Notícia

Pesquisadores descobrem mecanismo que facilita a sepse de origem fúngica

Descobertas podem abrir novos caminhos terapêuticos para a sepse causada por leveduras, mas também para outras infecções fúngicas invasivas

DataBase Center for Life Science (DBCLS) via Wikimedia Commons

Fonte

Universidade de Berna

Data

segunda-feira, 4 setembro 2023 18:25

Áreas

Biologia. Biomedicina. Bioquímica. Doenças Infecciosas. Hematologia. Imunologia. Medicina Intensiva, Microbiologia. Saúde Pública.

A sepse – também conhecida por ‘envenenamento do sangue’ – causada por uma infecção fúngica é uma condição grave e com risco de vida. Recentemente, pesquisadores da Universidade de Berna, na Suíça, descobriram um mecanismo que ajuda um fungo de levedura a se espalhar mais facilmente pelo corpo. E o sistema imunológico desempenha um papel importante neste processo. Estas descobertas podem abrir novos caminhos terapêuticos para a sepse causada por leveduras, mas também para outras infecções fúngicas invasivas.

Normalmente, a levedura Candida albicans é uma co-habitante inofensiva das membranas mucosas humanas. Cerca de metade da população é colonizada por ela sem perceber. Se o sistema imunológico do corpo estiver saudável, ele mantém o fungo sob controle sem esforço. Mas isso torna-se perigoso quando o sistema imunológico está enfraquecido. Pode ser o caso, por exemplo, de doenças como a AIDS ou ao tomar medicamentos que suprimem a defesa imunológica. Mesmo em pessoas com sistema imunológico saudável, procedimentos cirúrgicos que danificam a barreira mucosa, entre outras coisas, podem favorecer a propagação da Candida albicans. Uma vez que o fungo entra na corrente sanguínea, ele pode causar a sepse, levando a danos permanentes aos órgãos internos: de um terço a metade dos pacientes não sobrevivem a uma sepse fúngica.

A resposta natural do sistema imunológico à invasão de patógenos é uma reação inflamatória. Mecanismos de controle sofisticados garantem que apenas os invasores sejam combatidos, sem atacar ao mesmo tempo os tecidos saudáveis. Nesse sentido, um papel fundamental é desempenhado por uma proteína específica, o chamado antagonista do receptor da interleucina 1 (IL-1Ra). Esta proteína é o antagonista natural da substância sinalizadora pró-inflamatória interleucina 1, evitando que ela ultrapasse o alvo e desencadeie reações inflamatórias descontroladas.

Inibidor de inflamação enfraquece a defesa imunológica

O novo estudo, liderado pelo Dr. Stefan Freigang, professor do Instituto de Medicina e Patologia de Tecidos da Universidade de Berna, sugere que o IL-1Ra, apesar da sua função anti-inflamatória, contribui para a propagação da Candida albicans. Neste contexto, o IL-1Ra produzido pelos chamados fagócitos (macrófagos) parece ser de particular importância. Em camundongos, os pesquisadores conseguiram demonstrar que a quantidade dessas proteínas anti-inflamatórias nos macrófagos aumentava quando a Candida albicans entrava na corrente sanguínea e que, posteriormente, interferiam na defesa imunológica. Elas inibiram a produção e a enxameação de neutrófilos, um subgrupo dos glóbulos brancos. Os neutrófilos formam uma importante barreira precoce contra infecções, patrulhando regularmente os vasos sanguíneos para eliminar patógenos invasores.

Os animais criados geneticamente para que os seus fagócitos já não produzissem as proteínas anti-inflamatórias tinham um arsenal intacto de neutrófilos. Consequentemente, eles conseguiram combater com sucesso uma infecção por Candida albicans em pouco tempo. Por outro lado, no grupo controle de camundongos normais, que produziu a proteína anti-inflamatória, os fungos conseguiram se espalhar por causa dos neutrófilos inibidos.

Portanto, se forem produzidas menos proteínas anti-inflamatórias, os neutrófilos, como ‘primeira linha de defesa’, podem realizar o seu trabalho sem serem perturbados. No entanto, se as proteínas forem produzidas pelos fagócitos, isso enfraquece a defesa imunológica. Tais interações complexas e dinâmicas do sistema imunológico só podem ser mapeadas em um organismo vivo, o que neste caso requer experimentos em animais com camundongos geneticamente modificados e normais como grupo de controle.

Possível abordagem terapêutica

Os resultados do estudo dos pesquisadores da Universidade de Berna poderão permitir novas abordagens terapêuticas no futuro. “A sepse fúngica continua a ser difícil de tratar e está associada a uma elevada taxa de mortalidade. Para desenvolver estratégias de tratamento mais eficazes, precisamos de uma melhor compreensão dos mecanismos subjacentes da doença”, explicou o Dr. Stefan Freigang.

Numa próxima etapa do estudo, os pesquisadores querem usar amostras de pacientes para confirmar as observações do modelo de camundongo e investigar se a proteína específica também promove infecções por Candida albicans em humanos. “Se isso for confirmado, os agentes direcionados à proteína poderão ser usados como uma nova estratégia para combater a levedura e possivelmente outras infecções fúngicas”, concluiu o Dr. Freigang.

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Immunity.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Fonte: Universidade de Berna. Imagem: Candida albicans. Fonte: DataBase Center for Life Science (DBCLS) via Wikimedia Commons.

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