Notícia

Pesquisa traz novos esclarecimentos sobre a pré-eclâmpsia, uma complicação da gravidez que pode ser fatal

Pesquisadores estudaram as interações de células placentárias cultivadas chamadas trofoblastos com níveis de cffDNA observados na pré-eclâmpsia e descobriram que isso inibia significativamente o movimento dos trofoblastos

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Fonte

Escola de Medicina da Universidade Yale

Data

quinta-feira, 20 abril 2023 06:30

Áreas

Biologia. Biomedicina. Bioquímica. Farmacologia. Genética. Imunologia. Microbiologia. Obstetrícia. Química Medicinal. Saúde Pública.

A pré-eclâmpsia é uma complicação perigosa durante a gravidez que coloca em risco a mãe e o feto, mas os médicos ainda não têm uma maneira eficaz de prever quem a desenvolverá. Novas pesquisas descobriram um possível mecanismo de como essa condição potencialmente fatal ocorre e o potencial do medicamento imunossupressor hidroxicloroquina para tratá-la.

Os pesquisadores sabem que, em gestações complicadas por pré-eclâmpsia, o desenvolvimento da placenta é prejudicado, mas eles sabem pouco sobre como isso acontece. Além disso, eles sabem que os níveis de DNA placentário no sangue da mãe, conhecido como DNA fetal livre de células (cffDNA), são significativamente maiores em mulheres com pré-eclâmpsia. Assim, uma equipe liderada pela Dra. Vikki Abrahams, professora de Ginecologia, Obstetrícia e Ciências Reprodutivas da Escola de Medicina da Universidade Yale, nos Estados Unidos, estudou as interações de células placentárias cultivadas chamadas trofoblastos com níveis de cffDNA observados na pré-eclâmpsia e descobriram que isso inibia significativamente o movimento dos trofoblastos. A equipe também descobriu que o tratamento com hidroxicloroquina reverteu os efeitos do cffDNA nos trofoblastos. Os pesquisadores publicaram suas descobertas na revista científica Journal of Reproductive Immunology.

“Nossa pesquisa está nos dando uma visão de como os altos níveis de cffDNA que vemos em mulheres com pré-eclâmpsia podem estar agindo de maneira patológica”, disse a professora Vikki Abrahams, autora sênior do artigo. “Ele está nos informando sobre como o DNA fetal livre de células está afetando negativamente a função do trofoblasto e o processo de placentação, bem como algumas dicas sobre um potencial terapêutico que poderia ser usado para, pelo menos, interromper essa parte da doença”.

Sintomas da pré-eclâmpsia estão ligados à placenta

A pré-eclâmpsia, em que as mulheres experimentam pressão arterial altamente elevada, é uma condição que normalmente se manifesta no final do segundo ou terceiro trimestre da gravidez. Se não for adequadamente controlada, pode causar convulsões na mãe e também prejudicar o feto em desenvolvimento. A única solução atual para a condição é a antecipação do parto e a liberação da placenta.

Neste sentido, os cientistas fizeram uma observação intrigante: se o médico realizar o parto do bebê, mas não liberar a placenta, as mulheres continuarão a apresentar sintomas de pré-eclâmpsia até que a placenta também seja expelida. “Todos esses processos patológicos pareciam vir da placenta, mas não sabíamos como ou por quê”, disse a professora Vikki Abrahams.

Embora a pré-eclâmpsia se desenvolva durante a gravidez mais avançada, os pesquisadores acreditam que as origens da doença podem ocorrer muito mais cedo, durante a implantação e o desenvolvimento da placenta. Em mulheres com pré-eclâmpsia, os pesquisadores notaram anormalidades na interface materno-fetal – onde a placenta e o endométrio materno [membrana mucosa que reveste o útero] se encontram. Durante uma gravidez normal, os trofoblastos migram para o endométrio, um processo essencial para ancorar a placenta e permitir que as células da placenta interajam com as células imunológicas maternas necessárias. Entretanto, nos casos de pré-eclâmpsia, há migração insuficiente dos trofoblastos, o que prejudica o desenvolvimento normal da placenta. Além disso, a pesquisa mostrou uma forte resposta inflamatória na interface materno-fetal em casos de pré-eclâmpsia.

