Notícia

Pesquisadores identificam proteína associada ao agravamento da leucemia mieloide aguda

Com a descoberta, componente pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos não invasivos e servir como um marcador da evolução do quadro

Wikimedia Commons

Fonte

Agência FAPESP

Data

segunda-feira, 26 julho 2021 06:25

Áreas

Biologia. Hematologia. Oncologia.

Uma descoberta feita no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) traz uma nova perspectiva de terapia para a leucemia mieloide aguda, um tipo de câncer agressivo que afeta o sangue.

A doença representa cerca de 80% das leucemias agudas do adulto e 36% dos óbitos de leucemia entre 2008 e 2017, sendo mais comum em pessoas com mais de 60 anos. Os tratamentos disponíveis são quimioterapia ou transplante de medula óssea, única opção curativa em caso de falha nos tratamentos medicamentosos.

A pesquisa identificou um marcador da evolução da doença, a proteína ezrina. A partir disso, fármacos que inibem a proteína podem ser usados para encontrar uma terapia não invasiva, especialmente para os idosos, que não são elegíveis para o transplante.

Coordenado pelo professor Dr. João Agostinho Machado-Neto e conduzido pelo doutorando Jean Carlos Lipreri da Silva, ambos do ICB-USP, o estudo foi publicado na revista científica Cellular Oncology e está vinculado a três projetos financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP):

A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Biologia do Câncer e Antineoplásicos do Departamento de Farmacologia do ICB-USP. O grupo tem como objetivo aumentar o leque de opções para o tratamento da leucemia e foca na compreensão da biologia do câncer, assim como no estudo de novas moléculas com potencial terapêutico.

A primeira etapa do trabalho consistiu na análise de dados do The Cancer Genome Atlas (TCGA), uma iniciativa global de troca de informações sobre a doença. Na plataforma, são catalogadas as mutações genéticas responsáveis pelo câncer a partir de sequenciamento de genoma e bioinformática.

“Com os dados do TCGA, estudamos o papel das proteínas que regulam o citoesqueleto, um conjunto de fibras que ficam no citoplasma das células. Depois de minerar os dados, vimos que a ezrina tinha uma característica diferente das demais: os pacientes que tinham mais ezrina morriam mais. Isso é importante para entender como o câncer pode evoluir”, detalhou o Dr. João Machado-Neto, em entrevista para a Acadêmica Agência de Comunicação.

A partir do marcador, os médicos poderiam atuar de maneira mais eficaz no tratamento. Isso porque, atualmente, em pacientes de grupo de risco intermediário é difícil prever o curso da doença. “A ezrina pode ser um critério para tomar uma decisão clínica no futuro e verificar se o paciente vai precisar ou não de uma terapia mais agressiva”, completou o professor.

Além da análise de dados, foram realizados testes in vitro com células leucêmicas humanas. Por meio de um fármaco, que tem propriedades já conhecidas e até então só é utilizado em pesquisas, o grupo conseguiu inibir a ezrina e aumentar a morte das células tumorais. “Trabalhar com uma molécula já conhecida aumenta as chances de levá-la para ensaio clínico. Quando os testes são apenas com ferramentas genéticas, é possível provar um conceito, mas a probabilidade de transformar isso em remédio em curto prazo é menor”, destacou o especialista.

O processo de identificar uma nova molécula e desenvolver um medicamento que possa ser usado em pacientes é longo, durando em média 15 anos. Mas o avanço já é significativo, pois a demanda por um novo tratamento é grande.

Os primeiros testes foram feitos em linhagens celulares humanas de uso comercial para pesquisa. Para a próxima etapa, o grupo obteve aprovação do Comitê de Ética da USP para fazer testes em células de pacientes acometidos pela leucemia a partir da doação de uma amostra de sangue periférico ou de medula óssea. A expectativa é que os testes em animais sejam iniciados nos próximos dois anos.

Além disso, os pesquisadores estão testando compostos em outros tipos de leucemia, que também precisam de novas terapias.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Assessoria de Comunicação do ICB-USP e Agência FAPESP.

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