Notícia
Moléculas criadas em laboratório ajudam a combater fungos
Em trabalho premiado, pesquisadores detalham como peptídeos sintéticos atuam para danificar células de fungo com altas taxas de infecção
Venkatx5 via Wikimedia Commons
Fonte
Agência UFC
Data
quinta-feira, 8 dezembro 2022 17:55
Áreas
Biologia. Bioquímica. Biotecnologia. Doenças Infecciosas. Farmacologia. Microbiologia. Patologia. Química Medicinal. Saúde Pública. Toxicologia.
Consequência do uso excessivo e por vezes incorreto de medicamentos antimicrobianos, a resistência dos microrganismos a remédios tornou-se um problema comum, seja no tratamento de bactérias, seja no de fungos. A Universidade Federal do Ceará (UFC) tem se juntado aos esforços científicos para driblar esse essa dificuldade e garantir eficiência nas terapias medicamentosas.
Em pesquisa realizada no Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do Centro de Ciências da UFC, o objetivo foi avaliar como moléculas desenvolvidas sinteticamente podem ajudar no combate ao fungo da espécie Candida albicans, responsável, segundo estudos de 2017, por 43,5% dos casos de candidemia, tipo de infecção da corrente sanguínea.
As moléculas sintetizadas são os chamados peptídeos, formados a partir da ligação entre duas ou mais outras moléculas de aminoácidos. Batizados de Mo-CBP3-PepI e Mo-CBP3-PepII, os peptídeos foram testados em sua capacidade de atingir as células de C. albicans e danificá-las, para possivelmente enfraquecer a infecção.
Os resultados foram promissores: as células do fungo, após o tratamento com os peptídeos, apresentaram rachaduras (indicando danos à parede celular), além de perda de conteúdo citoplasmático e cicatrizes. Também foi detectada a formação de poros largos nas células, causados pelos peptídeos, mais um indicativo do potencial de alteração da composição física das células.
Potencializador de medicamentos
Além de por si terem essa capacidade de atingir as células dos fungos, os peptídeos sintéticos também podem ser bons aliados para outros fármacos já utilizados pela medicina ou ainda em pesquisa, funcionando como adjuvantes. É o caso da nistatina, remédio antifúngico já amplamente conhecido nas terapias medicamentosas.
No trabalho desenvolvido na UFC, os peptídeos chegaram a potencializar em até 600 vezes a ação da nistatina, principalmente reduzindo o efeito tóxico do medicamento.
O fármaco não é o único a ser foco de testes com os peptídeos. “Novos trabalhos mostraram que os peptídeos melhoraram a ação de várias outras drogas, como o itraconazol e a griseofulvina, que são antifúngicas, e o antibiótico ciprofloxacino”, destacou o Dr. Pedro Filho Noronha de Souza, pesquisador da UFC e um dos autores do estudo.
Moléculas sintéticas
O desenvolvimento de peptídeos desenhados em laboratório (sintéticos) tem sido um passo importante para a bioquímica e a biologia molecular. Isso porque, apesar de os peptídeos antimicrobianos naturais serem moléculas promissoras para o combate a microrganismos, até mesmo como adjuvantes, as pesquisas podem enfrentar problemas como as taxas de toxicidades ou dificuldade no isolamento e purificação das moléculas.
Essas questões são amenizadas quando se trata dos peptídeos sintéticos (inspirados na biologia dos naturais), já que as características positivas das moléculas podem ser potencializadas e os problemas, como a toxicidade, diminuídos.
No caso das moléculas Mo-CBP3-PepI e Mo-CBP3-PepII, desenvolvidas na pesquisa da UFC, a proteína de origem foi a Mo-CBP3. “[Ela é] purificada da planta Moringa oleifera. Após o desenho, os peptídeos são quimicamente sintetizados e testados contra os fungos”, concluiu o Dr. Pedro de Souza.
O artigo que detalha o trabalho foi publicado em março de 2020 na revista científica Journal of Peptide Science e premiado, em julho deste ano, pelos editores da revista como o melhor artigo publicado no período de 2020-2021.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Agência UFC.
Fonte: Kevin Alencar, Agência UFC. Imagem: As moléculas sintéticas são feitas a partir de proteínas extraídas da planta Moringa oleifera. Fonte: Venkatx5 via Wikimedia Commons.
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