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Achado inesperado mostra nova maneira de regular a pressão sanguínea

No que poderia ser um novo caminho para terapias medicamentosas para tratar a hipertensão, equipe de pesquisadores descobriu que o zinco desempenha um papel fundamental na redução da pressão arterial

Shutterstock

Fonte

Universidade de Melbourne

Data

segunda-feira, 7 junho 2021 06:15

Áreas

Bioquímica. Cardiologia. Farmacologia. Saúde Pública.

Movimentos, pensamentos, a operação constante dos órgãos – tudo depende das artérias canalizarem sangue rico em oxigênio para onde é necessário, liberando energia para abastecer todas as funções do corpo. E tudo acontece com precisão controlada, sem que se precise pensar sobre isso.

O músculo liso ao redor das artérias e outros vasos sanguíneos se expande e se contrai para ajudar a manter o fluxo sanguíneo com eficiência. À medida que os músculos se contraem, eles estreitam a artéria e aumentam a pressão arterial e, à medida que o músculo relaxa, a artéria se expande e a pressão arterial cai.

Se a pressão arterial estiver muito baixa, o fluxo sanguíneo não será suficiente para sustentar o corpo com oxigênio e nutrientes. Com excesso de pressão sanguínea, os vasos sanguíneos podem ser danificados ou mesmo rompidos. Entender como isso funciona é extremamente importante para uma série de doenças cardiovasculares – doenças do coração e do sistema circulatório – incluindo angina e derrame. A pressão alta, ou hipertensão, é o principal fator de risco modificável para doenças cardiovasculares e morte prematura em todo o mundo.

Já se sabe que os metais, potássio e cálcio são importantes na regulação de como os vasos sanguíneos se expandem e se contraem, mas uma nova pesquisa publicada na revista científica Nature Communications liderada por pesquisadores da Universidade de Melbourne, na Austrália, mostra a importância de outro metal que é abundante nas células – o zinco. A descoberta cria um novo caminho potencial para o desenvolvimento de tratamentos para uma série de doenças cardiovasculares.

Descobertas fundamentais que remontam a mais de 60 anos estabeleceram que os níveis de cálcio e potássio no músculo ao redor dos vasos sanguíneos controlam como eles se expandem e se contraem. O potássio regula o cálcio no músculo, e é o cálcio que tem sido bem estudado e reconhecido por causar o estreitamento das artérias e veias que elevam a pressão arterial e restringem o fluxo sanguíneo.

Outras células que circundam o vaso sanguíneo, incluindo células endoteliais e nervos sensoriais, também regulam o cálcio e o potássio dentro do músculo das artérias e são reguladas pelos níveis desses metais neles contidos. Essa biologia está bem estabelecida e muitos medicamentos se baseiam nesse entendimento, incluindo vários dos medicamentos mais bem-sucedidos da história na prevenção de doenças e no prolongamento da vida. Por exemplo, a amlodipina, que bloqueia os canais de cálcio no músculo da artéria, é um dos agentes mais comumente prescritos para hipertensão.

A descoberta dos pesquisadores de que o zinco também é importante foi acidental porque eles estavam pesquisando o cérebro, não a pressão arterial. Estavam investigando o impacto das drogas à base de zinco na função cerebral na doença de Alzheimer, quando notaram uma diminuição pronunciada e inesperada na pressão arterial em modelos de camundongos tratados com as drogas.

Em colaboração com pesquisadores da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, e do TEDA International Cardiovascular Hospital, na China, os pesquisadores de Melbourne passaram vários anos trabalhando em uma explicação para esse achado inicial.

Por fim, o trabalho mostrou que a ação coordenada do zinco nos nervos sensoriais, nas células endoteliais e no músculo das artérias desencadeia níveis mais baixos de cálcio nos músculos dos vasos sanguíneos. Isso faz com que o vaso relaxe, diminuindo a pressão arterial e aumentando o fluxo sanguíneo. Essencialmente, o zinco tem efeito oposto ao do cálcio no fluxo sanguíneo e na pressão.

Curiosamente, os pesquisadores descobriram que os vasos sanguíneos do cérebro e do coração são mais sensíveis ao zinco do que os vasos sanguíneos de outras áreas do corpo – uma observação que justifica mais pesquisas. O zinco é um íon metálico importante na biologia e, dado que o cálcio e o potássio são famosos por controlar o fluxo sanguíneo e a pressão, é surpreendente que o papel do zinco não tenha sido apreciado anteriormente.

Mais surpreendente ainda, os genes que controlam os níveis de zinco dentro das células são conhecidos por estarem associados a doenças cardiovasculares, incluindo a hipertensão, e a hipertensão também é um conhecido efeito colateral da deficiência de zinco. A nova pesquisa agora fornece explicações para essas associações conhecidas anteriormente.

A importância dessas descobertas vai além de explicar essas associações anteriores, introduzindo vários compostos que diminuem ou aumentam o fluxo sanguíneo e a pressão. Talvez possam ser desenvolvidos novos medicamentos que visem o zinco de outras maneiras, semelhante à forma como uma série de medicamentos foi desenvolvida quando se começou a entender o papel do cálcio na regulação da pressão arterial.

Infelizmente, não é tão simples quanto incluir mais zinco na dieta, porque o zinco que entra no sangue deve ser transportado para as células dos vasos sanguíneos em um processo altamente regulado. Mas existem compostos que podem enganar as células para aumentar ou diminuir seus níveis de zinco, e esses compostos podem ser a base para novos medicamentos terapêuticos.

Embora haja uma variedade de medicamentos disponíveis para reduzir a pressão arterial, muitas pessoas desenvolvem resistência a eles, e novos medicamentos à base de zinco podem fornecer novas oportunidades para esses pacientes.

Há também uma série de doenças cardiovasculares que são mal tratadas pelos medicamentos atualmente disponíveis, incluindo hipertensão pulmonar, em que medicamentos à base de zinco precisam de mais pesquisas.

Novos medicamentos para pressão sanguínea à base de zinco seriam um grande resultado para uma descoberta acidental, lembrando que na pesquisa [científica] não se trata apenas de procurar algo específico, mas também de observar [oportunidades].

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Pursuit da Universidade de Melbourne (em inglês).

Fonte: Dr. Ashenafi Betrie, Dr. Scott Ayton e Dra. Christine Wright, Pursuit, Universidade de Melbourne.

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