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Pesquisadores da USP testam novo método para combater transmissão de arboviroses

Equipe do estudo desenvolveu proteína quimérica que utiliza o sistema de replicação viral e ativa a mortalidade celular nos mosquitos

Muhammad Mahdi Karim via Wikimedia Commons

Fonte

ICB-USP | Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo

Data

segunda-feira, 1 maio 2023 18:00

Áreas

Biologia. Biomedicina. Bioquímica. Biotecnologia. Doenças Infecciosas. Genética. Microbiologia. Parasitologia. Patologia. Saúde Pública.

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) estão testando um novo método para combater a transmissão de arboviroses, como dengue, zika e chikungunya. “Controlar o mosquito é difícil devido à abundância de criadouros e ao aumento da resistência a inseticidas nas populações de vetores. Queremos controlar a transmissão da doença por meio do mosquito Aedes aegypti geneticamente modificado que, em contato com o vírus, tem morte celular”, disse a Dra. Margareth Capurro, bioquímica e professora do Departamento de Parasitologia do ICB-USP e coordenadora da pesquisa. “A ideia não é fazer a supressão total da população desse mosquito, mas apenas daqueles infectados”.

Os primeiros resultados do estudo, focados em dengue tipo 2, acabam de ser publicados na revista científica Scientific Reports.  “Nosso artigo mostra que a infecção viral pode ser usada para induzir a apoptose [morte celular] dos mosquitos transgênicos infectados. Trata-se de uma prova de conceito da potencialidade do estudo, que, entretanto, precisa ser aprimorado”, relatou a professora Margareth Capurro. “Até agora conseguimos eliminar, por meio da replicação viral, cerca de trinta por cento das fêmeas infectadas, mas estamos trabalhando para que esse número atinja cem por cento”.

Para chegar a esse estágio descrito no artigo científico, a equipe do estudo desenvolveu uma proteína quimérica que utiliza o sistema de replicação viral e ativa a mortalidade celular nos mosquitos. “Nossa meta era descobrir de que forma poderíamos ativar o mecanismo de mortalidade celular no decorrer desse processo”, contou a pesquisadora.

Como se sabe, o vírus da dengue é composto por um filamento único de ácido ribonucleico (RNA). “O RNA entra inteiro na célula hospedeira e produz uma poli proteína. Esta, para ser processada, utiliza enzimas (proteases) da célula hospedeira para liberar pedaços do vírus e assim montar a partícula viral. Nesse processo, ocorre a formação do complexo N2B/NS3, que é uma protease específica do vírus. Ela é responsável pela clivagem da proteína capsídeo, que é importante na estrutura final da partícula viral”, disse a especialista.

O próximo passo foi utilizar o sítio de clivagem da N2B/NS3 na construção da proteína quimérica. Desta forma, ao entrar em contato com as partículas virais, o sistema de replicação viral reconhece o sítio de clivagem da poliproteína da dengue, assim como a proteína quimérica. Esse processo resulta na liberação da proteína Michelob-x (Mx). “A protease viral N2B/NS3 desencadeou a morte das células do mosquito infectado ao liberar no citoplasma a proteína Mx, que é ativada pela presença do vírus da dengue tipo 2. A consequência da liberação da Mx é ativação da cascata de morte celular programada”, explicou a professora.

De acordo com a especialista, o artigo publicado mostrou que é possível criar um Aedes aegypti transgênico que carrega a forma inativa do Mx. “No caso, o Mx, gatilho que leva à morte celular, será ativado apenas na presença do vírus da dengue tipo 2”, afirmou a pesquisadora. “Nossa cepa transgênica exibiu uma taxa de mortalidade significativamente maior que o controle não transgênico infectado pelo vírus da dengue tipo 2”.

Com a morte dos Aedes aegypti infectados, sobram os mosquitos que não carregam o vírus e, portanto, não vão transmitir a doença. “O Aedes aegypti seria então apenas uma praga urbana, como pernilongo ou borrachudo. Ele vai trazer incômodos, como picadas, mas nada além disso”.

Atualmente, os pesquisadores trabalham no desenvolvimento de linhagens transgênicas de Aedes aegypti relativas a outras arboviroses. A lista inclui dengue tipos 1,3 e 4, além de febre amarela, zika e chikungunya. Como aponta o artigo, doenças arbovirais provocam a morte de centenas de milhares de pessoas por ano no mundo e afetam, econômica e socialmente, milhões de indivíduos. “Isso enfatiza a necessidade urgente de abordagens inovadores para suprimir a transmissão de arbovírus pelo Aedes aegypti”, apontou a pesquisadora.

“Em nossa pesquisa pretendemos produzir linhagens de mosquitos que possam ser utilizadas para se espalhar naturalmente e assim erradicar a transmissão das arboviroses urbanas”, concluiu a Dra. Margareth Capurro.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

Fonte: Angela Trabbold, Agência Acadêmica Comunicação. Imagem: Aedes aegypti. Fonte: Muhammad Mahdi Karim via Wikimedia Commons.

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