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Coleção de Fungos da Fiocruz completa 100 anos de história
Final de 1922. O cientista Olympio da Fonseca Filho retornava ao Brasil após se especializar em micologia [estudo dos fungos] nos Estados Unidos. Consigo, desembarcava um acervo com mais de 800 exemplares desses organismos que daria origem a atual Coleção de Culturas de Fungos Filamentosos (CCFF) do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Nos últimos dias de 2022, quando celebrou seu primeiro centenário, a CCFF manteve viva não apenas milhares de amostras conservadas nos armários do Pavilhão Rocha Lima, no campus Manguinhos-Maré da Fiocruz (RJ), como também a visão inovadora de encontrar nos fungos as mais distintas formas de contribuição para a sociedade.
“Tudo começou quando Carlos Chagas – então diretor do IOC – enviou Olympio da Fonseca para estudar micologia no exterior. O jovem médico retornou ao país não apenas com novos conhecimentos, mas também com um amplo acervo, que no decorrer de 100 anos foi mantido por curadores que adaptaram seu uso ao longo do tempo conforme as necessidades vigentes da comunidade científica”, contou a Dra. Aurea Maria Lage de Moraes, atual curadora da Coleção e chefe do Laboratório de Taxonomia, Bioquímica e Bioprospecção de Fungos do IOC/Fiocruz.
Em constante processo de manutenção e renovação, a Coleção preserva atualmente centenas de espécies de fungos filamentosos, com suas características biomorfológicas e genéticas originais, mantidas em técnicas de óleo mineral estéril, liofilização e criopreservação – a depender da necessidade de cada organismo.
“Aqui temos um testemunho das fases científicas não apenas da instituição, como também do país. Conseguimos ver as mudanças nos temas de interesse que predominavam nas diferentes épocas através dos depósitos das amostras e, ainda, vemos a evolução tecnológica por meio dos métodos de conservação”, destacou a Dra. Aurea.
As cepas depositadas na CCFF são provenientes do solo, ar, material vegetal, animal e humano e possuem representação geográfica variada, com predomínio da América do Sul. De acordo com a curadora, a diversidade do material é um reflexo da expansão nos conceitos da micologia.
“Os primeiros exemplares reunidos por Olympio da Fonseca eram oriundos de alimentos, que também era a especialidade de Charles Thom, com quem Olympio se especializou em micologia. Em seguida, a Coleção teve um período no qual o depósito de amostras clínicas predominava. Mais recentemente, os depósitos passaram a ter origens diversas”, descreveu a curadora.
Prestação de serviço que perpassa gerações
“A prestação de serviços faz parte da história da Coleção de Fungos do IOC, mesmo antes da sua consolidação. Cepas eram fornecidas a laboratórios ainda quando Olympio reunia amostras para seu acervo durante viagens pela América do Norte e Europa. O fornecimento de material biológico é um serviço que prestamos até os dias atuais, agora de forma institucionalizada”, comentou a Dra. Simone Quinelato Bezerra, curadora adjunta da Coleção.
Outros serviços que fazem parte da rotina da CCFF são caracterização taxonômica, isolamento, identificação e autenticação de fungos, assessoramento técnico-científico, fornecimento de procedimentos, consultoria e formação de recursos humanos. “A Coleção não é apenas um local para depósito de espécimes. Aqui se trabalha com os diferentes potenciais do nosso material biológico nos campos da ciência, educação, gestão e, mais recentemente, em projetos ligados à biotecnologia. Aqui se produz ciência”, destacou a Dra. Simone.
Vilões ou ‘mocinhos’?
Na laranja estragada ou no jardim de casa. Na floresta ou em pratos de restaurantes. Agente etiológico de micoses em praias ou aliado na produção de medicamentos. Os fungos estão por toda parte e possuem grande diversidade.
“Eles podem ser microscópicos, visíveis através de algum instrumento com lente de aumento, como o mofo que dá na laranja, ou macroscópicos, como cogumelos que aparecem no jardim. Os dois são fungos, porém pertencem a famílias e tipos diferentes”, explicou a Dra. Aurea.
Os fungos fazem parte de um grupo tão amplo e único que possuem classificação própria entre os cinco reinos da biologia: o Reino Fungi. No entanto, nem sempre foi assim. Os fungos já estiveram classificados junto com plantas, o que ainda causa confusão no senso comum. “Até o final da década de 1960, eles eram definidos como parte do Reino Plantae. Porém, são organismos com características próprias. Não são animais, nem plantas”, explicou a curadora.
Apesar de comumente serem lembrados por causa de espécies tóxicas, que causam doenças ou que estão relacionadas à degradação, os fungos estão presentes no cotidiano humano, geralmente de forma benéfica. “Ainda em um período não muito distante, quando se falava em fungo na divulgação científica, era devido a doenças de pele, micoses e alergias provocadas por algumas espécies. Quase não havia difusão de informação sobre o fato de também serem amplamente usados nas indústrias alimentícia, farmacêutica e têxtil, por exemplo”, frisou a Dra. Aurea.
Acesse a reportagem completa na página da Fiocruz.
Fonte: Max Gomes, IOC/Fiocruz.
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