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Reprogramação celular em pacientes que tiveram sepse ajuda a explicar complicações após a alta hospitalar
Estudo publicado na revista científica Frontiers in Immunology sugere que a sepse pode provocar alterações no funcionamento das células de defesa que persistem mesmo após a alta hospitalar. Segundo os autores, essa reprogramação celular pode estar associada à chamada síndrome pós-sepse, cujos sintomas incluem reinfecções frequentes, alterações cardiovasculares, deficiências cognitivas, declínio do funcionamento físico e baixa qualidade de vida. O fenômeno explicaria por que boa parte dos indivíduos que sobrevivem à doença morre poucos anos depois ou desenvolve incapacidades de longo prazo, ficando com a função imunológica prejudicada e um estado de inflamação crônica.
Considerada uma das principais causas de morte em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no mundo, a sepse é uma disfunção orgânica sistêmica que ocorre em resposta a um agente infeccioso. É provocada, principalmente, por bactérias e fungos. O sistema de defesa passa a combater não só esse agente, mas também o próprio organismo, gerando disfunção dos órgãos.
Quando não é reconhecida e tratada precocemente, pode levar ao choque séptico e falência múltipla dos órgãos. Pessoas gravemente afetadas pela COVID-19 e outras doenças infecciosas têm maior risco de desenvolver e morrer pela infecção generalizada.
Estima-se que sejam registrados cerca de 49 milhões de novos casos de sepse ao ano em todo o mundo. A mortalidade hospitalar desses pacientes é superior a 40%, chegando a 55% no Brasil, de acordo com o estudo Spread (sigla em inglês para Sepsis Prevalence Assessment Database), realizado com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
No artigo publicado, os pesquisadores apresentam uma lista de estudos realizados e os números de óbitos registrados em até cinco anos após a alta hospitalar.
“A infecção maciça e a intensa resposta imunológica que a acompanha com grande aumento da concentração de citocinas [proteínas inflamatórias] no sangue durante a sepse podem promover a reprogramação metabólica celular irreversível. É improvável que a reprogramação celular ocorra apenas em leucócitos ou na medula óssea, podendo ser registrada em vários tecidos e células. E isso leva a disfunções orgânicas sistêmicas”, escreveram os pesquisadores no artigo.
A biomédica Dra. Raquel Bragante Gritte, que divide a primeira autoria do artigo com a Dra. Talita Souza-Siqueira, diz que uma das hipóteses estudadas pelo grupo é que a reprogramação metabólica começa na medula óssea, fazendo com que as células tenham um perfil pró-inflamatório. “Quando coletamos o sangue dos pacientes, mesmo depois de três anos da alta da UTI, verificamos que os monócitos [um tipo de célula de defesa] estavam ativados, prontos para a batalha, sendo que deveriam estar neutros, com ativação somente quando fossem ‘recrutados’ para o tecido”, afirmou a Dra. Raquel Gritte, em entrevista à Agência FAPESP.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.
Fonte: Luciana Constantino, Agência FAPESP.
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