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Comércio internacional: competição acirrada entre fabricantes de antibióticos da China e da Índia
Nos últimos 20 anos, a concorrência entre fabricantes chineses e indianos de ingredientes-chave usados na fabricação de antibióticos se intensificou, resultando em disputas comerciais e investigações antidumping.
O mercado tornou-se concentrado, com a maioria dos principais produtores de ingredientes para antibióticos localizados na China. “Na Índia, muitos produtores de ingredientes para antibióticos fecharam suas fábricas porque não conseguem competir com os produtores chineses”, disse Lise Bjerke, doutoranda no Departamento de Medicina Comunitária e Saúde Global da Universidade de Oslo, na Noruega.
A Índia está acusando a China de dumping no mercado indiano em relação a ingredientes para antibióticos
“Os produtores indianos têm acusado os produtores chineses de invadir o mercado indiano com ingredientes para antibióticos, vendendo ingredientes a preços excessivamente baixos e criando concorrência desleal”, explicou a Dra. Mingyuan Zhang, pós-doutoranda e colega de Lise Bjerke.
Dumping é um termo utilizado no comércio internacional, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), que descreve uma situação em que um fabricante exporta um produto para outro país a um preço abaixo do normal, causando discriminação de preços, concorrência desleal e prejuízos à produção local. “A mão de obra barata e a infraestrutura na China tornam os preços dos ingredientes para antibióticos mais baixos do que o custo de produção se fossem produzidos em outros países, possibilitando a exportação de ingredientes a um preço muito baixo”, disse a Dra. Mingyuan Zhang.
Disputas comerciais no mercado global de antibióticos
China e Índia são os grandes players no mercado de antibióticos hoje. O mundo é altamente dependente da importação de antibióticos e ingredientes para antibióticos de ambos os países. A China é o principal produtor de ingredientes antibióticos ativos. A Índia é o principal produtor de antibióticos globalmente, mas é altamente dependente de ingredientes chineses para produzir esses medicamentos.
“No novo estudo, desvendamos as relações e disputas comerciais dentro do comércio de antibióticos entre os dois países, pois essas relações são essenciais para o fornecimento global de antibióticos”, disse Bjerke.
“Analisando as disputas comerciais entre China e Índia, descobrimos que essas disputas fornecem um espaço para comunicação e contestação”, disse Mingyuan Zhang. “Partes com conflitos de interesse de ambos os países usaram, ou às vezes até manipularam, fatos objetivos sobre ingredientes farmacêuticos para fortalecer os argumentos de ambos os lados das disputas”, continuou a pesquisadora.
Interesses comerciais da Índia e da China sobre os antibióticos são complexos e interligados
“Os interesses da China e da Índia no comércio de antibióticos eram extremamente complexos. Embora estivessem tentando se separar devido a interesses nacionalistas e corporativos, eles estavam lidando com questões interligadas e conectadas dentro do comércio de antibióticos”, disse a pós-doutoranda.
Muitas vezes não havia uma divisão clara entre os países e seus interesses. Várias partes com conflitos de interesse de ambos os países estiveram envolvidas em todas as cadeias de suprimentos de antibióticos. “Isso dificulta o rastreamento do fluxo e o monitoramento da produção de antibióticos e insumos farmacêuticos”, destacou Mingyuan Zhang.
Antropólogos exploraram novos métodos de pesquisa durante a pandemia
“Durante a pandemia, não pude fazer trabalho de campo presencial ou entrevistas com profissionais da indústria farmacêutica na China. Tive que encontrar métodos alternativos para estudar a produção e o comércio de antibióticos”, disse a Dra. Mingyuan Zhang.
Juntamente com Lise Bjerke, a Dra. Mingyuan Zhang se deparou com relatórios de investigações antidumping conduzidas pelo governo indiano. Os relatórios eram públicos, em inglês, e nunca haviam sido usados em pesquisas anteriores. “Ao estudar o comércio de antibióticos, muitas vezes é difícil identificar ou entrar em contato com os atores centrais em campo e obter acesso à informação”, disse Bjerke.
Ao analisar os relatórios, as pesquisadores conseguiram mapear algumas das principais partes interessadas e seus papéis nas disputas comerciais de antibióticos entre a Índia e a China.
“Nos relatórios, encontramos muitas informações sobre os atores envolvidos na produção de antibióticos, o que e quanto eles produziram, em quais disputas comerciais estavam envolvidos e sobre o que eram as disputas”, explicou a Dra. Mingyuan Zhang.
Além dos relatórios, as pesquisadores analisaram artigos da mídia indiana e chinesa. A Dra. Zhang também realizou trabalho de campo digital participando de feiras farmacêuticas online. Bjerke fez trabalho de campo na Índia durante seis meses em 2022, entrevistando profissionais de empresas farmacêuticas.
As feiras online eram abertas ao público e, nas feiras, profissionais do comércio internacional deram palestras, falando abertamente sobre desafios e disputas no comércio de antibióticos.
“Até encontrei um CEO indiano em uma das feiras, que estava falando sobre disputas comerciais de antibióticos com a China. Sua empresa liderava uma das disputas comerciais descritas nos relatórios antidumping. Isso nos deu uma história coerente e pudemos conectar os pontos em nosso material”, explicou a pós-doutoranda.
Projeto de pesquisa na Universidade de Oslo está estudando as trajetórias de antibióticos
O estudo faz parte do projeto de pesquisa ‘From Asia to Africa: Antibiotic Trajectories across the Indian Ocean‘, financiado pelo Conselho de Pesquisa da Noruega.
“No projeto, estudamos a produção e circulação de antibióticos: como eles são produzidos e viajam pelas cadeias de abastecimento da Ásia à África. O artigo [publicado] faz uma das principais coisas que queríamos alcançar no projeto: acompanhar os ingredientes antibióticos desde a produção na China até a Índia”, concluiu a Dra. Mingyuan Zhang.
O artigo foi publicado na revista científica Medical Anthropology Quarterly.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Universidade de Oslo (em inglês).
Fonte: Mathilde Coraline Aarvold Bakke, Universidade de Oslo.
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