Durante uma gravidez normal, a placenta libera continuamente material, incluindo cffDNA, de sua superfície. Ele entra na corrente sanguínea da mãe e circula por todo o corpo. Durante a gravidez, os níveis de cffDNA aumentam à medida que a placenta cresce e libera mais material e, após o parto, os níveis caem completamente. Em casos de pré-eclâmpsia, os níveis de cffDNA aumentam significativamente em comparação com uma gravidez normal. “Nós nos perguntamos se o cffDNA estava tendo um efeito funcional que levava ao desenvolvimento da pré-eclâmpsia”, disse a pesquisadora. “Então, decidimos examinar isso localmente em termos de placentação.”

Identificando o mecanismo potencial para desenvolvimento placentário prejudicado

Em seu último estudo, a equipe da professora Vikki Abrahams isolou o cffDNA e o adicionou a novas culturas de células trofoblásticas. Em seguida, eles mediram a capacidade dos trofoblastos de migrar espontaneamente na presença e ausência do cffDNA. Eles descobriram que o cffDNA inibiu significativamente a capacidade de migração do trofoblasto.

Essa descoberta revelou pistas sobre o mecanismo da pré-eclâmpsia. “O cffDNA é diferente do DNA adulto. As diferenças na estrutura do cffDNA têm semelhanças com o DNA bacteriano e, consequentemente, é reconhecido como tal por um receptor imune inato chamado Toll-like receptor 9 (TLR9)”, explicou a professora.

Intrigada, a equipe adicionou um inibidor sintético de TLR9 à cultura e descobriu que reverteu a inibição da migração do trofoblasto. “Descobrimos que a inibição da migração do trofoblasto pelo cffDNA é mediada por TLR9”, disse a Dra. Abrahams. “Sua interação com o cffDNA causa uma regulação negativa da capacidade das células trofoblásticas de migrar espontaneamente”.

Hidroxicloroquina reverte o mecanismo patológico da pré-eclâmpsia

Em seguida, a equipe examinou se várias terapêuticas podem ser úteis no tratamento desse mecanismo patológico, incluindo aspirina e hidroxicloroquina. Pesquisas anteriores sugeriram que a aspirina, um medicamento anti-inflamatório, pode ser útil na prevenção dos sintomas de pré-eclâmpsia em mulheres de alto risco. Então, eles adicionaram aspirina às culturas do trofoblasto para ver se isso reverteria os efeitos do cffDNA na migração, mas não teve efeito.

A equipe então voltou sua atenção para a hidroxicloroquina, um medicamento frequentemente administrado a pacientes com doenças autoimunes, como lúpus, e seguro para uso durante a gravidez. Também é um inibidor de TLR9. Eles descobriram que esse medicamento realmente restaurou a capacidade de migração dos trofoblastos. “Isso não apenas ressalta o papel do TLR9 como o mecanismo pelo qual o cffDNA inibe a migração do trofoblasto, mas também nos dá um potencial terapêutico que pode ser útil de maneira direcionada se administrado no início da gravidez”, disse a pesquisadora.

A professora Vikki Abrahams espera que o trabalho leve a encontrar melhores maneiras de tratar mulheres com pré-eclâmpsia. “Agora que temos uma ideia de como esse cffDNA pode funcionar durante a gravidez, espero que possamos transformá-lo em mais estudos para nos ajudar a entender melhor a função do cffDNA na interface materno-fetal, para que possamos descobrir mais maneiras de promover gestações saudáveis em mulheres”, concluiu.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Escola de Medicina da Universidade Yale (em inglês).

Fonte: Isabella Backman, Escola de Medicina da Universidade Yale. Imagem: Freepik.

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