Notícia

Pesquisadores desenvolvem fármaco a partir da semente do açaí para tratar transtornos de ansiedade

Números alarmantes reforçam a necessidade de encontrar alternativas para o tratamento da ansiedade

Divulgação, UERJ

Fonte

UERJ | Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Data

terça-feira, 23 abril 2024 20:05

Áreas

Biomedicina. Bioquímica. Biotecnologia. Desenvolvimento de Fármacos. Farmacologia. Neurociências. Neurofarmacologia. Psicologia. Psiquiatria. Química Medicinal. Saúde Pública.

Uma fruta nativa da região amazônica pode se tornar uma grande aliada em tratamentos para transtornos de ansiedade. Esta é a conclusão dos estudos empreendidos, desde 2014, pelo grupo de pesquisa ‘Farmacologia Cardiovascular e Plantas Medicinais’, do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (IBRAG) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Em testes com animais, os pesquisadores descobriram que a semente do açaí age de maneira benéfica no sistema nervoso central, desempenhando uma ação ansiolítica.

A investigação desenvolvida na Universidade é inédita, pois a maioria das pesquisas trabalha com a polpa do fruto. A professora Dra. Angela de Castro Resende, coordenadora do grupo, explicou que o extrato do caroço do açaí é mais rico em polifenóis do que o da polpa. “Tais substâncias são responsáveis por várias propriedades benéficas, como ações anti-hipertensiva e vasodilatadora, melhora da sensibilidade à insulina e do perfil lipídico e efeitos anti-inflamatório e antioxidante”, apontou a pesquisadora.

Por conta dos efeitos antioxidantes do extrato da semente, o grupo passou a investigar seu uso para o tratamento e prevenção de doenças neurodegenerativas. “Como a gente já tinha estudado amplamente esses efeitos do nosso extrato, começamos a imaginar que ele poderia também ter uma ação benéfica no sistema nervoso central”, explicou a Dra. Graziele Freitas de Bem, participante da pesquisa e professora do IBRAG. Um primeiro estudo buscou entender os impactos do extrato na depressão e, a partir daí, o grupo começou uma série de testes sobre seu efeito ansiolítico.

Epidemia de ansiedade

O projeto Linhas de Cuidado, do Ministério da Saúde, compreende a ansiedade como uma resposta natural do organismo a situações adversas, desconhecidas e até imaginárias. É uma forma de reação que coloca a pessoa em estado de alerta e pode atuar como proteção. Entretanto, pode se tornar um transtorno quando se manifesta com muita frequência e por tempo prolongado, gerando sintomas físicos e comportamentais. Esse tipo de condição pode ser explicado por disfunções, inclusive bioquímicas, que interferem na capacidade de reação do indivíduo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou, em 2019, que cerca de 4% da população mundial sofria com transtornos de ansiedade. No Brasil, a ansiedade é ainda mais prevalente, acometendo 9,3% da população. “Daria para considerar que há uma epidemia de ansiedade”, apontou a Dra. Graziele de Bem. Somado a tais circunstâncias, há um crescimento exponencial no uso de psicofármacos para tratamento da doença.

Os números alarmantes reforçam a necessidade de encontrar alternativas para o tratamento da doença. A professora Angela Resende acredita que o estudo com o extrato da semente do açaí é uma esperança. “Atualmente, os fármacos utilizados para o tratamento da ansiedade têm sérios efeitos adversos, o que não tem sido observado em nossas pesquisas”, ressaltou a coordenadora. A Dra. Graziele de Bem complementou: “O que vimos até agora, ao longo de todos esses anos estudando o extrato do caroço do açaí, foram pouquíssimos efeitos colaterais para além dos benéficos”.

Da extração aos resultados

O preparo do extrato não é simples e leva alguns dias. As sementes, comumente descartadas, são trituradas e colocadas em uma solução com 50% de água e 50% de álcool. Esse preparo é armazenado em um frasco escuro e fica em agitação por alguns dias, até que se faça a remoção total do álcool e da água. O resultado é um pó que será diluído em solução para os testes feitos com os animais. Esse extrato foi chamado de ASE, abreviatura da expressão açaí seed extract.

Para que atendessem ao modelo do estudo, os roedores passaram por situações de estresse na fase inicial da vida, que resultaram em comportamento ansioso na idade adulta. Com 76 dias de vida, eles foram separados em grupos e tratados, por via oral, com o ASE e com fluoxetina, medicamento comumente utilizado em tratamentos contra ansiedade, para efeitos comparativos. Os animais passaram, então, por avaliações comportamentais e bioquímicas.

Os testes de comportamento avaliaram a capacidade de resposta dos ratos quando colocados em situações adversas. Um deles foi o de campo aberto, quando os animais ficam soltos em uma pequena caixa retangular. A forma de locomoção neste espaço pode indicar um comportamento ansioso. Outro teste foi o de nado forçado, mostrando que os roedores com maiores indícios de ansiedade tentavam escapar do recipiente ou despendiam mais energia para se manter na superfície da água.

Foi realizada avaliação dos tecidos nervosos dos animais, com o objetivo de identificar a produção de hormônios e receptores que ajudam o organismo a regular a ansiedade. Os resultados dessa análise mostraram que os animais considerados ansiosos tiveram aumento excessivo de concentrações do hormônio liberador de corticotrofina, substância essencial na reação dos roedores diante dessas situações. O tratamento com o ASE mostrou ser eficiente na reversão desses processos. “Isso demonstra que o extrato está reduzindo os efeitos da hiperestimulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), o que indica uma maior capacidade de reagir a essas situações, diminuindo a ansiedade”, explicou a Dra. Graziela. “Estes achados inovadores indicam um grande potencial no tratamento e prevenção da ansiedade e de outras doenças, como as neurodegenerativas”, concluiu a professora Angela Resende.

Acesse a notícia completa na página da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Fonte: Diretoria de Comunicação da UERJ. Imagem: após o preparo, as sementes se tornam um pó a ser diluído para os testes. Fonte: Divulgação, UERJ.

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