Notícia

Lunaemicina, um novo antibiótico derivado do leite da lua

Pesquisador da Universidade de Liège destacou que a lunaemicina tem propriedades interessantes, sendo particularmente ativa contra bactérias Gram-positivas que são multirresistentes a antibióticos

National Parks Gallery

Fonte

Universidade de Liège

Data

sábado, 11 fevereiro 2023 18:10

Áreas

Bioinformática. Biologia. Biotecnologia. Desenvolvimento de Fármacos. Farmacologia. Geociências. Indústria Farmacêutica. Microbiologia. Química Medicinal. Saúde Pública.

Um estudo conduzido por cientistas da Universidade de Liège e da startup HEDERA-22, na Bélgica, sobre o leite da lua – um depósito mineral encontrado em cavernas e usado por suas propriedades curativas – levou à descoberta de um composto enigmático ativo contra bactérias multirresistentes. Recentemente, a descoberta foi objeto de uma transferência de tecnologia e de uma publicação na revista científica International Journal of Molecular Sciences.

Desde tempos remotos, o ser humano consegue extrair recursos, técnicas e, às vezes, crenças do ambiente para se proteger de doenças e cuidar de sua saúde. Se a eficácia de certas práticas ancestrais foi demonstrada e endossada pela medicina moderna, a racionalidade de muitos recursos tradicionais permanece incompreendida ou mesmo suspeita. Este era o caso do chamado ‘leite da lua’ (moon milk ou moonmilk, em inglês) – frequentemente encontrado em diversas formas (pastosa, seca ou líquida) em cavernas de calcário – e usado para fins curativos. “Este espeleotema é mais frequentemente observado na forma de rocha mole em função da sua higrometria, uma espécie de cheesecake mineral”, explicou o Dr. Sébastien Rigali, microbiólogo molecular do Centro de Engenharia de Proteínas – CIP da Faculdade de Ciências da Universidade de Liège. “A evidência arqueológica de seu uso como agente anti-infeccioso é abundante, principalmente nos Alpes suíços e austríacos”, destacou o pesquisador.

Por simples curiosidade, a de buscar uma racionalidade que legitimasse o uso do leite da lua em terapia humana e animal, pesquisadores do laboratório do Dr. Sébastien Rigali decidiram estudar a flora microbiana do mineral. “O primeiro passo consistiu em ir a campo, nas cavernas do planalto condruziano, para aí encontrar depósitos de leite da lua e isolar as actinobactérias filamentosas, as bactérias campeãs em todas as categorias de produção de agentes antimicrobianos”, disse o professor. Os pesquisadores encontraram muitas delas, tanto em número quanto em diversidade.

“A análise dos genomas de bactérias isoladas revelou que essas bactérias participaram da constituição de uma vasta farmácia subterrânea! Este consórcio microbiano é capaz de produzir centenas de antibióticos, alguns dos quais são usados ​​diariamente hoje. Mas o que provavelmente é mais fascinante foi descobrir que a grande maioria dos genes biossintéticos bioativos encontrados nessas bactérias são crípticos, ou seja, não é possível associá-los a uma molécula conhecida”, destacou o professor Rigali.

Isso significa que essas cepas constituem um verdadeiro reservatório para a descoberta de novas moléculas bioativas. “Estatisticamente, é como se bastasse abaixar-se para pegar e identificar um novo antibiótico, antifúngico ou mesmo anticancerígeno”, disse o pesquisador. A realidade é obviamente muito mais complexa. Essas moléculas não se prestam facilmente ao uso de sua cultura em condições de laboratório. Tiradas de condições de crescimento extremas e oligotróficas, é difícil mantê-las ‘na melhor forma’ depois de trazidas à superfície. Além disso, seu desenvolvimento em cultura de laboratório muitas vezes não é ideal, os meios geralmente usados ​​são muito ricos e, portanto, até certo ponto tóxicos, em comparação com as condições de seu nicho original.

Foi através de colaborações de pesquisa entre laboratórios acadêmicos e a empresa HEDERA-22 – uma spin-off da Universidade de Liège ativa na descoberta e produção de biomoléculas de uso terapêutico ou interesse industrial – que esses esforços valeram a pena e permitiram revelar um primeiro composto críptico: “É um antibiótico chamado ‘lunaemicina’, produzido por uma nova bactéria chamada Streptomyces lunaelactis – lunaemicina e lunaelactis referindo-se ao nicho ecológico de onde se originam essa molécula e essa bactéria, o leite da lua. A lunaemicina tem propriedades interessantes, sendo particularmente ativa contra bactérias Gram-positivas que são multirresistentes a antibióticos”, concluiu o Dr. Sébastien Rigali.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Liège (em inglês).

Fonte: Universidade de Liège. Imagem: Depósitos de leite da lua no ‘Wind Cave National Park’ (EUA), em 2015. Fonte: National Parks Gallery.

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