneca que morreu de COVID-19 fazia parte do grupo placebo e não recebeu a vacina, conforme noticiado. Neste caso, parece que a morte do participante não teve relação com o estudo. “Mas então a questão é: o que teria acontecido se ele tivesse recebido a vacina? Ele ainda estaria vivo?”, destacou o professor Basl.

E se receber o placebo, partindo do pressuposto de que poderia ser a vacina real, encorajasse o participante a se envolver em um comportamento de risco que, de outra forma, ele evitaria? “Sabemos que o efeito placebo é real e, neste caso, a preocupação é que as pessoas [que participam dos estudos] não levem as diretrizes de saúde a sério se acharem que estão imunizadas. A forma como esta possível situação é gerenciada se dá no procedimento de divulgação e consentimento. Os participantes devem ser instruídos a agir como se nunca tivessem recebido a vacina”, disse o professor.

Visto que participar de testes de vacinas pode ser potencialmente perigoso para a saúde das pessoas, alguns podem se surpreender ao saber que voluntários geralmente não recebem nenhum tipo de compensação. “Normalmente, qualquer tipo de compensação é mal visto pela comunidade científica. Tem um sabor de exploração. As pessoas mais motivadas pela compensação financeira seriam provavelmente as mais vulneráveis ​​e sentiriam maior pressão econômica para participar dos testes ”, ressaltou o Dr. John Basl.

O professor Basl disse que a consideração bioética mais importante em testes em humanos é o consentimento. “E isso vai além da assinatura do termo de consentimento. Você precisa ter certeza de que o estudo é apresentado de uma forma que os participantes possam entendê-lo”, reforçou o pesquisador.

O processo de consentimento é duplo – os pesquisadores devem divulgar todas as informações relevantes que não comprometam o estudo, ao mesmo tempo que garantem que os participantes compreendam os parâmetros do experimento. “Em uma situação como essa, isso significaria destacar os riscos e ter um profissional médico presente para responder às perguntas enquanto o participante lê o termo de consentimento”, explicou o Dr. Basl.

Acesse a matéria completa na página da Universidade Northeastern (em inglês).

Fonte: Emily Arntsen, Universidade Northeastern. Imagem: Bermix Studio via Unsplash.

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