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Terapia administrada por micropartículas pode ser o primeiro passo para interromper esclerose múltipla e outras doenças autoimunes
De acordo com o Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame (NINDS/NIH) dos Estados Unidos, quase 3 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com esclerose múltipla, uma doença neurológica incapacitante na qual o sistema imunológico do corpo ataca erroneamente os nervos que levam informações ao sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal). Embora raramente fatal, a esclerose múltipla pode levar a incapacidades de longo prazo e prejudicar o movimento, o controle muscular, a visão e a cognição.
Atualmente não há cura para a esclerose múltipla. No entanto, as descobertas de um novo estudo da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, fornecem forte suporte para um avanço promissor em direção a esse objetivo: a capacidade de reverter – e em muitos casos, aliviar completamente – sintomas semelhantes aos da esclerose múltipla em camundongos.
Os resultados do estudo foram publicados na revista Science Advances.
Por uma razão desconhecida em pessoas com esclerose múltipla, parte da primeira linha de defesa do corpo contra invasores estranhos (as células imunes conhecidas como células T CD4+) falha em reconhecer que a mielina (o material gorduroso que envolve e protege as células nervosas) é uma parte normal do sistema humano. Se essas células T rebeldes (células efetoras), se tornam dominantes, elas podem provocar inflamação que danifica ou destrói a bainha de mielina, o que, por sua vez, pode interromper gravemente ou reduzir a transmissão de impulsos nervosos de todas as partes do corpo para o cérebro.
“Desenvolvemos um método para ‘inclinar o equilíbrio’ das células T que atingem o sistema nervoso central de efetores para células T reguladoras (T regs), que modulam o sistema imunológico e demonstraram prevenir reações autoimunes”, disse o Dr. Giorgio Raimondi, coautor sênior do estudo, diretor associado do Vascularized Composite Allotransplantation Research Laboratory e professor de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins.
“Usando esta terapia em camundongos criados para exibir sintomas semelhantes aos observados em humanos com esclerose múltipla, descobrimos que poderíamos aumentar o crescimento de T regs e, ao mesmo tempo, reduzir o número de células efetoras, resultando na reversão dos sintomas semelhantes aos da esclerose múltipla em 100% dos camundongos, e ainda mais emocionante, alcançando uma recuperação total em 38% – em outras palavras, mais de um terço [dos animais] foram curados da doença.”
Os pesquisadores alcançaram esses resultados intrigantes usando micropartículas poliméricas biodegradáveis – minúsculas esferas de polímeros de bioengenharia – para fornecer três agentes terapêuticos principais:
- uma fusão de duas proteínas: interleucina-2 (IL-2), que estimula a produção e crescimento de células T, e um anticorpo que bloqueia certos locais de ligação na IL-2 para otimizar os relevantes para a expansão de T regs;
- uma molécula de classe II do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) com um peptídeo de mielina (fragmento de proteína) ‘apresentado’ em sua superfície para selecionar imunologicamente as T regs específicas da mielina (e, portanto, protetores da cobertura das células nervosas) em vez de outros tipos de células T; e
- rapamicina, uma droga imunossupressora que ajuda a diminuir o número de células T efetoras.
“Injetamos as micropartículas carregadas perto dos tecidos linfáticos para estimular a produção e o crescimento de T regs e facilitar sua passagem para o sistema nervoso central através do sistema linfático”, disse o Dr. Jordan Green, também coautor sênior do estudo, diretor do Biomaterials and Drug Delivery Laboratory e professor de Engenharia Biomédica na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins. “Os resultados do nosso estudo mostraram que, em todos os nossos camundongos, as T regs interromperam a atividade autoimune das [células] efetoras contra a mielina, impediram mais danos aos nervos e deram a eles o tempo necessário para se recuperar”, concluiu o pesquisador.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins (em inglês).
Fonte: Michael Newman e Vanessa Wasta, Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins.
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