Notícia
Medicamento incorporado ao revestimento de silicone reduz a ‘reação de corpo estranho’ aos implantes
Estudo em camundongos, realizado por equipe liderada por cientistas da Universidade de Cambridge, mostrou que essa reação pode ser drasticamente reduzida pela incorporação de um medicamento anti-inflamatório no revestimento de silicone ao redor do implante.
Lucien Monfils via Wikimedia Commons
Fonte
Universidade de Cambridge
Data
quarta-feira, 16 março 2022 18:25
Áreas
Bioquímica. Biotecnologia. Desenvolvimento de Fármacos. Entrega de Medicamentos. Imunologia.
Dispositivos médicos eletrônicos implantáveis já são amplamente utilizados para diversas aplicações e oferecem a perspectiva de transformar o tratamento de condições intratáveis, como o uso de estimuladores elétricos neurais para pacientes com lesão medular.
Há um grande problema, no entanto: o corpo reconhece, ataca e envolve esses implantes com uma cápsula densa e ‘protetora’ de tecido cicatricial que pode impedir que a estimulação elétrica atinja o sistema nervoso.
Essa chamada ‘reação de corpo estranho’ é impulsionada por uma resposta inflamatória contra o implante. Primeiro, células imunes conhecidas como macrófagos atacam e tentam destruir o dispositivo. Em seguida, uma resposta de mais longo prazo entra em ação, novamente coordenada pelos macrófagos, o que leva ao acúmulo de uma cápsula rica em colágeno para separá-la do tecido circundante. Essa resposta persiste até que o implante seja removido do corpo.
Os mecanismos pelos quais ocorre a reação de corpo estranho são pouco compreendidos, o que significa que não existem métodos eficazes para preveni-la sem interferir nos mecanismos de reparo tecidual, por exemplo, após lesão nervosa.
O Dr. Damiano Barone, pesquisador do Departamento de Neurociências Clínicas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, disse: “A reação de corpo estranho é atualmente uma complicação inevitável de um implante e é uma das principais causas de falha do implante. No momento, a única maneira que temos de preveni-la é usar anti-inflamatórios de amplo espectro, como a dexametasona. Mas estes são problemáticos – eles podem parar as reações, mas também impedem o reparo.”
Em um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), os cientistas implantaram um dispositivo elétrico em camundongos para compensar os danos no nervo ciático e compararam a resposta do tecido circundante com a de camundongos que não receberam um implante. Além de usar camundongos normais, os pesquisadores usaram camundongos cujos genes que controlam a resposta inflamatória foram “desligados”, impedindo a reação.
Isso permitiu que a equipe visse como a resposta inflamatória do corpo gerou a reação de corpo estranho e quais genes estavam envolvidos. Por sua vez, isso mostrou que uma molécula específica conhecida como NLRP3 desempenha um papel fundamental no processo.
Os pesquisadores então adicionaram uma pequena molécula conhecida como MCC950 ao revestimento do dispositivo e testaram seu efeito nos camundongos. A MCC950 já demonstrou inibir a atividade da NLRP3. Eles descobriram que isso impedia a reação do corpo estranho sem afetar a regeneração do tecido. Isso contrasta com o tratamento com dexametasona, que impede a reação de corpo estranho, mas também bloqueia a regeneração do nervo.
Os inibidores de NLRP3 estão sendo desenvolvidos para várias aplicações clínicas, incluindo doenças inflamatórias, câncer, sepse, doença de Alzheimer e doença de Parkinson. Eles já estão sendo testados em ensaios clínicos para certas condições.
“Há muita empolgação em torno dessa nova classe de medicamentos anti-inflamatórios. Uma vez que eles tenham passado por testes clínicos e tenham se mostrado seguros, devemos estar em uma boa posição para integrá-los à próxima geração de dispositivos implantáveis. A combinação desses medicamentos com diferentes materiais e revestimentos para dispositivos pode transformar a vida de indivíduos que precisam de implantes de longo prazo para superar deficiências ou doenças graves. Em particular, isso pode fazer uma enorme diferença para neuropróteses – próteses que se conectam ao sistema nervoso – onde a tecnologia existe, mas as reações do organismo ainda não tornaram viável seu uso generalizado”, concluiu a Dra. Clare Bryant, autora sênior do estudo e professora do Departamento de Medicina da Universidade de Cambridge.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Universidade de Cambridge (em inglês).
Fonte: Craig Brierley, Universidade de Cambridge. Imagem: radiografia de tórax com marcapasso. Fonte: Lucien Monfils via Wikimedia Commons.
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