Notícia
Molécula de veneno de peixe pode ser aliada no tratamento da asma
Proteína com ação anti-inflamatória também teve resultados promissores contra esclerose múltipla
Renato Rodrigues, Comunicação Instituto Butantan
Fonte
Instituto Butantan
Data
segunda-feira, 28 agosto 2023 17:45
Áreas
Bioquímica. Biotecnologia. Desenvolvimento de Fármacos. Farmacologia. Indústria Farmacêutica. Microbiologia. Neurociências. Patologia. Pneumologia. Química Medicinal. Saúde Pública. Toxicologia.
Um peptídeo derivado do veneno do peixe niquim (Thalassophryne nattereri), denominado TnP, apresentou resultados promissores para o tratamento da asma em testes em modelos animais, de acordo com estudo do Instituto Butantan publicado na revista científica Cells.
A asma é a doença respiratória crônica mais comum, afetando 262 milhões de pessoas no mundo e causando 455 mil mortes por ano – a maioria em países de baixa e média renda, com pouco acesso a diagnóstico e tratamento, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A proteína com propriedades anti-inflamatórias, descoberta em 2007 pelo Laboratório de Toxinologia Aplicada (LETA) do Instituto Butantan, deu origem a uma série de peptídeos sintéticos produzidos pelo grupo, que foram patenteados no Brasil e em outros 12 países. Desde então, pesquisas conduzidas pela equipe têm apontado a molécula como uma possível candidata para tratar doenças inflamatórias.
No trabalho atual, os cientistas compararam grupos de animais com asma tratados com TnP e com dexametasona, fármaco comumente utilizado para tratar a doença, e animais não tratados. Assim como o tratamento convencional, o TnP reduziu em mais de 60% o número de células totais que causam inflamação e dano tecidual no pulmão. No caso dos eosinófilos, responsáveis pela inflamação em cerca de metade dos pacientes com asma, a redução foi de 100%.
O tratamento com TnP também atenuou a remodelação das vias aéreas, característica que contribui para a redução da função pulmonar e obstrução do fluxo aéreo, e reduziu o muco presente no pulmão. Além disso, não foram identificados efeitos adversos– diferente das terapias convencionais, que podem causar sintomas como taquicardia, agitação, dor de cabeça e tremores musculares.
“Nós submetemos o veneno do peixe a uma cromatografia para identificar peptídeos e testamos várias moléculas. Essas toxinas provocam dor, edema, necrose. Até que chegamos a uma fração de peptídeos que não causava nenhuma ação danosa e isso nos chamou atenção. Esse tipo de descoberta é o outro lado da moeda”, disse a pesquisadora Dra. Mônica Lopes Ferreira, responsável pelo estudo.
O passo seguinte foi fazer o sequenciamento genético do TnP para permitir a produção dos peptídeos sintéticos em laboratório – assim, os pesquisadores não dependem mais da extração do veneno do peixe e podem testar as moléculas sintéticas em diferentes modelos de doenças.
Em estudo pré-clínico anterior, publicado em 2017 na revista científica PLOS One, a molécula TnP também apresentou potencial contra a esclerose múltipla, atrasando o aparecimento dos sintomas e reduzindo a gravidade da doença em camundongos.
Para avaliar a toxicidade e segurança do peptídeo TnP, a equipe liderada pela Dra. Mônica Ferreira testou a molécula em zebrafish (ou peixe paulistinha), um modelo animal de pesquisa que apresenta 70% de semelhança genética com humanos. Não houve registro de disfunções cardíacas nem problemas neurológicos causados pelo peptídeo.
A próxima etapa, segundo a Dra. Mônica, é testar o tratamento em modelos de doenças oculares.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página do Instituto Butantan.
Fonte: Aline Tavares, Instituto Butantan. Imagem: Dra. Mônica Lopes Ferreira. Fonte: Renato Rodrigues, Comunicação Instituto Butantan.
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