Destaque

Comitê internacional divulga diretrizes para pesquisas que envolvam a edição do genoma humano

Fonte

Agência FAPESP

Data

segunda-feira. 27 março 2023 07:10

A edição do genoma de embriões humanos – seja com o objetivo de prevenir doenças ou de selecionar determinadas características físicas – permanece inaceitável neste momento, pois os padrões de segurança e eficácia necessários não foram alcançados. Por outro lado, um progresso notável foi feito na edição somática do genoma humano (não relacionada com células germinativas), tornando possível curar doenças antes incuráveis. Mais pesquisas são necessárias para expandir a gama de enfermidades que podem ser tratadas por edição genômica e compreender melhor os riscos envolvidos no procedimento. Além disso, um compromisso global com o acesso equitativo a esses tratamentos é urgentemente necessário.

Esses são os principais pontos de uma declaração divulgada pelo Comitê Organizador da Terceira Cúpula Internacional sobre Edição do Genoma Humano – realizada em Londres (Reino Unido), entre os dias 6 e 8 de março, pela The Royal Society, a Academia de Ciências Médicas do Reino Unido, as Academias Nacionais de Ciências e Medicina dos Estados Unidos e a Academia Mundial de Ciências. O encontro deu continuidade às discussões ocorridas em Washington (2015), nos Estados Unidos, e em Hong Kong (2018), na China, sobre os avanços e desafios das pesquisas na área.

O Comitê Organizador da cúpula é presidido pelo geneticista britânico Dr. Robin Lovell-Badge, do Francis Crick Institute – famoso por sua descoberta, em parceria com o Peter Goodfellow, do gene (SRY) determinante do sexo em mamíferos, que está presente no cromossomo Y – e conta com a participação de duas brasileiras: a geneticista Dra. Mayana Zatz, professora da Universidade de São Paulo (USP), e a cientista social Elisa Reis, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Foi no evento realizado em Hong Kong que um cientista chinês [He Jiankui] revelou ter implantado dois embriões do sexo feminino que tiveram os genes alterados para que fossem resistentes ao vírus HIV. Ele achava que ia causar furor com o anúncio, mas a reação da comunidade científica foi muito ruim”, relembrou a Dra. Mayana Zatz em entrevista à Agência FAPESP. Logo após o episódio, He Jiankui foi preso e, desde esse dia, nenhuma informação sobre as gêmeas foi divulgada. “Na época ele disse que havia um terceiro bebê, mas não se sabe se chegou a nascer e o que aconteceu com a criança. Já solto, esse cientista tem oferecido tratamentos de edição gênica para diversas doenças, entre elas distrofia de Duchenne”, revelou a pesquisadora, que coordena o Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.

Na avaliação da professora Mayana Zatz, a edição germinativa do genoma humano ainda levará alguns anos para se tornar algo factível. “Não sabemos quantos. Hoje temos como alterar um gene específico, mas ainda não compreendemos se isso pode afetar o funcionamento de outros genes ao acaso. Ainda não temos o controle do processo. A comunidade científica está totalmente contrária à prática no momento”, destacou a pesquisadora.

A Dra. Mayana Zatz defende, no entanto, que sejam liberadas as pesquisas com embriões remanescentes de tratamentos de fertilização assistida, que não puderam ser implantados por apresentarem alterações genéticas: “Podemos fazer experimentos para tentar corrigir a mutação causadora de doença no embrião, sem implantá-lo em uma paciente. Somente assim poderemos tornar a coisa mais segura”, afirmou.

Mas a pesquisadora ressalta que, ainda que um dia esse tipo de manipulação genética se torne viável, continuará sendo uma fantasia a ideia de ‘desenhar’ bebês mais inteligentes ou bonitos ou de curar doenças complexas, como a hipertensão, por meio de edição gênica.

“Características como inteligência e beleza, além de envolver vários genes, dependem da interação com o ambiente. O mesmo ocorre com as chamadas doenças complexas e multifatoriais”, concluiu a pesquisadora.

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Karina Toledo, Agência FAPESP.

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