Notícia

Estudo sugere marcadores para diagnosticar pelo plasma microcefalia por zika em recém-nascido

Análise de lipídios no plasma pode contribuir para detecção precoce e monitoramento da zika congênita em bebês com microcefalia e assintomáticos

Pixabay

Fonte

Jornal da USP

Data

sábado, 3 julho 2021 07:15

Áreas

Biomarcadores. Bioquímica. Diagnóstico. Doenças Infecciosas. Saúde Pública.

Cientistas identificaram consideráveis alterações na composição de lipídios no plasma de recém-nascidos que tiveram exposição ao vírus da zika ainda na barriga da mãe. Esses resultados podem contribuir para o diagnóstico precoce e monitoramento da zika congênita, tanto em bebês com microcefalia quanto nos assintomáticos. As conclusões da pesquisa publicadas na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases. A equipe autora do trabalho inclui pesquisadores do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Rio de Janeiro e da Bahia.

Quando bebês começaram a nascer com microcefalia durante o surto de zika em 2015 e 2016 no Brasil, o governo declarou situação de emergência em saúde pública, embora a associação entre a doença e a microcefalia ainda não estivesse confirmada. Hoje se sabe que o vírus da zika atinge a placenta e desencadeia uma inflamação que pode causar insuficiência placentária, resultando em deficiência na liberação de determinados lipídios e levando a déficits no cérebro e na retina durante o desenvolvimento fetal.

“Com esses resultados, temos uma assinatura molecular que poderia ser usada como um biomarcador para crianças que foram expostas ao vírus durante o período pré-natal”, afirmou o Dr. Marcos Yukio Yoshinaga, pesquisador em pós-doutorado no laboratório da Dra. Sayuri Miyamoto, do IQ-USP e do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Processos Redox (Cepid Redoxoma) e coordenador da pesquisa.

A zika congênita, caracterizada pela transmissão do vírus da mãe para o bebê durante a gestação, é uma síndrome com um amplo espectro de quadros clínicos, que vão de casos assintomáticos à microcefalia e outras anormalidades no desenvolvimento neurológico, manifestadas na primeira infância. Recém-nascidos expostos ao vírus da zika que não apresentam microcefalia podem desenvolver anormalidades significativas de 1 a 3 anos e meio após o nascimento, conforme revelado por imagens do cérebro e avaliações de desenvolvimento neurológico. Durante o desenvolvimento inicial do cérebro, os lipídios desempenham um papel central no metabolismo, na estrutura de membranas e na sinalização.

O transporte lipídico por via transplacentária é delicadamente regulado durante a gravidez. Alterações no metabolismo lipídico da placenta podem afetar o desenvolvimento embrionário, especialmente do cérebro e dos olhos, que dependem da transferência de ácidos graxos poli-insaturados, como o ácido docosahexaenoico (DHA) e o ácido araquidônico (ARA), através da placenta. Coautora do artigo, a infectologista e pesquisadora Dra. Isadora Cristina de Siqueira, da Fiocruz Bahia, ressalta que a maioria dos estudos sobre a infecção congênita por zika encontrada na literatura é relacionada às descrições epidemiológicas e clínicas das crianças. “A gente acredita que tenha um número enorme de crianças que foram acometidas com um quadro mais leve e que precisam de um acompanhamento a longo prazo”, afirmou a especialista. “Não temos nada palpável do ponto de vista laboratorial, nenhum biomarcador de acompanhamento ou de gravidade. O estudo traz informações novas sobre a patogênese da doença, ao mostrar que crianças menos afetadas também apresentam alterações de lipídios, então ele traz marcadores laboratoriais que podem ser usados na prática.”

Os mecanismos pelos quais a infecção pelo vírus da zika leva a defeitos cerebrais não são conhecidos. No entanto, segundo os pesquisadores, estudos observacionais e experimentais documentaram que o vírus tem como alvo as células da placenta, resultando não apenas no aumento da inflamação sistêmica, mas também em mudanças significativas no metabolismo lipídico da placenta.

Agora, ressaltam os pesquisadores, serão necessários novos estudos, com grupos maiores, para se investigar o papel de cada um dos lipídios na maneira como o vírus da zika causa danos ao sistema nervoso e para transformar o perfil de lipídio do plasma em um marcador para o diagnóstico precoce de recém-nascidos com suspeita de exposição ao vírus.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa no Jornal da USP.

Fonte:  Jornal da USP e Maria Célia Wider, Assessoria de Comunicação do Cepid Redoxoma.

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