Notícia

Falta de uma proteína causa instabilidade genômica em pacientes com síndrome de Mulibrey

A ausência da proteína TRIM37 induz a formação de centrossomas nas células, que por sua vez favorecem o aparecimento de tumores

Martin Lopez via Pexels

Fonte

Universidade de Sevilha

Data

terça-feira, 31 agosto 2021 06:55

Áreas

Biologia Celular e Molecular. Doenças Raras. Oncologia. Proteômica.

Pesquisadores do Centro Andaluz de Biologia Molecular e Medicina Regenerativa (CABIMER), na Espanha, em colaboração com o Instituto Suíço de Pesquisa Experimental do Câncer (ISREC), estudaram os mecanismos que explicam a maior tendência de desenvolver tumores em pessoas com síndrome de Mulibrey. Os resultados mostram a função importante da proteína TRIM37, cuja ausência explica o aparecimento de células tumorais.

A síndrome de Mulibrey é uma das chamadas doenças raras, uma vez que é registada em menos de 5 em cada 10.000 habitantes. Algumas dessas doenças tendem a ter uma base genética muito definida. Portanto, o estudo das funções moleculares dos genes alterados nessas doenças, além de poder contribuir na busca de novos métodos de diagnóstico e tratamento para os pacientes, ajuda a compreender os mecanismos básicos necessários para o desenvolvimento saudável de um indivíduo.

A doença é caracterizada por retardo de crescimento, problemas de insuficiência cardíaca e doença hepática. Além disso, os pacientes têm maior probabilidade de desenvolver certos tipos de tumores. A literatura científica mostra que o desenvolvimento desta doença está associado à ausência de função de um gene denominado TRIM37. No entanto, o papel molecular que essa proteína desempenha e como a falta de sua função leva à doença é uma questão em aberto. Neste estudo, os pesquisadores têm se dedicado especialmente a estudar como a falta de função desse gene pode contribuir para o desenvolvimento de tumores em pacientes afetados pela síndrome de Mulibrey.

A TRIM37 é uma ubiquitina ligase: uma proteína que é capaz de modificar outras proteínas-alvo adicionando uma pequena terceira proteína chamada ubiquitina. Essa modificação pode ter vários efeitos na proteína-alvo: desde estabilizar e promover sua função até ativar sua degradação abruptamente.

O estudo foi liderado pelo Dr. Fernando Romero Balestra (CABIMER) em colaboração com um grupo suíço do ISREC, e no qual também participaram outros pesquisadores do CABIMER, como o Dr. Pablo Huertas (CABIMER), Dr. Andrés Domínguez Calvo (CABIMER) e a Dra. Rosa M. Ríos (CABIMER). Os pesquisadores descobriram que células isoladas de pacientes com síndrome de Mulibrey são incapazes de controlar o número de pequenas organelas celulares chamadas centrossomas.

Os centrossomas estão envolvidos na nucleação e organização dos microtúbulos necessários para a formação do fuso mitótico e a segregação correta do material genético durante a divisão celular. As células saudáveis ​​têm dois centrossomas que, após a divisão celular, são divididos entre as duas células filhas, herdando, assim, um centrossoma cada. Cada célula filha, antes de entrar na próxima mitose, tem que “construir” um novo centrossoma por meio de um complicado processo molecular altamente regulado que garante a formação de um único centrossoma novo e, assim, garante a segregação correta dos cromossomos na próxima mitose. O estudo descreveu como as células de pacientes com síndrome de Mulibrey, com maior número de centrossomas, formam fusos mitóticos anormais durante suas divisões celulares, gerando células com número incorreto de cromossomos.

É muito interessante que essa desregulação do número de centrossomas e os problemas de segregação cromossômica associados a ela sejam uma características presente em muitos tipos de tumor. Portanto, os pesquisadores propõem que o papel da TRIM37 como regulador do número de centrossomas pode ser a chave na formação de tumores em pacientes com síndrome de Mulibrey. Mas quais são os mecanismos moleculares que conectam o TRIM37 com a formação de novos centrossomas? Para responder a essa pergunta, o estudo usa técnicas de biologia molecular e de biologia celular. Para caracterizar os mecanismos pelos quais esses novos centrossomas se formam incontrolavelmente em células sem a TRIM37, os pesquisadores fizeram uso de linhas de células humanas que podem crescer facilmente em laboratório e, por sua vez, podem ser modificadas por técnicas de edição genômica – Crispr/Cas9 – ou por interferência de RNA (Células RPE-1 e HeLa).

O uso dessas técnicas revelou como a falta de TRIM37 ativa a formação de centrossomas por meio de uma nova via de formação de centrossomas ainda não descrita e que depende das proteínas Centrobina, PLK4, HsSAS-6 e PLK1. A falta de TRIM37 induz a formação de estruturas Centrobinas e PLK4 que servem de plataforma para a produção de centrossomas de forma descontrolada.

Os resultados deste trabalho, publicados na revista científica eLife, contribuem para a compreensão dos mecanismos moleculares envolvidos na síndrome de Mulibrey e abrem portas para a busca de tratamentos personalizados para os pacientes com síndrome de Mulibrey que desenvolvem patologias tumorais. No futuro, os autores pretendem investigar se esse mecanismo molecular envolvido na formação extra de centrossomas desempenha um papel fundamental em outros tipos de tumor.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Sevilha (em espanhol).

Fonte: Universidade de Sevilha. Imagem: Martin Lopez via Pexels.

Em suas publicações, o Canal Farma da Rede T4H tem o único objetivo de divulgação científica, tecnológica ou de informações comerciais para disseminar conhecimento. Nenhuma publicação do Canal Farma tem o objetivo de aconselhamento, diagnóstico, tratamento médico ou de substituição de qualquer profissional da área da saúde. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para a devida orientação, medicação ou tratamento, que seja compatível com suas necessidades específicas.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que cadastrados no Canal Farma e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Farma, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2024 farma t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional nas áreas de Ciências Biológicas, Biomédicas e Farmacêuticas, Saúde e Tecnologias 

Entre em Contato

Enviando

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

Create Account