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‘Confusão imunológica’: pesquisadores identificam sinais de alerta precoce para a dengue grave, o que pode levar a melhor diagnóstico e tratamento

Fonte

UNSW | Universidade de Nova Gales do Sul

Data

segunda-feira. 6 novembro 2023 14:05

Pesquisadores da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW) em Sydney, Austrália, e da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, demonstraram que o vírus da dengue pode perturbar o sistema imunológico em crianças, levando a doenças mais graves. Estas alterações no sistema imunológico, chamadas de ‘confusão imunológica’, poderiam ser utilizadas para diagnosticar pacientes em risco e poderiam  ser alvo de terapêuticas.

Os resultados foram publicados na revista científica Nature Immunology.

A maioria das pessoas infectadas com o vírus da dengue não apresenta sintomas ou apresenta febre que passa rapidamente. No entanto, 5% das pessoas evoluem para dengue grave, o que pode significar falência de órgãos e até morte poucos dias após o aparecimento dos sintomas. O risco é particularmente elevado para as crianças, que apresentam as reações mais graves ao vírus da dengue.

Até agora, havia pouca compreensão do porquê de alguns pacientes terem dengue leve, enquanto outros evoluem para doenças graves. “Este estudo visa tentar entender o que está errado. O que acontece no sistema imunológico dessas crianças que não respondem bem à infecção?”, disse o Dr. Fabio Zanini, coautor sênior do estudo, que lidera o Fabilab na UNSW Medicine & Health.

Aumentando o risco de dengue

O vírus da dengue, transmitido por mosquitos, infecta aproximadamente 400 milhões de pessoas a cada ano. Pessoas com dengue lotam hospitais durante a estação chuvosa na África tropical, Ásia e América do Sul, onde a doença é endêmica.

O vírus da dengue não é endêmico na Austrália. No entanto, o principal mosquito transmissor, Aedes aegypti, pode ser encontrado no norte de Queensland, onde ocorreram pequenos surtos. “Por enquanto, o vírus da dengue é um problema que afeta principalmente os países tropicais e subtropicais. Mas os mosquitos que espalham o vírus da dengue também estão presentes em partes da Austrália, especialmente no norte do país. Além disso, a área de habitat destes mosquitos está se expandindo ao longo do tempo devido às mudanças climáticas”, destacou o Dr. Zanini.

Apesar de décadas de investigação, existe uma única vacina licenciada contra a dengue (Dengvaxia, fabricada pela Sanofi), com aceitação limitada devido a questões sobre segurança e eficácia. Também não existe tratamento antiviral para limitar a progressão de um paciente para dengue grave.

Estudo multidisciplinar

Para este estudo, os pesquisadores se concentraram nas crianças porque elas apresentam maior risco de dengue grave. Os participantes do estudo foram 19 crianças colombianas que compareceram aos serviços de saúde com infecção pelo vírus da dengue em estágios iniciais. Aproximadamente metade deste grupo evoluiu para doença grave. Quatro crianças saudáveis que se apresentaram para exames de rotina ou procedimentos eletivos foram incluídas como grupo controle.

Os pesquisadores analisaram amostras de sangue colhidas das crianças no primeiro dia em que apresentaram dengue. Eles usaram uma técnica chamada sequenciamento de RNA de célula única, o que lhes permitiu estudar células imunológicas individuais no sangue e como elas se comportavam.

“A questão era: se colhermos amostras de sangue dos pacientes no primeiro dia, quando eles chegam ao hospital, e usarmos as tecnologias mais avançadas e os algoritmos computacionais mais sofisticados, poderemos ver sinais precoces de progressão para dengue grave?”, questionou o Dr. Zanini.

Foi necessária uma colaboração estreita entre investigadores com experiência em Imunologia e Medicina Clínica, bem como competências técnicas especializadas para analisar os dados. O Dr. Zanini formou-se originalmente como físico e obteve um doutorado em bioinformática, agora usando sua experiência em análise de dados e ciência da computação na pesquisa médica. A Dra. Shirit Einav, também coautora sênior e professora da Universidade Stanford, é pesquisadora clínica especializada em doenças infecciosas.

Confusão imunológica

Nas crianças que evoluíram para dengue grave, os pesquisadores identificaram três alterações principais nas células imunológicas do sangue.

Em primeiro lugar, descobriram que as células portadoras de antígenos se comportavam de forma diferente. Normalmente, as células portadoras de antígenos captam as partículas do vírus da dengue, cortam-nas em pedaços menores e mostram esses fragmentos do vírus ao resto do corpo como um alerta de infecção.

Em segundo lugar, as células B ficaram fortemente infectadas com o vírus da dengue e tiveram a capacidade prejudicada de produzir anticorpos, que são uma das principais armas do sistema imunológico para combater infecções.

“O terceiro elemento do quebra-cabeça é que certas células chamadas células assassinas naturais, e suas células T, parecem estar em um estranho estado de quiescência ou exaustão”, disse o Dr. Zanini. “Esperamos que sejam ‘máquinas de matar vírus’. Em vez disso, elas apenas observam a ação e se perguntam se devem fazer algo ou não”.

Esta confusão imunológica significa que o sistema imunológico da criança não a protege do vírus como faria normalmente, levando à dengue grave.

Importância dos sinais de alerta precoce

Ao compreender o que acontece de errado no início da infecção pelo vírus da dengue, podem ser desenvolvidos testes de diagnóstico para identificar quais pacientes estão em risco de doença grave. “Os métodos atuais para prever quais pacientes irão progredir para dengue grave baseiam-se em parâmetros clínicos que aparecem no final do curso da doença”, disse a Dra. Yike Xie, coautor do estudo que completou seu doutorado na UNSW Medicine & Health, agora trabalhando na Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e na AstraZeneca.

“Esses métodos não são sensíveis e específicos. Os médicos têm que manter a maioria dos pacientes sintomáticos no hospital e monitorar a progressão subsequente da doença”, continuou a pesquisadora.

As alterações no sistema imunológico dos pacientes também poderiam ser tratadas com terapêutica para prevenir a progressão para dengue grave. Por exemplo, os médicos poderiam prescrever um medicamento que reativasse as células assassinas naturais e as células T para combater a infecção.

Os investigadores já continuam o seu trabalho para compreender melhor a ligação entre a ‘confusão imunológica’ e a dengue grave, utilizando sequenciamento de RNA de célula única e outras técnicas analíticas avançadas.

“Este é um ótimo exemplo de como é importante fazer com que cientistas com experiências diferentes colaborem em um esforço de equipe. É o trabalho em equipe que faz a ciência emergir”, concluiu o Dr. Fabio Zanini.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Nova Gales do Sul (em inglês).

Fonte: Maddie Massy-Westropp, UNSW Medicine & Health.

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