Notícia

Ameaça oculta: o aumento de patógenos fúngicos mortais

Infecções fúngicas representam um risco crescente para a saúde humana em todo o mundo

Laboratório da Dra. Mira Edgerton na Universidade Estadual de Nova York em Buffalo/NIH Image Gallery via Flickr

Fonte

UNSW | Universidade de Nova Gales do Sul

Data

quarta-feira, 31 janeiro 2024 13:55

Áreas

Biologia. Biotecnologia. Doenças Infecciosas. Engenharia Biológica. Farmacologia. Imunologia. Micologia. Microbiologia. Patologia. Química Medicinal. Saúde Pública.

Pensar em fungos provavelmente evoca imagens de cogumelos selvagens ou de uma massa fermentada. Mas pesquisadores da área de Micologia – que estuda os fungos – há muito alertam que os fungos podem ter um lado extremamente problemático. Embora seja improvável a ocorrência de uma pandemia, os cientistas estão preocupados com o aumento das taxas e da gravidade das infecções fúngicas invasivas em todo o mundo.

“Os fungos têm sido historicamente negligenciados na pesquisa das doenças infecciosas”, disse a Dra. Megan Lenardon, microbiologista e professora da Escola de Biotecnologia e Ciências Biomoleculares da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW), na Austrália. “Existem muitos patógenos com diferentes rotas de transmissão e muitos desafios com diagnósticos e terapias”.

Ameaça fúngica emergente

A ameaça dos patógenos fúngicos tem ganhado atenção mundial por parte dos órgãos de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde divulgou recentemente a sua primeira lista de vigilância de patógenos fúngicos prioritários – espécies de maior preocupação que requerem muita atenção.

A Dra. Megan Lenardon tem estudado a Biologia Celular e Molecular do fungo Candida albicans, que foi identificado como um dos quatro fungos de prioridade crítica. As espécies de Candida causam infecções não graves, como a candidíase, em dezenas de milhões de pessoas por ano. Mas mais preocupantes são as 700 mil infecções invasivas que podem matar pessoas, cerca de metade das quais são causadas por C. albicans.

“Nós os chamamos de patógenos fúngicos ‘invasivos oportunistas’ porque eles não matam pessoas saudáveis”, disse a Dr. Megan Lenardon. “Mas se eles se encontrarem em um hospedeiro suscetível, poderão matar”.

Alguns fungos, como o Aspergillus e o Cryptococcus, são inalados através de esporos que existem em todo o ambiente, mas que normalmente não são páreo para o sistema imunológico humano. Outros, como o C. albicans, colonizam o intestino de indivíduos saudáveis, mas a barreira física entre a corrente sanguínea, a microbiota intestinal e o sistema imunológico ativo é geralmente suficiente para prevenir infecções.

Mas quando estas defesas estão comprometidas, a pessoa pode ficar vulnerável a infecções. Em pessoas imunocomprometidas, o fungo C. albicans pode escapar do intestino, circular pelo sangue e invadir órgãos.

“Infecções fúngicas graves representam um risco maior para pessoas com problemas de saúde subjacentes. Pessoas com câncer ou HIV, receptores de transplantes de órgãos e pacientes em cuidados intensivos estão entre aqueles que são mais vulneráveis à infecção”, disse a pesquisadora.

Embora a probabilidade de adquirir uma infecção fúngica grave seja rara, a infecção costuma ser mortal. Pelo menos 40% das infecções sistêmicas por C. albicans são fatais, apesar da disponibilidade de antifúngicos. Em comparação, uma infecção bacteriana crítica como com o Staphylococcus aureus mata em cerca de 25% dos casos.

De acordo com novas estimativas, anualmente ocorrem 6,5 milhões de infecções invasivas e 3,8 milhões de mortes em todo o mundo associadas a doenças fúngicas graves. “O número de mortes por infecções fúngicas também é provavelmente subnotificado. Normalmente, algum problema de saúde existente é registrado como causa da morte quando a infecção fúngica foi a responsável”, destacou a Dra. Megan.

Resistência ao tratamento antifúngico

Tal como a resistência aos antibióticos, também existe uma preocupação crescente com a resistência aos antifúngicos. O uso excessivo e indevido de medicamentos antifúngicos na agricultura e em ambientes de saúde pode desenvolver cepas resistentes, tornando as infecções mais difíceis de tratar.

“Quando a Candida auris surgiu pela primeira vez em ambientes de saúde no final dos anos 2000, já era resistente aos medicamentos”, disse a Dra. Megan Lenardon. “Vemos cada vez mais resistência na clínica aos tratamentos antifúngicos existentes, por isso a gestão antifúngica é crucial”.

Infecções fúngicas graves também podem ser difíceis de diagnosticar pelos médicos. Os sintomas podem variar drasticamente entre os tipos de fungos e muitas vezes se apresentam como infecções bacterianas. “Portanto, o tempo para o diagnóstico é um problema e não há muitos micologistas clínicos especializados”, disse a especialista.

A probabilidade de futuras pandemias fúngicas

Apesar disso, a Dra. Megan Lenardon disse que é improvável um surto de fungos atingindo os seres humanos nesta fase. Uma razão é porque os patógenos fúngicos mais graves que afetam as pessoas geralmente não são transmissíveis de humanos para humanos.

No entanto, algumas infecções fúngicas contagiosas ocorrem em outras espécies animais, como a síndrome causada pelo fungo Pseudogymnoascus destructans, que dizima populações de morcegos. “Mesmo que neste momento nenhum fungo possa causar uma pandemia como a da COVID-19, não devemos ser complacentes. As doenças fúngicas emergentes ainda representam um risco significativo, especialmente porque se espera que o número de pessoas em risco de infecção aumente”, reforçou a pesquisadora.

Como boa notícia, a maioria das espécies de fungos não consegue sobreviver à temperatura do corpo humano. No entanto, existem alguns receios de que, à medida que o mundo continua a aquecer devido às alterações climáticas, alguns fungos possam ser capazes de se adaptar para superar a barreira da temperatura.

“Os fungos podem evoluir para resistir a temperaturas mais elevadas, o que significa que poderemos ver o surgimento de espécies que possam sobreviver em nossos corpos”, disse a Dra. Megan. “No entanto, o risco global de uma pandemia ainda é provavelmente relativamente baixo e estes agentes patogênicos ainda teriam de passar pelo nosso sistema imunológico”.

Mas a pesquisadora disse que não estamos preparados para lidar com uma pandemia fúngica, caso esta surja em um futuro próximo. São necessárias pesquisas mais coordenadas para atentar às ameaças emergentes, o que exige mais investimento: “Fortalecer as redes de vigilância é fundamental para identificar quaisquer ameaças potenciais de fungos antes que elas surjam. Também precisamos desesperadamente de mais financiamento para atender à necessidade clínica urgente de melhores diagnósticos e novas terapias”, concluiu a Dra. Megan Lenardon.

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Nova Gales do Sul (em inglês).

Fonte: Ben Knight, UNSW. Imagem: fungo patógeno oral Candida albicans (em vermelho) produz hifas que permitem a fixação de outro fungo, o Candida glabrata (em verde): as células de levedura de Candida glabrata (verde) aderem às hifas do Candida albicans (vermelho) tanto em cultura estática (à esquerda, em imagem de microscopia eletrônica de varredura) quanto sob condições de fluxo de biofilme (à direita, em imagem de microscopia de fluorescência confocal). Fonte: Laboratório da Dra. Mira Edgerton na Universidade Estadual de Nova York em Buffalo/NIH Image Gallery via Flickr.

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