Notícia

Pesquisa destaca potencial de anti-inflamatório com menos efeitos colaterais

Para resolver problemas de biodisponibilidade e do meio de entrega do medicamento, os pesquisadores desenvolveram nanopartículas feitas à base de proteína de milho

Divulgação, UFSC

Fonte

UFSC | Universidade Federal de Santa Catarina

Data

domingo, 9 julho 2023 18:30

Áreas

Biologia. Biomedicina. Biotecnologia. Entrega de Medicamentos. Farmacologia. Gastroenterologia. Metabolismo. Microbiologia. Nanotecnologia.

Um estudo realizado por cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou de forma inédita o potencial para um novo tipo de uso de um medicamento já conhecido. O furoato de mometasona é um anti-inflamatório da classe dos corticoides, muito utilizado para o tratamento de doenças respiratórias, como rinite e asma, e problemas na pele, como dermatites – sempre com aplicação local, em forma de sprays nasais, cremes ou pomadas. Pela primeira vez, contudo, pesquisadores demonstraram a possibilidade de seu uso por via oral ou por injeção, de forma que seja absorvido pelo intestino e se espalhe pelo corpo.

Realizados em células e animais, os estudos indicaram que o medicamento pode ser uma boa opção para o tratamento de inflamações intestinais, por exemplo, apresentando os mesmos benefícios e menos efeitos colaterais que outros corticoides. O trabalho envolveu também o uso de nanotecnologia e teve seus resultados publicados em dois artigos, nas revistas científicas Biochemical Pharmacology e Drug Delivery and Translational Research.

Ação anti-inflamatória versus efeitos colaterais

Os corticoides são medicamentos bastante usados para tratamento de inflamações, alergias, em contextos de imunossupressão e após transplantes, por exemplo. São fármacos bem consolidados e seguros, quando seguidas as recomendações médicas. O problema é que, quando usados por muito tempo, ou em doses elevadas, eles causam uma série de efeitos colaterais, podendo levar até ao diabetes e a dislipidemias (distúrbios relacionados ao aumento de gordura no sangue, incluindo a elevação do colesterol e de triglicerídeos). Em alguns casos, os problemas são irreversíveis.

“A gente trabalha com esses corticoides há anos. Eu trabalho com isso faz 20 anos. Basicamente, a gente tenta estudar em animais de laboratório o que acontece do ponto de vista metabólico, lá no pâncreas, mimetizando a exposição de uma pessoa a altas doses ou por um tempo prolongado a esse corticoide. O que dá para dizer é que seria idealmente interessante alguém encontrar uma molécula que produzisse os efeitos esperados do corticoide, que é a ação anti-inflamatória, sem os efeitos colaterais, ou com menos efeitos colaterais. E para isso, obviamente, tem vários grupos que tentam buscar moléculas que promovam essa ação”, comentou o Dr. Alex Rafacho, professor do Departamento de Ciências Fisiológicas da UFSC e coordenador do Laboratório de Investigação de Doenças Crônicas (Lidoc) e do estudo.

Em 2015, uma pesquisa holandesa mostrou que o furoato de mometasona podia ser exatamente o que o grupo do professor Alex procurava – um corticoide com ação anti-inflamatória e com menos efeitos colaterais. O problema é que esse medicamento é conhecido por sua baixa biodisponibilidade. Isso significa que, apesar de ter boa ação local (como para aliviar problemas respiratórios após usar o spray no nariz ou tratar alergias na pele com cremes ou pomadas), ele tem dificuldade em chegar na corrente sanguínea. Isso porque essa é uma molécula que não se dilui em água – e o corpo humano tem muita água.

“O furoato de mometasona é lipossolúvel, o que significa que é hidrofóbico. Lipossolúvel é uma molécula que tem interação com meio lipídico [composto por moléculas de gordura] e não interage com água, igual ao óleo e a água, que ficam separadinhos. Então, ela é hidrofóbica. Não tem, digamos, interação com o meio aquoso, por isso não fica biodisponível no trato intestinal. E aí, o que acontece é que, como essa é uma molécula de pouca solubilidade, para a gente seria muito difícil administrá-la por uma via sistêmica [que possibilita que o fármaco se espalhe pelo corpo], que é algo que a gente gostaria de fazer”, contou o professor Alex. Foi preciso, portanto, encontrar meios de torná-la mais biodisponível.

Nanotecnologia

Para resolver os problemas da biodisponibilidade e do meio de entrega do medicamento, os pesquisadores desenvolveram nanopartículas – cápsulas minúsculas, cerca de mil vezes menores que um fio de cabelo, feitas à base de proteína de milho e capazes de resistir aos ácidos do estômago e às enzimas intestinais para entregar o medicamento no intestino do paciente. Os resultados dos estudos em células são promissores e indicam que a nanopartícula pode ser utilizada mesmo com moléculas lipossolúveis e que, uma vez que ela chegue ao intestino, pode aderir ao local, e ir liberando aos poucos o medicamento para a corrente sanguínea.

“A gente teria uma ferramenta para trabalhar uma colite, com uma nanopartícula entregando o corticoide naquele contexto intestinal. E ali, ele pode ficar por mais tempo para desempenhar a sua ação anti-inflamatória de uma forma equivalente ao que se espera numa aplicação tópica [na pele] ou inalatória, só que agora lá no intestino”, resumiu o professor Alex.

Essa etapa da pesquisa contou com a parceria de pesquisadores da Universidade do Porto, de Portugal. Como o grupo não dispõe dos equipamentos e a infraestrutura necessária para a produção das nanopartículas, agora, busca por parcerias para poder realizar os testes com animais e dar continuidade ao projeto.

Todo o trabalho com o furoato de mometasona fez parte da pesquisa de doutorado de Priscila Laiz Zimath, realizada no Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da UFSC e na Universidade do Porto. O estudo durou cerca de cinco anos. “Eu diria que foi o trabalho mais longevo e mais complexo do grupo”, destacou o professor Alex.

“Se a gente tivesse condições de levar esse estudo para um contexto clínico [com pacientes humanos], seria, no mínimo, um potencial meio terapêutico para colites ou inflamações intestinais, como intestino irritável, algumas intolerâncias, enfim. E, potencialmente, pela via oral, estaria chegando alguma coisa na circulação que também promoveria alguma ação anti-inflamatória mais sistêmica, com menos efeito colateral”, concluiu o professor.

Acesse o resumo do artigo científico na revista Biochemical Pharmacology (em inglês).

Acesse o artigo científico completo na revista Drug Delivery and Translational Research (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal de Santa Catarina.

Fonte: Camila Raposo, Agecom/UFSC. Imagem: Priscila Laiz Zimath no laboratório. Fonte: Divulgação, UFSC.

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