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Cientistas da UFRJ descobrem que proteína guardiã também pode ser vilã em casos de câncer

Estudo também pode beneficiar tratamento de doenças como Parkinson, Alzheimer e Esclerose Lateral Amiotrófica

Richard Wheeler (Zephyris) via Wikimedia Commons

Fonte

UFRJ | Universidade Federal do Rio de Janeiro

Data

sábado, 26 junho 2021 07:00

Áreas

Biologia. Bioquímica. Oncologia.

Cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram um fenômeno relacionado com mutações de uma proteína protetora do código genético que pode explicar o surgimento de mais da metade dos tumores malignos no mundo. O estudo foi coordenado pelo Dr. Jerson Lima Silva, professor titular do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ), biofísico e presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). A descoberta pode apontar novos caminhos para o diagnóstico e para o tratamento do câncer, além de outras enfermidades.

O trabalho envolve pesquisas sobre alterações na proteína chamada P53, considerada “guardiã do genoma humano”, ou seja, é a segurança de toda informação hereditária dos seres. O estudo inédito foi publicado na revista científica Chemical Science.

Envolvida em centenas de processos essenciais do corpo humano, a proteína P53 tem como função principal preservar a integridade do código genético em cada célula, ou seja, a manutenção da mesma sequência ao longo de toda a molécula de DNA.  Quando há divisão celular, a proteína verifica se houve mutação na sequência do código genético, fato decorrente de uma duplicação defeituosa do DNA. Caso tenha ocorrido alguma alteração, é função da P53 impedir que a divisão celular se complete.

No entanto, quando essa proteína sofre deformações, ela perde sua função protetora e ganha a capacidade de se aglomerar, resultando no surgimento de estruturas celulares cancerígenas. Os agregados malignos da P53 acontecem devido à transição de fase da proteína P53 mutada, que passa do seu estado líquido para gel e, em seguida, para o sólido. Dessa forma, eles se tornam irreversíveis, iniciando, assim, a multiplicação e o surgimento de tumores.

Os pesquisadores focaram seus estudos no nível molecular da proteína e, com a ajuda de tecnologia de ponta, como a microscopia eletrônica de transmissão, a espectroscopia de ressonância magnética nuclear e a microscopia de fluorescência, conseguiram analisar cada etapa da sequência de eventos que dão origem aos anômalos.

A pesquisa, que recebeu apoio financeiro da FAPERJ e do CNPq, abre possibilidades futuras para um possível tratamento do câncer, poderá ajudar a esclarecer o processo de formação dos tumores e auxiliar no desenvolvimento de novas ferramentas para exame e diagnóstico precoce e prognóstico da doença.

Segundo os pesquisadores, a análise dos aglomerados já revelou que algumas substâncias impedem a agregação da P53, outras desfazem os agregados, e essas observações podem contribuir para o desenvolvimento de medicamentos que evitem os aglomerados. O desafio será conseguir evitar os agregados sem prejudicar as funções da P53. Devido às suas múltiplas e fundamentais funções, a P53 alterada também está envolvida em outras doenças, como o mal de Parkinson, o Alzheimer e a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).

Segundo o professor Jerson Lima, o estudo da P53 começou em seu laboratório em 2003 com participação de alunos de mestrado, doutorado, pós-doutorado e colaboradores. No atual trabalho, contribuíram muitos pesquisadores, entre eles a Dra. Elaine Petronilho e o Dr. Murilo Pedrote, bem como os professores Dr. Guilherme de Oliveira e Dra. Yraima Cordeiro.

Mas não é só para o combate ao câncer que as descobertas têm relevância. A luta contra outras doenças também será beneficiada. “O fato de mais de 50% dos tumores malignos possuírem mutação de P53 torna a mudança de fase dentro da célula da proteína e consequente agregação um alvo perfeito para terapias. Se nenhuma nova terapia for desenvolvida, o câncer associado às mutações na proteína P53 levará à morte de mais de meio bilhão de pessoas nas próximas décadas”, concluiu o Dr. Jerson Silva.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia na página da UFRJ.

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