Notícia

Cientistas identificam alvo para tratamento da esclerose múltipla a partir de veneno de cascavel

Utilização da toxina evitou a doença em 40% dos modelos animais, reduziu a dor e preveniu a atrofia e perda da função muscular

Marília Ruberti, Comunicação Butantan

Fonte

Instituto Butantan

Data

quinta-feira, 30 maio 2024 16:50

Áreas

Biologia. Biomedicina. Bioquímica. Biotecnologia. Desenvolvimento de Fármacos. Envelhecimento. Microbiologia. Neurociências. Química Medicinal. Saúde Pública.

Com o auxílio de uma proteína do veneno da cascavel, pesquisadores do Instituto Butantan identificaram um novo alvo para tratamento da esclerose múltipla: o neurotransmissor acetilcolina.

Um estudo em modelos animais, publicado na revista científica Brain, Behavior and Immunity, mostrou que o composto obtido da peçonha, chamado crotoxina, evitou o desenvolvimento da doença em 40% da amostra tratada. Aqueles que não ficaram doentes apresentaram níveis aumentados de genes para receptores onde a acetilcolina atua, enquanto os doentes tiveram estes genes suprimidos. Isso significa que a regulação da via da acetilcolina pode ser importante no controle da esclerose múltipla. A pesquisa, que traz uma nova perspectiva sobre o tratamento da doença, está em estágio inicial e ainda não há previsão de se tornar um produto.

“A acetilcolina é um neuromodulador do sistema nervoso central. Nós vimos que alguns receptores nessa via estavam diminuídos nos modelos animais que tiveram a doença, e aumentados naqueles tratados com crotoxina. Dados da literatura já mostravam uma diminuição de acetilcolina em pacientes com esclerose múltipla”, afirmou a Dra. Gisele Picolo, diretora do Laboratório de Dor e Sinalização do Instituto Butantan e responsável pela pesquisa.

A etapa seguinte foi buscar um medicamento existente que pudesse regular essa mesma via, uma vez que a proteína do veneno é neurotóxica e não pode ser usada clinicamente. Os cientistas, então, testaram um fármaco já comercializado contra Alzheimer, que inibe a degradação da acetilcolina. O composto também se mostrou eficaz para tratar modelos animais de esclerose múltipla. Apesar de não interferir na expressão dos receptores, o medicamento aumenta o tempo de ação da acetilcolina, ampliando sua atuação no sistema nervoso central.

“Atuando em vias semelhantes às reguladas pela crotoxina, a substância melhorou parâmetros como dor, comprometimento motor e neuroinflamação”, explicou a Dra. Gisele. A validação do alvo terapêutico fez parte do projeto de iniciação científica desenvolvido pela aluna Letícia Ferreira Carvalho Corcino, estudante de Ciências Biológicas e Farmácia na Universidade Paulista, no Laboratório de Dor e Sinalização do Butantan.

Os pesquisadores também testaram a crotoxina envolvida em uma nanoestrutura de sílica, desenvolvida pelo grupo do pesquisador Dr. Osvaldo Brazil Sant’Anna. A nanopartícula reduziu a toxicidade da substância, que pôde ser aplicada com segurança em uma dosagem única e mais alta, e aumentou seu efeito terapêutico. Além de reduzir a dor, o tratamento preveniu a atrofia e a perda da função muscular nos animais.

A proteína presente no veneno da cascavel é estudada pelo Butantan há mais de 20 anos. Testes em modelos animais já haviam demonstrado diversos benefícios da substância, como reduzir a inflamação de sepse, inibir a proliferação de células tumorais e aumentar a resposta do sistema imune ao câncer.

A equipe do Laboratório de Dor e Sinalização, atualmente liderada pela Dra. Gisele Picolo, se dedica à busca de novas moléculas que possam ajudar a desenvolver medicamentos para o controle da dor crônica, de diferentes causas. A esclerose múltipla é uma dessas causas: a doença provoca um comprometimento motor generalizado, que também leva a um processo de dor crônica.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Instituto Butantan.

Fonte: Aline Tavares, Instituto Butantan. Imagem: Dra. Gisele Picolo no Laboratório de Dor e Sinalização do Instituto Butantan. Fonte: Marília Ruberti, Comunicação Butantan.

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