Notícia

Estudo internacional com participação da USP identifica nova rota para tratamento da malária

Compostos testados inibem a enzima ATC do patógeno e têm efeito robusto, uma vez que impedem a produção dessa enzima em vez de apenas combatê-la

NIAID/NIH

Fonte

Jornal da USP

Data

quinta-feira, 22 dezembro 2022 06:35

Áreas

Biologia. Biomedicina. Bioquímica. Biotecnologia. Doenças Infecciosas. Microbiologia. Parasitologia. Toxicologia.

Uma parceria entre pesquisadores da Universidade de Groningen, nos Países Baixos, e do laboratório Unit for Drug Discovery, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), identificou novos compostos que abrem caminho para o desenvolvimento de um medicamento alternativo contra a malária. Trata-se de uma descoberta de extrema importância dada a rapidez com que os fármacos contra a doença se tornam ineficazes ao longo do tempo.

No estudo, publicado na revista científica Journal of the American Chemical Society, os pesquisadores testaram vários compostos. Quatro deles apresentaram níveis que variam de 50% a 100% de inibição da enzima Aspartate transcarbamoylase (ATC), encontrada no Plasmodium falciparum, um dos principais parasitas causadores da malária. A ATC desempenha um papel essencial na biossíntese (formação de compostos químicos) da pirimidina, composto orgânico que participa da síntese (replicação) de DNA e RNA e é necessária para o funcionamento celular do patógeno.

A seleção dos compostos foi realizada nos Países Baixos, sob a coordenação do professor Dr. Matthew Groves, por meio de testes in vitro e cristalografia de raios x, técnica que permite fundi-los à enzima e observar como eles interagem por meio de pequenos cristais que são produzidos nessa união. Os compostos mais promissores foram analisados no Brasil, onde ocorreram os testes in vivo, ou seja, com células humanas ‘invadidas’ pelo parasita. Aqui, o trabalho foi coordenado pelo Dr. Carsten Wrenger, professor do Departamento de Parasitologia do ICB-USP.

As análises também mostraram que os compostos não apresentaram toxicidade, sem qualquer dano à integridade das células humanas nas seis diferentes concentrações em que foram testados. “Pudemos colaborar com esse trabalho porque atuamos em um laboratório de alta biossegurança, com condições adequadas para realizar ensaios dessa natureza, sem qualquer risco à saúde dos pesquisadores”, destacou o Dr. Wrenger.

Abordagem inovadora

Segundo Arne Krüger, doutorando no grupo do professor Wrenger, a descoberta é promissora pois a pirimidina suprimida no parasita dificilmente pode ser adquirida de outra forma: “Além da síntese, é possível que o plasmódio adquira pirimidina na natureza, ou seja, por vias selvagens. Mas os plasmódios se reproduzem muito rapidamente, de modo que possíveis vias selvagens podem não ser suficientes para garantir a sobrevivência do parasita, demonstrando a importância da ação dos compostos na inibição da enzima ATC durante a síntese de pirimidina.”

Segundo ele, esses compostos também têm um efeito mais robusto em comparação com outros inibidores porque impedem a biossíntese de uma substância crucial para o desenvolvimento do parasita.

Importância da descoberta

Com epidemias da malária voltando em regiões específicas do planeta, sobretudo aquelas onde há cepas mais resistentes, novos tratamentos são indispensáveis. “A malária é uma das doenças mais antigas que circulam pela população humana, e esse tempo de circulação tornou o plasmódio extremamente adaptável ao corpo humano. A proliferação também é muito alta e o metabolismo é regulado com facilidade, por ser um organismo que circula dentre várias espécies e ambientes”, explicou Arne Krüger.

Segundo ele, essa versatilidade faz com que o plasmódio crie resistências, tornando os tratamentos obsoletos muito rapidamente. Muitos dos fármacos antes utilizados, como a cloroquina, hoje são ineficazes contra boa parte das cepas, daí a importância do investimento em novos tratamentos, além das ações de prevenção, como o combate ao mosquito.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Jornal da USP.

Fonte: Jornal da USP e Assessoria de Comunicação do ICB-USP. Imagem: Micrografia eletrônica de varredura colorida de glóbulos vermelhos infectados com parasitas da malária, coloridos em azul. A célula infectada está no centro/direita da área da imagem. Abaixo/à esquerda estão as células não infectadas com uma superfície vermelha lisa. Fonte: NIAID/NIH.

Em suas publicações, o Canal Farma da Rede T4H tem o único objetivo de divulgação científica, tecnológica ou de informações comerciais para disseminar conhecimento. Nenhuma publicação do Canal Farma tem o objetivo de aconselhamento, diagnóstico, tratamento médico ou de substituição de qualquer profissional da área da saúde. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para a devida orientação, medicação ou tratamento, que seja compatível com suas necessidades específicas.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que cadastrados no Canal Farma e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Farma, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2024 farma t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional nas áreas de Ciências Biológicas, Biomédicas e Farmacêuticas, Saúde e Tecnologias 

Entre em Contato

Enviando

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

Create Account