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Cientistas alertam contra o uso de paracetamol por mulheres grávidas
Declaração de consenso, publicada recentemente na revista científica ‘Nature Reviews Endocrinology’, foi apoiada por 91 pesquisadores, entre médicos e especialistas em saúde pública em todo o mundo
Daniel Reche via Pexels
Uma equipe de 13 cientistas – incluindo um especialista da Escola de Saúde Pública da Universidade Yale, nos Estados Unidos – está alertando contra o uso de analgésicos com paracetamol por mulheres grávidas, citando um crescente corpo de pesquisas que sugere que a droga pode alterar o desenvolvimento fetal.
A declaração de consenso, que foi publicada recentemente na revista científica Nature Reviews Endocrinology, foi apoiada por 91 pesquisadores, entre médicos e especialistas em saúde pública em todo o mundo. De acordo com os pesquisadores, o paracetamol pode ser pelo menos parcialmente responsável pelo aumento das taxas de distúrbios reprodutivos masculinos e problemas cognitivos, de aprendizagem e comportamentais entre as crianças nos últimos anos.
“Nosso laboratório foi um dos primeiros a relatar um efeito potencialmente prejudicial do paracetamol no desenvolvimento do cérebro fetal em um grande estudo de coorte longitudinal com humanos. É hora de levar a sério o crescente corpo de evidências e considerar medidas de precaução”, disse o Dr. Zeyan Liew, professor da Escola de Saúde Pública de Yale e um dos autores da publicação.
O paracetamol é um composto químico comumente usado para aliviar a dor e a febre leves a moderadas e pode ser encontrado em marcas de venda livre; é o ingrediente ativo em mais de 600 medicamentos. As autoridades governamentais na Europa e nos Estados Unidos há muito consideram o paracetamol como de risco mínimo para o uso na gravidez, mas as preocupações com os potenciais efeitos adversos em crianças expostas no pré-natal aumentaram nos últimos anos. Estima-se que até 50% a 60% das mulheres nos Estados Unidos usaram esse medicamento durante a gravidez, de acordo com os estudos mais recentes.
A Escola de Saúde Pública de Yale já contribuiu com pesquisas publicadas que levantam questões sobre a segurança do medicamento. Esta pesquisa inclui uma série de estudos epidemiológicos que relacionaram a ingestão de paracetamol na gravidez com um risco aumentado de transtornos de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), bem como função cognitiva e executiva prejudicada ao analisar a ingestão detalhada de medicamentos para gravidez. Os dados de uma coorte longitudinal dinamarquesa incluíram mais de 60.000 mães e crianças. Uma replicação dos resultados para a associação observada entre a ingestão materna de paracetamol e TDAH na infância também foi realizada, usando uma coorte nacional de enfermeiras e seus filhos nos Estados Unidos.
O paracetamol foi comercializado pela primeira vez nos Estados Unidos em 1950, e o consumo generalizado começou na década de 1980, quando as vendas superaram as da aspirina. Apesar do amplo uso, precisamente como o paracetamol fornece seus efeitos terapêuticos ainda não está claro. Preocupado com a possibilidade de dano hepático agudo, a agência de regulação Food and Drug Administration (FDA) dos EUA limitou os produtos de prescrição cominada contendo paracetamol para adultos a não mais do que 325 mg por comprimido por cápsula. Em 2015, o FDA revisou os relatórios sobre a segurança de medicamentos prescritos e de venda livre para a dor, incluindo paracetamol, quando usados durante a gravidez. O FDA concluiu que mais evidências são necessárias e que as recomendações sobre como os analgésicos são usados durante a gravidez permanecem as mesmas, ao mesmo tempo que sugere que as mulheres grávidas devem sempre consultar o seu profissional de saúde antes de tomar qualquer prescrição ou medicamento.
Em sua declaração, os 91 cientistas pedem medidas de precaução não apenas para abordar os potenciais efeitos prejudiciais do paracetamol no desenvolvimento do bebê, mas também preencher lacunas de conhecimento nas pesquisas existentes. Eles recomendam que as mulheres abandonem o uso do medicamento, a menos que haja indicação médica, e que devem minimizar o risco usando a menor dose eficaz pelo menor tempo possível. Idealmente, eles escrevem, as embalagens de medicamentos contendo paracetamol devem incluir rótulos de advertência que informam os usuários sobre esse conselho.
Do Brasil, assinam e apoiam o documento de consenso os pesquisadores: Dr. Francisco Paumgartten (Fiocruz), Dra. Wilma de Grava Kempinas (Unesp Botucatu), Dra. Daniela Ceccatto Gerardin (UEL), Dra. Estefania Moreira (UEL), Dra. Eliane Dallegrave (UFCSPA), Dra. Graziela Ceravolo (UEL) e Dr. Anderson Andrade (UFPR).
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse o material suplementar publicado (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Escola de Saúde Pública da Universidade Yale (em inglês).
Fonte: Ivette Aquilino, Universidade Yale. Imagem: Daniel Reche via Pexels.
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