Notícia
Nanorreservatório pode ajudar a combater o câncer
Pesquisadores brasileiros desenvolvem nanorreservatório criado para utilizar fármaco anticâncer
DataBase Center for Life Science (DBCLS), Wikimedia Commons
Fonte
FAPERJ | Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Data
segunda-feira, 23 dezembro 2019 14:10
Áreas
Nanotecnologia. Oncologia. Entrega de Medicamentos.
Um grupo de 11 pesquisadores desenvolveu um nanorreservatório que contém um fármaco anticâncer e fica preso nos seus poros por um “nanogate”, uma espécie de “tampa”. O nanorreservatório funciona mediante um comando externo, neste caso, acionado por prótons. O artigo foi publicado na revista científica Journal of Materials Chemistry B.
A parceria entre a professora Dra. Célia Ronconi, da Universidade Federal Fluminense (UFF) com pesquisadores do Programa de Carcinogênese Molecular do Instituto Nacional de Câncer (Inca), chefiado pelo Dr. Luis Felipe Ribeiro Pinto, e também com cientistas do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) foi responsável pelo desenvolvimento.
“Investigamos a liberação do fármaco no núcleo de células de câncer de mama sob o comando de prótons e o resultado foi excepcional. Houve uma redução de 92% da viabilidade das células de câncer. O dispositivo carregado foi mais tóxico para as células de câncer do que o fármaco puro na mesma concentração”, relatou a professora, que recebe apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).
Funcionamento do dispositivo
O grupo da UFF trabalha com o desenvolvimento de dispositivos que respondem a um comando para liberar fármacos. Este comando por ser luz, campo magnético, reações de oxirredução ou variação de pH. O pH de células de câncer é mais ácido e, dependendo da célula, pode variar de 4.5 a 5.5. Assim, os pesquisadores projetaram um nanorreservatório que armazenasse o fármaco e também projetaram uma espécie de “tampa” (nanogate) para fechar o reservatório e evitar o vazamento do fármaco. A tampa só abre para liberar o fármaco quando o meio está ácido (pH < 7), ou seja, na presença de prótons. Em meio básico (pH > 7), o dispositivo permanece fechado. A ideia é que o dispositivo só libere o fármaco no interior de células de câncer onde o meio é ácido. Além disso, o grupo fez testes de liga/desliga com esse nanorreservatório, que consistiu em adicionar ácido para atingir o pH de 5,5 e liberar o fármaco (liga), em seguida, adicionar base para aumentar o pH para 7,4 (fisiológico) e o dispositivo é, então, fechado, cessando a liberação do fármaco (desliga). Este sistema funciona como se fosse uma válvula em escala nanométrica.
Nos experimentos, o grupo testou a doxorrubicina, um fármaco tóxico para células sadias. A próxima etapa do trabalho é verificar se o nanorreservatório, sem o fármaco, é tóxico para as células sadias.
“Nós verificamos que o reservatório sem o fármaco (doxorrubicina) apresenta baixa toxicidade para as células de MCF-7 de câncer de mama, mesmo em altas concentrações. Isto é um indicativo de que ele não seria tóxico para células sadias, mas nós não testamos em células não tumorais. Estes ensaios serão feitos futuramente”, explicou Célia.
No estudo, os pesquisadores testaram a linhagem de células do tipo MCF-7, oriunda de um adenocarcinoma de mama, isolado em 1970, de um tumor de uma mulher branca, de 69 anos de idade. O acrônimo se refere ao instituto onde as células foram isoladas: Michigan Cancer Foundation-7. A pesquisa levou aproximadamente dois anos e foi parte do trabalho de doutorado de Evelyn Santos, aluna da UFF.
O estudo foi feito in vitro, mas como os resultados foram surpreendentes, o grupo pretende seguir adiante em investigações in vivo. Como as células tumorais utilizadas são de origem humana, o grupo pretende usar camundongos imunodeficientes para os ensaios. O dispositivo para outros tipos de câncer ainda não foi testado, mas os especialistas acreditam que poderia ser adaptado para vários tipos de tumores sólidos.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da FAPERJ.
Fonte: Ascom/FAPERJ. Imagem: Divulgação.
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