Notícia

Terapia gênica pode transformar vida de pacientes com hemofilia

Estudo conduzido no Hemocentro da Unicamp foi publicado na revista científica ‘New England Journal  of Medicine’

Wikimedia Commons

Fonte

Jornal da Unicamp

Data

quinta-feira, 7 abril 2022 09:50

Áreas

Biologia. Biomedicina. Bioquímica. Estudo Clínico. Hematologia. Microbiologia. Terapia Genética.

Publicado recentemente na revista científica New England Journal of Medicine, o editorial assinado pela Dra. Courtney D. Thornburg – diretora médica do Centro de Trombose e Hemofilia do Rady Children’s Hospital de San Diego, nos Estados Unidos –, apresentou um estudo conduzido no Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) pela Dra. Margareth Ozelo, professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. O resultado é promissor: uma nova terapia gênica, denominada valoctocogene roxaparvovec, desponta como uma alternativa realmente transformadora para pacientes com hemofilia.

“Sistemas de saúde, formuladores de políticas públicas, seguradoras, médicos e demais representantes da sociedade devem começar a preparar o caminho para essa nova realidade”, afirmou a Dra. Courtney Thornburg em um retrospecto dos últimos 30 anos de pesquisas envolvendo o cuidado com terapia gênica de pessoas com hemofilia A (deficiência de fator VIII) e hemofilia B (deficiência de fator IX). O método atualmente utilizado consiste na introdução de um gene normal do fator VIII ou do fator IX em uma célula alvo dos pacientes, no caso as células do fígado, através de um vetor viral modificado, o vírus adeno-associado.

Em seu artigo, a pesquisadora explicou que o tratamento das pessoas com hemofilia A grave (fator VIII < 1%) é feito com a administração de medicamentos visando o aumento dos níveis de fator VIII e assim prevenir ou controlar os sangramentos. Tal profilaxia pode ser intravenosa, com administração de fator de coagulação, ou subcutânea, com aplicação do anticorpo emicizumabe. Apesar de oferecerem melhor qualidade de vida aos pacientes, com diminuição do sangramento, ambos os medicamentos têm alto custo e não impedem totalmente novos sangramentos  ou a artropatia crônica associada à dor, com consequente redução de mobilidade do paciente.

A Dra. Courtney Thornburg contou que o primeiro ensaio envolvendo a terapia gênica ocorreu em 1999, em pacientes com hemofilia B, pesquisa com a qual a professora Margareth Ozelo também colaborou. O primeiro caso bem-sucedido de transferência gênica mediada por vírus adeno-associado foi registrado em 2011 por um grupo de pesquisadores liderados pelo Dr. Amit Nathwani, da University College London, no Reino Unido. No caso da hemofilia A, o sucesso da terapia gênica foi mais lento, devido a desafios envolvendo o tamanho do gene do fator VIII e à dificuldade do seu empacotamento no vírus vetor. Foi preciso avançar para um tipo de tecnologia que possibilitasse um transgene menor e com maior expressão. Os ensaios da terapia gênica nos pacientes com hemofilia A, a partir da tecnologia AAV5-hFVIII-SQ (valoctocogene roxaparvove), tiveram início em 2015.

É neste cenário de uso da valoctocogene roxaparvove que se insere o estudo multicêntrico liderado pela Dra. Margareth Ozelo destacado na publicação mais recente da revista New England Journal of Medicine. Trata-se do maior estudo de terapia gênica para hemofilia A no mundo. Ao todo, 134 pacientes com hemofilia A grave foram submetidos a uma dose única da valoctocogene roxaparvovec (6×1013 genomas vetoriais por quilo de peso). Após o tratamento, os pacientes apresentaram, em sua grande maioria, níveis de fator VIII na faixa da hemofilia leve (5 a < 40 %) ou na faixa de não hemofilia (≥ 40%), com melhora do fenótipo de sangramento.

Como explicou a professora da FCM-Unicamp à revista, ainda é preciso uma avaliação adicional para determinar a durabilidade da resposta à terapia, bem como os preditores de resposta, considerações importantes para os pacientes na hora de se decidirem pela terapia gênica. “A segurança é uma consideração chave em qualquer nova terapia e uma enorme preocupação para uma população devastada por produtos sanguíneos contaminados por vírus na década de 1980 e início de 1990”, complementou a Dra. Thornburg em seu editorial.

Além do trabalho recentemente publicado, a Dra. Margareth Ozelo participa de outros quatro estudos de terapia gênica para hemofilia. Até o momento, 34 pacientes já receberam esse tipo de tratamento no Hemocentro da Unicamp. O Hemocentro da Unicamp é hoje um dos centros com maior número de pacientes tratados com esse tipo de terapia avançada no mundo.

Acesse o resumo do editorial (em inglês).

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unicamp.

Fonte: Camila Delmondes, Imprensa FCM-Unicamp. Imagem: Glóbulos vermelhos em rede de fibrina. Fonte: Wikimedia Commons.

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