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Descoberta sobre resposta imune abre caminho para vacina contra esquistossomose

Em testes com animais, anticorpos gerados na primeira infecção reconhecem mais rápido parasita causador da doença e aceleram cura em casos de reinfecção

Thirdman via Pexels

Fonte

Jornal da USP

Data

sábado, 30 outubro 2021 16:45

Áreas

Doenças Infecciosas. Doenças Negligenciadas. Vacinas.

A infecção pelo Schistosoma mansoni, parasita causador da esquistossomose, é capaz de criar uma resposta imune que gera uma espécie de “memória” nas defesas do organismo, fazendo os anticorpos responderem com muito mais rapidez a uma segunda infecção e acelerando a cura. A descoberta aconteceu em pesquisa do Instituto Butantan, com participação da Universidade de São Paulo (USP), realizada em macacos infectados com os parasitas, os quais, após a segunda infecção, não conseguiram amadurecer nem se reproduzir.

Agora, os pesquisadores planejam identificar proteínas do parasita que são atingidas por esses anticorpos, para serem testadas como possíveis candidatas a fazerem parte de uma vacina contra a esquistossomose, considerada uma doença negligenciada, típica de países pobres. As conclusões do estudo são apresentadas em artigo publicado na revista científica Nature Communications.

A esquistossomose é transmitida pelo caramujo Biomphalaria glabrata, que é penetrado pelas larvas do parasita (miracídios), originadas dos ovos liberados das fezes de pessoas infectadas. Essas larvas se desenvolvem, transformam-se em cercárias, saem do caramujo, chegam ao ser humano ao entrarem em contato com a pele, alcançam a forma adulta e provocam a doença.

“A esquistossomose ainda causa milhares de mortes atualmente no Brasil, e estima-se que 1,5 milhão de pessoas estão em áreas de risco no País. Mais de 200 mil pessoas morrem anualmente de esquistossomose em todo o mundo”, afirma ao Jornal da USP o Dr. Sergio Verjovski-Almeida, pesquisador do Instituto Butantan, professor do Instituto de Química da USP (IQ-USP) e autor sênior do trabalho. “Não existe nenhuma vacina disponível para combater a doença no Brasil ou no mundo. Existe apenas um tratamento disponível, o medicamento Praziquantel, que é ineficaz contra as formas imaturas dos vermes, não combate a reinfecção e, para o qual, já há relatos de tolerância dos parasitas”, acrescentou o Dr. Murilo Sena Amaral, pesquisador do Instituto Butantan e primeiro autor do artigo.

De acordo com o Dr. Sergio Verjovski-Almeida, desde o ano 2000, trabalhos científicos já apontavam a capacidade dos macacos rhesus de combater naturalmente uma primeira infecção com o Schistosoma mansoni, agente causador da esquistossomose, que também é chamada popularmente de doença do caramujo ou barriga d’água.

“No entanto, não era compreendido se os macacos eram capazes de desenvolver uma resposta imune capaz de curá-los mais rapidamente após uma segunda infecção. A pesquisa avaliou se macacos infectados são capazes de desenvolver uma memória imune duradoura, de modo que esse conhecimento sirva como base para o desenvolvimento de uma possível vacina”, explicou o Dr. Sergio Verjovski-Almeida.

No estudo, foram realizados experimentos in vitro e in vivo. “Nos experimentos in vivo, macacos foram infectados e reinfectados com o parasita, e vários parâmetros foram medidos para avaliar a evolução da infecção e a resposta imune dos macacos frente a ela”, descreveu o Dr. Murilo Amaral. “Nos experimentos in vitro, o plasma dos macacos contendo anticorpos foi incubado com os parasitas, a viabilidade deles e os genes afetados foram avaliados e comparados com os parasitas incubados sem o plasma”.

Segundo o Dr. Sergio Verjovski-Almeida, a descoberta de que macacos-rhesus são capazes de desenvolver uma memória imune duradoura, de forma a responder mais rápido após uma segunda infecção, e de que há anticorpos gerados contra o parasita que encaminham a cura, indicam que é possível utilizar os alvos destes anticorpos, ou seja, proteínas do parasita, no desenvolvimento de vacinas nos próximos anos. “As próximas fases do estudo serão a identificação das proteínas do parasita que são alvejadas pelos anticorpos dos macacos e os testes destas proteínas como novos candidatos vacinais em camundongos”, planejou o pesquisador.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Jornal da USP.

Fonte: Júlio Bernardes, Jornal da USP. Imagem: Thirdman via Pexels.

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