Notícia

Vacinas personalizadas contra o câncer: novos avanços

Pesquisadores desenvolveram plataforma que permite que uma vacina contra o câncer seja entregue em um local preciso e estimule o sistema imunológico de maneira segura

Wikimedia Commons

Fonte

EPFL | Escola Politécnica Federal de Lausanne

Data

quarta-feira, 12 fevereiro 2020 10:30

Áreas

Entrega de Medicamentos. Imunologia. Oncologia. Vacinas.

As vacinas terapêuticas contra o câncer foram desenvolvidas pela primeira vez há 100 anos e permanecem amplamente ineficazes até o momento. Antes que resultados tangíveis possam ser alcançados, dois grandes obstáculos devem ser superados. Em primeiro lugar, como as mutações tumorais são únicas para cada paciente, os antígenos das células cancerígenas devem ser direcionados com extrema precisão, o que é muito difícil de alcançar. Em segundo lugar, é necessário um sistema seguro para entregar a vacina no local certo e obter uma resposta imune forte e específica.

A equipe do Dr. Li Tang, do Laboratório de Biomateriais para Imunologia da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), na Suíça, está apresentando uma solução para o problema de entrega localizada do fármaco. Os pesquisadores usaram uma técnica de polimerização chamada policondensação para desenvolver um protótipo de vacina que pode viajar automaticamente para o local desejado e ativar as células imunes. A técnica patenteada foi testada com sucesso em camundongos e é o tema de um artigo publicado na revista científica ACS Central Science. O Dr. Li Tang também co-fundou uma startup chamada PepGene, com parceiros que estão trabalhando em um algoritmo para prever com rapidez e precisão os antígenos de tumores mutados. Juntas, as duas técnicas devem resultar em uma nova e melhor vacina contra o câncer nos próximos anos.

Ajudando o corpo a se defender

A maioria das vacinas – contra sarampo e tétano, por exemplo – é preventiva. Indivíduos saudáveis ​​são inoculados com partes enfraquecidas ou inativas de um vírus, que levam seu sistema imunológico a produzir anticorpos. Isso prepara o corpo para se defender contra infecções futuras.

No entanto, o objetivo de uma vacina terapêutica contra o câncer não é prevenir a doença, mas ajudar o corpo a se defender de uma doença que já está presente. “Existem vários tipos de imunoterapias além das vacinas, mas alguns pacientes não respondem bem a elas. A vacina pode ser combinada com essas imunoterapias para obter a melhor resposta imune possível ”, explicou o Dr. Li Tang. Outra vantagem é que as vacinas devem reduzir o risco de recaída.

Mas como tudo isso funciona?

Evitando se perder na corrente sanguínea

A entrega de uma vacina contra o câncer ao sistema imunológico envolve vários estágios. Primeiro, o paciente é inoculado com a vacina por via subcutânea. A vacina viaja assim para os gânglios linfáticos, onde há muitas células imunológicas. Uma vez lá, a vacina deve penetrar nas células dendríticas, que funcionam como uma espécie de mecanismo de alerta. Se a vacina as estimular corretamente, as células dendríticas apresentam antígenos específicos para as células T que combatem o câncer, um processo que ativa e treina as células T para atacá-las.

O procedimento parece simples, mas é extremamente difícil de colocar em prática. Por serem muito pequenos, os componentes de uma vacina tendem a se dispersar ou ser absorvidos na corrente sanguínea antes de atingir os linfonodos.

Para superar esse obstáculo, o Dr. Li Tang desenvolveu um sistema que liga quimicamente as partes da vacina para formar uma entidade maior. A nova vacina, chamada Neoepitope policondensado (PNE), consiste em neoantígenos (antígenos mutantes específicos do tumor a ser atacado) e um adjuvante. Quando combinados dentro de um solvente, os componentes se ligam naturalmente, formando uma entidade que é muito grande para ser absorvida pelos vasos sanguíneos e que viaja naturalmente para os linfonodos.

Uma vez dentro de uma célula dendrítica, os componentes da vacina se separam novamente. Isso permite que a célula dendrítica apresente os antígenos certos para as células T, causando uma poderosa resposta imune. “Esta nova vacina, combinada com uma análise altamente avançada dos neoantígenos de cada paciente, deve permitir que o sistema imunológico de pacientes com câncer seja ativado de maneira personalizada e segura”, explica o Dr. Li Tang.

A equipe ainda está aperfeiçoando o estágio em que os antígenos específicos do tumor são detectados. “Este estágio de identificação é vital. Como esses neoantígenos não estão presentes em células saudáveis, a identificação precisa nos permitirá atingir células tumorais com muita precisão, sem qualquer toxicidade para tecidos saudáveis”, conclui oDr. Li Tang.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia na página da EPFL (em inglês).

Fonte: Laure-Anne Pessina, Escola Politécnica Federal de Lausanne. Imagem: Fotografia tridimensional de uma célula de câncer de mama, feita por um microscópio eletrônico de varredura. Fonte: Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, Wikimedia Commons.

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