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Zika e COVID-19 podem ter correlação com doenças neuropsiquiátricas e complicações durante gravidez
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), uma tese de doutorado do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular (PPGBCM), desenvolvida pelo pesquisador Rafael Lopes da Rosa, buscou caracterizar as alterações da expressão genética dos hospedeiros causadas pelas infecções por zika e SARS-CoV-2.
Assim, foi estabelecida a correlação entre o zika e desfechos neurológicos, como Alzheimer, esclerose lateral múltipla e Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em relação à COVID-19, além de impactos neuropsiquiátricos, foi encontrada correlação entre a síndrome de pré-eclâmpsia em mulheres grávidas, que causa aumento da pressão no útero e, eventualmente, abortos. A produção gerada pela tese – dez artigos publicados em periódicos científicos – foi citada em indicações legislativas e relatórios técnicos para promover a vacinação prioritária para gestantes contra a COVID-19 em 2021.
Efeitos (até então) desconhecidos
A metodologia de análise viral usada no estudo foi a de análise de genes do hospedeiro que não seriam expressos sem infecção ou o são em uma quantidade anormal, o que é útil para aumentar a compreensão dessas doenças e prever manifestações tardias e desconhecidas.
O Dr. Rafael Lopes explicou que essa análise estuda o processo em que o vírus se instala no corpo e induz o infectado a expressar proteínas que são benéficas ao patógeno para sua multiplicação e manutenção. Ocorre que as células do corpo humano já conseguem expressar certas proteínas normalmente, então há um aumento anormal – a mando do vírus – de expressão dessas proteínas. São os chamados Genes Diferencialmente Expressos (GDEs). A partir disso, podem-se realizar correlações clínicas e melhorar a compreensão de doenças infecciosas.
Todos esses dados moleculares de GDEs foram compilados a partir de outros trabalhos para formar dois bancos de dados públicos, chamados de ZIKAVID e SARSCOVIDB. Além de armazenar os dados, os bancos permitem cruzamentos comparativos por diferentes cepas, hospedeiros e tipos de amostras, entre outros.
No estudo, foram infectadas com zika células tronco mesenquimais humanas, que podem se diferenciar em células neurais, úteis para analisar processos de neurodesenvolvimento. Com isso, descobriram-se proteínas relacionadas a doenças cerebrais, como doença de Alzheimer, TEA, esclerose lateral amiotrófica e doença de Parkinson. O pesquisador explicou que não significa que o zika cause as doenças, “mas tem uma correlação que pode ser o agravamento de um quadro ou até o início de um”.
A tese mostrou também, pela primeira vez, a correlação clínica entre o vírus zika e TEA. O estudo se centrou em uma mãe diagnosticada com o vírus durante a gravidez e seu filho, diagnosticado com autismo. O Dr. Rafael explicou que o autismo tem a maior parte dos casos relacionados à genética. Nesse caso, porém, mesmo que a criança se encaixe em todos os parâmetros desse diagnóstico, não houve variação genética que determinasse a doença. Então, por meio da reconstrução da vida médica pregressa da mãe, a única correlação foi a infecção por zika durante a gestação. O pesquisador salientou que, mesmo que o estudo mostre indícios, não é uma afirmação. “É um artigo que fomenta a discussão sobre isso. A gente não tá batendo o martelo”, complementou.
No campo da COVID-19 foi aplicada a mesma metodologia, mas utilizando o banco de dados SARSCOVIDB. Foi identificado que, além dos fatores associados ao aspecto social da pandemia, a infecção pode resultar em alterações moleculares com desfechos neuropsiquiátricos. Encontrou-se um conjunto de GDEs relacionados à dependência de álcool, ao autismo, ao transtorno bipolar, à depressão, ao transtorno de pânico, à esquizofrenia e ao distúrbio do sono. “Depois, vários trabalhos em conjunto demonstraram que as pessoas com COVID-19 têm uma tendência a desenvolver um quadro para além do impacto que já se tinha da própria infecção. Uma infecção viral também poderia causar uma piora do quadro psiquiátrico”, acrescentou.
Além disso, a tese apresentou evidências do risco de mulheres grávidas, ao contraírem a COVID-19, desenvolverem pré-eclâmpsia. “É o aumento da pressão intrauterina – aumenta a pressão com o feto dentro e pode levar a um aborto”, explicou o Dr. Rafael, complementando que esse achado levou a desdobramentos sociais e políticos.
Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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