Notícia
Pesquisadores propõem tratamento de tumores com células dendríticas projetadas
Biólogos desenvolveram uma nova imunoterapia que não requer conhecimento da composição antigênica de um tumor
Dr. Michele De Palma, EPFL
Fonte
EPFL | Escola Politécnica Federal de Lausanne
Data
terça-feira, 28 novembro 2023 18:00
Áreas
Biologia. Biomedicina. Engenharia Biológica. Imunologia. Imunoterapia. Medicina de Precisão. Microbiologia. Oncologia. Patologia. Saúde Pública., Vacinas.
As células dendríticas (CDs) atuam na vanguarda do sistema imunológico. Elas podem capturar ativamente antígenos, como fragmentos de vírus, bactérias e células cancerígenas mutantes, e direcionar outras células do sistema imunológico contra esses agentes invasores. Este processo, denominado apresentação de antígeno, geralmente resulta na ativação de um segundo tipo de célula imunológica, a célula T CD8, que pode eliminar células infectadas ou com mutação anormal. Assim, as CDs desempenham um papel importante na organização da imunidade contra patógenos e células cancerígenas.
Infelizmente, os tumores muitas vezes erguem barreiras contra o sistema imunológico do corpo, permitindo-lhes crescer descontroladamente. Esse revés, denominado imunossupressão, pode envolver a inibição das CDs e sua capacidade de apresentar antígenos tumorais às células T CD8.
Limitações das vacinas tradicionais
Ao longo das últimas décadas, os pesquisadores têm trabalhado para superar a imunossupressão induzida por tumores através de várias estratégias, chamadas coletivamente de imunoterapias, algumas das quais são tratamentos aprovados e eficazes em pacientes com determinados tipos de câncer. Uma abordagem é gerar CDs a partir de monócitos sanguíneos (um tipo de glóbulos brancos imunes) de um paciente com câncer, expô-los no laboratório a material derivado de tumor definido a partir de uma biópsia tumoral (etapa de carregamento de antígeno) e, em seguida, reintroduzi-los no corpo do paciente. Espera-se que este procedimento, muitas vezes referido como vacina CD, melhore significativamente a apresentação de antígenos tumorais às células T CD8.
No entanto, as vacinas CD produziram resultados mistos em estudos clínicos. Uma limitação potencial é o uso de CDs derivadas de monócitos. Estas células carecem de certas propriedades essenciais das CDs de ocorrência natural, como as CDs tipo I (cCD1), que desempenham um papel crucial na ativação das células T CD8. Outra deficiência potencial é a sua dependência da etapa de carregamento de antígeno, que utiliza antígenos predefinidos que podem não representar todo o espectro de antígenos relevantes presentes nas células cancerígenas. Abordar as limitações das vacinas tradicionais poderia aumentar a sua eficácia terapêutica.
Recentemente, uma equipe de cientistas liderada pelo Dr. Michele De Palma, professor da Escola de Ciências da Vida da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL) e diretor do Agora Cancer Research Center, desenvolveu CDs projetadas com capacidade de se diferenciar em cCD1 e de estimular a imunidade antitumoral quando transferidas para camundongos com tumores, sem a necessidade da etapa de carregamento de antígeno. O estudo foi publicado na revista científica Nature Cancer.
“Nossa estratégia não usa CDs derivadas de monócitos empregadas em estudos anteriores, mas depende de uma população de progenitores de CDs (PCDs), que podemos produzir in vitro em laboratório a partir de fontes prontamente disponíveis, como sangue e medula óssea”, explicou o professor.
Superando os resultados
Quando projetado para expressar duas moléculas imunoestimulantes (IL-12 e FLT3L), o PCD poderia iniciar respostas imunes antitumorais eficazes em vários modelos de câncer, superando os resultados alcançados com outras formulações tradicionais de CD. “Notavelmente, os PCDs projetados funcionaram na ausência de carga de antígeno, o que implica que poderiam ser potencialmente eficazes contra uma ampla gama de cânceres humanos, independentemente dos antígenos que expressam”.
A capacidade dos PCDs projetados para envolver amplamente vários componentes do sistema imunológico, não limitados às células T CD8, pode explicar a sua eficácia. “Um resultado muito promissor foi a capacidade dos PCDs de desbloquear a eficácia das células CAR-T na erradicação de tumores cerebrais em camundongos”, disse o professor Dr. Denis Migliorini, chefe de neuro-oncologia da Universidade de Genebra e um dos autores do estudo. As células CAR-T são outra classe de células imunológicas projetadas já aprovadas para o tratamento de certos tumores, mas sua eficácia no câncer cerebral tem sido até agora limitada. “Estamos empenhados em combinar PCDs com células CAR-T em pacientes com câncer cerebral incurável”, acrescentou o Dr. Denis Migliorini.
“Os nossos resultados pré-clínicos requerem mais desenvolvimento e testes antes de passarmos para a aplicação clínica”, advertiu o Dr. Michele De Palma. Os PCDs podem ser facilmente obtidos a partir de sangue humano, o que deverá facilitar a tradução dos resultados pré-clínicos numa imunoterapia potencialmente transformadora contra o câncer.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Escola Politécnica Federal de Lausanne (em inglês).
Fonte: Escola Politécnica Federal de Lausanne. Imagem: Tumor cerebral (glioma) de um camundongo. Fonte: Dr. Michele De Palma, EPFL.
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