Notícia
Mutação “letal” torna bactérias da tuberculose resistentes a antibióticos
Bactérias da tuberculose com mutação que, em teoria, deveriam matá-las, conseguem permanecer vivas e ainda mais resistentes resistentes a um tipo importante de antibiótico
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Fonte
Universidade Uppsala
Data
terça-feira, 28 janeiro 2020 12:00
Áreas
Infectologia. Resistência a Antibióticos. Saúde Pública.
A tuberculose (TB) mata pelo menos 1,5 milhão de pessoas anualmente. Um tratamento normal requer quatro antibióticos diferentes tomados por vários meses. Se um dos medicamentos não funcionar, existe um grande risco de falha do tratamento. Infelizmente, a TB resistente a antibióticos agora é muito comum em todo o mundo. Para um tratamento bem-sucedido, é importante determinar rapidamente a quais antibióticos as bactérias da TB são suscetíveis. Esse diagnóstico costumava levar várias semanas, porque as bactérias da tuberculose crescem muito lentamente. Com a revolução no sequenciamento de DNA, atualmente é possível sequenciar o DNA bacteriano e prever quais antibióticos terão sucesso, em questão de dias.
Recentemente, cientistas da Universidade de Uppsala, na Suécia, descobriram que muitas bactérias da TB continham ‘mutações por deslocamento do quadro’ em um gene para produzir uma proteína essencial (RpoB) que é alvo de um antibiótico da TB muito importante, a rifampicina. Esse tipo de mutação deveria matar as bactérias, mas aparentemente elas estavam vivas e foram recuperadas de pacientes com tuberculose em tratamento com antibióticos.
Experiências com um mutante simulado
Intrigados com essa descoberta, os cientistas do grupo do Departamento de Bioquímica Médica e Microbiologia da Universidade de Uppsala decidiram isolar um mutante semelhante em E. coli, uma espécie bacteriana menos perigosa e mais fácil de trabalhar experimentalmente. Seu objetivo era descobrir como esse tipo de mutação permitia as bactérias continuarem vivas.
O Dr. Douglas Huseby, o Dr. Gerrit Brandis e a Dra. Lisa Praski Alzrigat isolaram uma ‘mutação por deslocamento de quadro’ da proteína RpoB e descobriram como as bactérias poderiam permanecer vivas. Eles descobriram que a mutação criou uma sequência especial de códons ‘escorregadios’ raros no gene RpoB. Quando o ribossomo (a máquina que produz proteínas através da leitura do código genético) chega a essa sequência, ele “escorrega” e comete erros com uma frequência muito alta. Esse desvio na leitura do código genético suprime o efeito da “mutação letal de deslocamento de quadro” e permite que a bactéria sobreviva. No entanto, isso não foi tudo. Por causa da ‘supressão’, a proteína RpoB foi mutada e essa mutação fez com que a bactéria se tornasse altamente resistente ao antibiótico rifampicina.
Bactérias podem suprimir a mutação
Existem lições importantes desse estudo. Uma é que as mutações aparentemente letais nem sempre são letais porque as bactérias podem “suprimir” a mutação e permanecer vivas e, como nesse caso, causar resistência a um antibiótico importante contra a tuberculose. Outra lição, talvez mais importante, é que um diagnóstico baseado na leitura de uma sequência de DNA é tão bom quanto nossa capacidade de interpretar corretamente o significado da sequência.
Esses tipos de mutações “letais” que não deveriam ser possíveis são surpreendentemente comuns em isolados bacterianos clínicos, não apenas da tuberculose, mas também de outras infecções, sugerindo que muitas delas também podem ser suprimidas. Para garantir que os pacientes possam obter o diagnóstico correto e o tratamento antibiótico adequado, há a necessidade de uma interpretação melhor do significado das sequências de DNA.
Os resultados foram publicados na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Acesse a notícia completa na página da Universidade Uppsala (em inglês).
Fonte: Linda Koffmar, Universidade Uppsala. Imagem:
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