Notícia

Pesquisa revela possíveis tratamentos para doenças tropicais que podem ser fatais

Um medicamento já é aprovado pela FDA para outros usos nos Estados Unidos, o segundo é um novo antibiótico sintético

Ken Ng/UCLA

Fonte

Universidade da Califórnia em Los Angeles

Data

quinta-feira, 12 setembro 2019 09:30

Áreas

Bacteriologia. Doenças Infecciosas. Biotecnologia. Microbiologia. Farmacologia.

A melioidose é uma doença tropical que tira cerca de 90.000 vidas em todo o mundo a cada ano. Não existe vacina e os tratamentos atuais são dificultados pela capacidade da bactéria que faz com que a doença resista até aos antibióticos mais fortes. Resistente e letal, essa bactéria, Burkholderia pseudomallei, é classificada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças como uma potencial arma biológica.

A pesquisa, liderada pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA, dasigla em inglês), nos Estados Unidos, identificou dois compostos que, com base em testes em células humanas e em animais, mostram potencial para o tratamento da melioidose. Um é um medicamento amplamente usado já aprovado pela agência FDA dos EUA como tratamento antifúngico; o outro é um novo antibiótico sintético. As descobertas, publicadas na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, representam progresso contra uma doença sobre a qual pouco se sabe. No Brasil, a página “Melioidose, uma doença emergente“, produzida por pesquisadores do Grupo de Estudo em Melioidose da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), coma  colaboração da Universidade Federal do Ceará (UFC), fornece detalhes importantes sobre a doença.

Observada com mais frequência no sudeste da Ásia e no norte da Austrália, a melioidose pode assumir várias formas, desde uma infecção letal na corrente sanguínea até uma infecção crônica que imita outras doenças como a tuberculose. A B. pseudomallei pode ser contraída quando o solo ou a água contaminada são inalados, ingeridos ou absorvidos por uma ferida ou corte.

Quando entra nas células dos mamíferos, a bactéria se multiplica e pode se espalhar, fazendo com que as células infectadas se fundam com suas vizinhas. Essa capacidade de fundir células é essencial para o ciclo de vida da bactéria e sua capacidade de causar doenças. Eventualmente, surgem complexos de células fundidas, que podem destruir o tecido em que as células estão localizadas.

Trabalhando na instalação de triagem robótica do Instituto de Nanossistemas da Califórnia e usando uma técnica de triagem desenvolvida pela equipe, os pesquisadores testaram uma biblioteca de mais de 220.000 compostos – milhares de cada vez – para verificar sua capacidade de interromper o ciclo de vida bacteriano.

“O estudo que desenvolvemos seria fácil de se adaptar a outros patógenos intracelulares, como o Mycobacterium, que causa tuberculose”, disse Christopher Todd French, co-autor do artigo e professor assistente da UCLA. “Ele captura qualquer composto que inibe um passo ao longo do caminho, desde quando a bactéria entra na célula, até seu crescimento na célula e a propagação para as células próximas”. Devido às extensas precauções de segurança necessárias para estudar a B. pseudomallei, os pesquisadores examinaram os compostos em um parente menos perigoso, a B. thailandensis, para restringir a lista de medicamentos que exigiam testes adicionais.

Para cada triagem, as células humanas foram colocadas roboticamente em placas de laboratório, tratadas com os compostos a serem testados e depois infectadas com a bactéria. Após 20 horas, os cientistas usaram um método de imagem chamado citometria de varredura a laser para tirar imagens de alta resolução das placas para identificar os efeitos de cada composto.

Os compostos que interromperam a B. thailandensis foram testados contra a B. pseudomallei e a B. mallei, outra bactéria intimamente relacionada que causa Glanders, uma doença mais comum em cavalos e outros animais, mas que também pode afetar seres humanos. Por fim, os pesquisadores identificaram 32 compostos que funcionavam contra B. pseudomallei, B. mallei ou ambos.

A equipe se concentrou em dois compostos que eram particularmente eficazes contra B. pseudomallei e mostraram toxicidade mínima para as células hospedeiras. Ambos foram capazes de entrar na célula hospedeira e na bactéria – um desenvolvimento significativo porque fazer com que os compostos ultrapassem as duas barreiras é um dos principais desafios no desenvolvimento de novos antibióticos. Um dos dois era a flucitosina, ou 5-FC, o medicamento antifúngico já aprovado pela agência FDA. Os pesquisadores descobriram que, em vez de interromper o crescimento de B. pseudomallei, o 5-FC funcionava impedindo a bactéria de fundir células e se espalhar.

Essa característica coloca o 5-FC entre uma classe emergente de antibióticos denominada drogas antivirulentas, que poderiam ser combinadas com antibióticos tradicionais – drogas que funcionam impedindo o crescimento de bactérias em primeiro lugar. Portanto, poderia atacar bactérias nocivas de maneira mais eficaz e, ao mesmo tempo, tornar menos provável a resistência a antibióticos. Além disso, o 5-FC está na Lista Modelo de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial da Saúde, o que significa que está disponível em ambientes com poucos recursos, onde a melioidose é endêmica.

“Uma prioridade fundamental será traduzir essas descobertas laboratoriais em impacto clínico. O 5-FC já possui um perfil de segurança bem estabelecido, o que deve facilitar o processo de avaliação como um novo tratamento potencial para a melioidose”, concluiu o Dr. Philip Bulterys, primeiro autor do estudo.

Acesse a página Melioidose, uma doença emergente.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da UCLA (em inglês).

Fonte: Wayne Lewis, UCLA. Imagem: Ken Ng/UCLA.

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