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Casos da febre do oropouche aumentaram quase 200 vezes neste ano comparados à última década

Fonte

Agência FAPESP

Data

domingo. 4 agosto 2024 11:45

A epidemia atual de febre do oropouche é causada por uma nova variante do arbovírus OROV capaz de se replicar até cem vezes mais do que a original e de evadir parte da resposta imune. As conclusões são de um estudo divulgado em versão pre-print (artigo sem revisão por pares) no repositório medRxiv.

A febre do oropouche faz parte do rol de doenças negligenciadas, como a malária e outras arboviroses (dengue, por exemplo). É transmitida por moscas hematófagas da espécie Culicoides paraensis e causa dor de cabeça, artralgia, mialgia, náusea, vômito, calafrios e fotofobia – mas também pode levar a complicações mais graves, como hemorragia, meningite e meningoencefalite.

Apesar de documentada na América do Sul desde a década de 1950, a doença apresentou um aumento substancial de casos entre novembro de 2023 e junho de 2024 no Brasil, Bolívia, Colômbia e Peru. Em território nacional, foram detectadas infecções autóctones em áreas anteriormente não endêmicas nas cinco regiões, com casos relatados em 21 unidades federativas e aumento de quase 200 vezes na incidência em comparação com a última década.

Para investigar os fatores virológicos por trás desse ressurgimento, pesquisadores combinaram dados genômicos, moleculares e sorológicos de OROV do período entre 1º de janeiro de 2015 e 29 de junho de 2024, além de caracterização in vitro e in vivo, em um estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Participaram do estudo pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade do Kentucky e da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), além do Imperial College de Londres, no Reino Unido, e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O primeiro passo foi testar por PCR um grupo de 93 pacientes do Amazonas com doença febril não identificada e negativos para Malária, entre dezembro de 2023 e maio de 2024. O resultado foi positivo para OROV em 10,8% dos casos e, posteriormente, foi isolado o soro de sete pacientes em culturas de células.

Em seguida, esses isolados foram usados para avaliar a capacidade replicativa em diferentes células – de primatas e humanos – sempre em comparação com um isolado antigo de OROV. Por fim, foi avaliada a capacidade de ambos os vírus serem neutralizados por anticorpos presentes no soro de camundongos previamente infectados com o OROV e de humanos convalescentes para linhagens anteriores, infectados até 2016. Para isso, foi feito um teste de neutralização por redução de placas (PRNT50), que mede a redução do número de partículas virais viáveis formadas após a incubação com diferentes diluições do soro dos pacientes ou de camundongos.

“Percebemos que o novo OROV apresenta replicação aproximadamente cem vezes maior em comparação com o protótipo”, explicou Gabriel C. Scachetti, doutorando e pesquisador do Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (LEVE) da Unicamp e um dos autores do estudo. “Além disso, produziu 1,7 vez mais placas, de tamanhos 2,5 vezes maiores, um indício de maior virulência.”

“Também infectamos camundongos com as duas cepas e vimos que o vírus antigo não protege contra o novo – a redução na capacidade de neutralização foi de pelo menos 32 vezes”, completou Julia Forato, também coautora do estudo e mestranda no LEVE.

Acesse o estudo publicado no repositório medRxiv.

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Julia Moióli, Agência FAPESP.

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