Notícia

Cientistas testam molécula que combina três tecnologias distintas contra câncer cerebral mais agressivo

Potencial tratamento apresentou eficácia em células isoladas e em modelos animais, valendo-se de uma combinação de nanotecnologia, quimioterapia e um anticorpo monoclonal

Leonardo Di Filippo, Unesp

Fonte

Agência FAPESP

Data

sábado, 4 junho 2022 13:10

Áreas

Biomedicina. Bioquímica. Entrega de Medicamentos. Farmacologia. Medicina de Precisão. Microbiologia. Nanotecnologia. Neurociências. Oncologia. Química Medicinal.

Um carreador que consegue chegar ao cérebro, ligar-se a um tipo agressivo de tumor conhecido como glioblastoma multiforme e liberar um quimioterápico foi testado pela primeira vez por pesquisadores brasileiros. Segundo artigo publicado na revista científica International Journal of Pharmaceutics, o potencial tratamento apresentou eficácia em células isoladas e em modelos animais, valendo-se de uma combinação de nanotecnologia, quimioterapia e um anticorpo monoclonal.

O glioblastoma multiforme, além de representar 60% de todos os cânceres cerebrais, é também o tipo mais agressivo. Mesmo com cirurgia, radioterapia e quimioterapia convencional, a média de sobrevida dos pacientes gira em torno de 14 meses. Um dos motivos para isso é o de que esse tumor cria vasos sanguíneos próprios de maneira acelerada para se desenvolver – processo conhecido como angiogênese.

“E, por estar localizado no cérebro, há uma dificuldade adicional: fazer os fármacos atravessarem a barreira hematoencefálica [estrutura que filtra a passagem de substâncias para o sistema nervoso central] e chegarem até ele”, completou Leonardo Di Filippo, farmacêutico-bioquímico e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara.

Para contornar esses desafios, Di Filippo e outros pesquisadores da Unesp, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (FCFRP-USP) incorporaram o docetaxel, um quimioterápico potente, a um carreador lipídico nanoestruturado – uma formulação à base de lipídeos que consegue passar pela barreira hematoencefálica. “Fizemos uma formulação em que as substâncias se combinam de maneira estável”, comentou Di Filippo.

Os profissionais ainda acoplaram a esse carreador o bevacizumabe, um anticorpo monoclonal já aprovado para outros fins que mira o fator de crescimento endotelial (VEGF, na sigla em inglês). “Essa é a proteína do câncer que estimula a angiogênese e que tende a ser superexpressada no glioblastoma multiforme”, explicou Di Filippo. Ou seja, a proposta foi criar uma formulação capaz de entrar no cérebro, dirigir-se especificamente ao tumor e, então, liberar um quimioterápico para destruí-lo.

“O desenvolvimento desse sistema, com essa aplicação, trata-se de uma inovação”, disse o  Dr. Marlus Chorili, professor da Unesp e coordenador do projeto, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Testes de qualidade

Uma vez criado o carreador lipídico nanoestruturado com docetaxel e bevacizumabe, os pesquisadores começaram a verificar se ele atendia a critérios básicos. No laboratório, verificou-se que possuía 128 nanômetros, tamanho adequado para passar pela barreira hematoencefálica.

O produto também conseguiu aprisionar 90% do docetaxel e manter 62% do bevacizumabe acoplado em sua estrutura. “São números positivos. Dentro desses limiares, conseguimos garantir concentrações terapêuticas adequadas”, ressaltou Leonardo Di Filippo.

O próximo passo foi avaliar o efeito do composto em duas linhagens de células de glioblastoma e em células saudáveis. Em comparação com o docetaxel isolado, o nanocarreador eliminou cinco vezes mais células cancerosas, sem afetar as saudáveis.

Entre as linhagens de glioblastoma, o composto foi especialmente eficaz contra a U87MG, que superexpressa o VEGF. Seu efeito foi reduzido na A172, que apresenta menos dessa proteína. “É um dado que reforça a capacidade do nosso nanocarreador de atacar seletivamente as células com alta expressão dessa proteína”, afirmou o doutorando da Unesp.

Os pesquisadores ainda verificaram que o potencial medicamento conseguiu entrar nas células doentes e liberar o docetaxel de maneira contínua por cerca de 84 horas, o que sugere uma disponibilização prolongada do quimioterápico no organismo.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Theo Ruprecht, Agência FAPESP. Imagem: Carreadores lipídicos nanoestruturados contendo docetaxel e funcionalizados com bevacizumabe em zoom de 100 mil vezes. Fonte: Dr. Leonardo Di Filippo, Unesp.

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