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Terapias de imunização passiva contra a COVID-19 são tema de webinário realizado pela Academia Brasileira de Ciências
Diante da pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), que ultrapassou a marca de 400 mil mortes oficialmente registradas apenas no Brasil, cientistas de todo o mundo têm se mobilizado na busca de soluções para enfrentar a COVID-19. O tratamento com imunização passiva, empregado nos casos de pacientes já acometidos pelo vírus, especialmente aqueles que precisam de internação – diferentemente das vacinas, que atuam na prevenção, pela imunização ativa – é uma das alternativas atualmente em estudo em vários países. Na busca por terapias efetivas para combater os efeitos mais graves da doença, diversos tratamentos de imunização passiva estão sendo testados, incluindo o uso de plasma de indivíduos convalescentes de COVID-19, de anticorpos monoclonais e de produtos à base de globulina hiperimune a partir da imunização de equinos. Nesse sentido, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) realizou, no último dia 27 de abril, o webinário “Soro hiperimune, plasma convalescente e imunoterapia para a COVID-19”, que reuniu pesquisadores para discutir essas formas terapêuticas em desenvolvimento dentro e fora do País. O webinário foi coordenado pelo presidente da ABC, Dr. Luiz Davidovich, e pelo presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), Dr. Jerson Lima da Silva.
Abrindo o debate, o Dr. Fábio Klamt, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) falou sobre o uso do plasma convalescente para o tratamento da COVID-19. Ele explicou o método de doação do plasma do sangue de pacientes recuperados, ao qual ele mesmo aderiu, de forma pioneira. Após contrair COVID-19 e ficar internado, em abril de 2020, o Dr. Fábio Klamt, de 44 anos, se tornou o doador de plasma para o primeiro paciente a receber esse tipo de tratamento em terras gaúchas, que ficou internado em UTI sob os cuidados de respiração ventilatória mecânica, e recebeu alta. “Fiquei hiperimune logo após a minha recuperação por COVID-19 e a minha bolsa de plasma foi a primeira utilizada para transfusão por esse método no Rio Grande do Sul, no Hospital Virvi Ramos”, destacou. “Hoje sabemos, por diversos estudos, que nos estágios mais avançados da doença, quando ocorre pneumonia e hiperinflamação, os benefícios dessa terapia com plasma são mais limitados. O benefício máximo dessa terapêutica ocorre no primeiro estágio da doença, o estágio viral, para impedir que o vírus infecte as células do paciente. O plasma doado deve ser hiperimune também, e nesse caso pode reduzir as chances de mortalidade em torno de 50%”, explicou, citando pesquisa publicada na revista científica American Journal of Pathology. O Dr. Fábio Klamt participa de um consórcio de pesquisadores no Rio Grande do Sul que vai investigar os efeitos da transfusão do plasma de pessoas imunizadas pela vacinação para pacientes com sintomas iniciais de COVID-19.
O Dr. Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, compartilhou a experiência da produção e desenvolvimento do soro anti-SARS-Cov-2 pelo instituto, que produz soros diversos há 120 anos. “Atualmente o Butantan tem 12 soros em produção, para combater venenos, toxinas e o antirrábico, e vamos incorporar este 13º soro, para COVID, que começamos a desenvolver desde março do ano passado. Já temos mais de quatro mil frascos disponíveis e estamos no início da fase de estudos clínicos, aprovada em março de 2021 pela Anvisa”, relatou o Dr. Dimas. “Já testamos esse soro contra as variantes P1 e P2 e ele funciona muito bem. Em experimentos realizados em laboratório com hamsters, observamos um efeito protetor na evolução da COVID na análise histopatológica do tecido pulmonar, prevenindo a formação de lesões nos pulmões”, completou. O Dr. Dimas Covas contou que o Butantan também vem realizando estudos com o uso do plasma hiperimune, o que ocorreu durante a crise de COVID-19 na cidade de Araraquara (SP), por meio de um programa em parceria com a Hemo Rede de São Paulo e com a Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia. Na linha de imunização ativa, o instituto trabalha na produção da vacina Coronavac e, no último dia 28 de abril, anunciou o início da produção do primeiro lote da vacina Butanvac, que ainda seguirá para testes clínicos.
O Dr. Fernando Goldbaum, professor da Universidade Nacional de San Martín, cofundador e diretor científico da Inmunova, empresa de biotecnologia argentina fundada por pesquisadores ligados ao Instituto Leloir, falou sobre as etapas de desenvolvimento do CoviFab, o soro hiperimune anti-SARS-CoV-2 da empresa. “Em julho de 2020, demos início à produção do soro e seguimos para as fases de testes clínicos até dezembro. Hoje estamos trabalhando com 150 cavalos, produzindo de 12 a 15 mil tratamentos mensais. Ao todo, já foram produzidos mais de 40 mil soros para serem usados em seres humanos”, disse o Dr. Goldbaum. Os resultados foram publicados, na edição do mês de abril da revista científica EClinicalMedicine, que integra o grupo The Lancet. “Pacientes tratados com o soro receberam, em média, alta em 14 dias, dois dias antes do que o grupo placebo, que não recebeu o soro e teve alta em 16 dias. Já o índice de mortalidade observado foi de 11,4% no grupo placebo, frente a 6,7% no grupo que recebeu o CoviFab”, complementou. O soro argentino demonstrou reduzir a mortalidade em 45%, a necessidade de hospitalização em cuidados intensivos em 24% e a necessidade de ventilação mecânica em pacientes com doença em 36%, em casos moderados a graves. Cerca de 1670 pacientes receberam, até então, esse tratamento, em diferentes províncias da Argentina.
Já o Dr. Jerson Lima, presidente da FAPERJ, professor titular e pesquisador no Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ), destacou a experiência de produção do soro anti-SARS-CoV-2 no estado do Rio de Janeiro. O projeto foi estabelecido a partir de uma parceria entre a UFRJ, o Instituto Vital Brazil (IVB), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, logo após o início da pandemia, em março de 2020, e conta com o apoio da FAPERJ, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). “Utilizamos a proteína S inteira, produzida em células de mamíferos, como antígeno para a induzir a produção do soro, a partir da aplicação desse antígeno em cavalos no IVB, em Niterói”, resumiu o Dr. Jerson Lima. A produção da proteína S ocorre no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (LECC), ligado ao Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), coordenado pela professora Dra. Leda Castilho. Essa proteína é a chave para a formulação de diversas vacinas antiCOVID.
Acesse a íntegra do debate.
Acesse a notícia completa na página da FAPERJ.
Fonte: Débora Motta, FAPERJ.
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