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Estudo destaca ação da curcumina no combate ao câncer de estômago
Artigo de revisão assinado por pesquisadores da Unifesp e da UFPA avaliou compostos bioativos encontrados em alimentos com potencial terapêutico em tumores gástricos
Pixabay
Usada como corante de alimentos, a curcumina – substância encontrada no pó extraído da raiz da cúrcuma ou açafrão-da-índia (Curcuma longa) – pode ajudar a prevenir ou combater o câncer de estômago.
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade Federal do Pará (UFPA) apontou possíveis efeitos terapêuticos desse pigmento e de outros compostos bioativos encontrados em alimentos nesse tipo de tumor – o terceiro mais frequente em homens e o quinto entre as mulheres no Brasil.
Resultado de um Projeto Temático apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (FAPESP), o estudo foi publicado na revista científica Epigenomics.
“Fizemos uma vasta revisão na literatura científica de todos os nutrientes ou compostos bioativos com potencial de prevenir ou tratar o câncer gástrico e identificamos que a curcumina é um deles”, disse a Dra. Danielle Queiroz Calcagno, professora da UFPA e primeira autora do estudo, à Agência FAPESP.
De acordo com a pesquisadora, que fez pós-doutorado na Unifesp com bolsa da FAPESP, compostos como colecalciferol (uma forma da vitamina D), resveratrol (um polifenol) e quercetina (um flavonoide) podem proteger contra o câncer de estômago por serem reguladores naturais da atividade de proteínas conhecidas como histonas.
Essas proteínas formam um complexo, chamado nucleossomo, que funciona como uma matriz em torno da qual o DNA se enrola como uma linha no carretel. Esse núcleo proteico permite compactar o DNA e acomodá-lo no interior das células, empacotado por uma estrutura chamada cromatina.
Uma modificação química na cadeia de aminoácidos das histonas após sua tradução, como a adição de um grupo acetila (acetilação) ou de um grupo metil (metilação), pode afetar a compactação do DNA pela cromatina e, consequentemente, a expressão dos genes.
“Se as histonas estiverem acetiladas, por exemplo, a cromatina estará menos condensada e um determinado gene de uma região do segmento de DNA no interior dela estará disponível para ser expresso. Se as histonas não estiverem acetiladas, por outro lado, a cromatina estará mais condensada e o gene não será expresso”, explicou a Dra. Danielle Calcagno.
Estudos feitos nos últimos anos mostraram que modificações de histonas após sua tradução provocam alterações na expressão de genes sem causar mudanças na sequência de DNA. São as chamadas variações epigenéticas, que influenciam o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer.
A fim de avaliar se essa hipótese também se aplicava ao câncer gástrico, pesquisadores de diferentes grupos, um deles coordenado pela professora Dra. Marília de Arruda Cardoso Smith na Unifesp, fizeram estudos do padrão de acetilação de histonas em amostras de células do estômago tanto de pessoas saudáveis como de pacientes diagnosticados com a doença.
As análises revelaram que as células dos pacientes com câncer gástrico apresentavam alterações no padrão de expressão das histonas acetiltransferases (HATs, na sigla em inglês) e desacetilases (HDACs, também na sigla em inglês). Dessa forma, essas alterações conferiam marcas epigenéticas típicas desse tumor.
Como estudos recentes também indicavam a existência de nutrientes e compostos bioativos capazes de regular a atividade de HATs e HDACs, os pesquisadores da Unifesp e da UFPA fizeram um levantamento de quais dessas substâncias influenciam a acetilação de histonas para identificar quais seriam capazes de ajudar na prevenção e no tratamento do câncer gástrico.
Além da curcumina, outros compostos com papel relevante na modulação de atividade das histonas revelados pelo estudo foram o colecalciferol, o resveratrol (polifenol encontrado principalmente nas sementes de uvas e no vinho tinto) e a quercetina (encontrada em grandes concentrações em maçãs, brócolis e cebolas). Completam a lista o garcinol, isolado de cascas de kokum (Garcinia indica), e o butirato de sódio, gerado pela fermentação de fibras alimentares por microrganismos da flora intestinal.
“Esses compostos podem favorecer a ativação ou a repressão de genes envolvidos no desenvolvimento do câncer de estômago por meio da acetilação ou desacetilação de histonas”, afirmou A Dra. Danielle Calcagno.
A curcumina, por exemplo, influencia modificações das histonas ao inibir a atividade das enzimas HDACs e HATs para suprimir a proliferação e induzir a apoptose – a morte programada – de células cancerígenas. Já o garcinol, que possui estrutura química semelhante à da curcumina, inibe a atividade das histonas HATs.
“Pretendemos, agora, esclarecer os efeitos anticâncer e epigenético de compostos bioativos da flora amazônica, presentes, por exemplo, no açaí [Euterpe oleracea] e no murici [Byrsonima crassifolia], para que também possam ser usados, no futuro, na proteção contra o câncer gástrico”, disse a Dra. Danielle Calcagno.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Agência Fapesp.
Fonte: Elton Alisson, Agência FAPESP (notícia republicada sob Licença CC BY-ND 4.0). imagem: Pixabay.
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