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Transplante de medula óssea: qual é o impacto da quimioterapia no cérebro?

Fonte

ICM | Paris Brain Institute

Data

domingo. 27 fevereiro 2022 12:30

Mais de 50.000 transplantes de células-tronco derivadas da medula óssea são realizados a cada ano em todo o mundo para tratar muitas patologias, incluindo doenças cerebrais.

Antes do transplante de células, os pacientes recebem quimioterapia, que destrói as células do sistema imunológico e, assim, impede que as células transplantadas sejam rejeitadas pelo organismo. Até agora, as consequências de tal tratamento no cérebro não eram bem compreendidas.

Em um novo estudo, pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm), Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) e do Instituto Pasteur, na França, agrupados dentro do Paris Brain Institute (Inserm/CNRS/Sorbonne University) e do laboratório “Genes, synapses and cognition” (CNRS/Instituto Pasteur), se interessaram por esse questão.

Novo estudo

Usando um modelo animal, os pesquisadores descobriram ICMcomo a quimioterapia pré-transplante facilitou a substituição de células imunes inatas no cérebro, as microglias, por outras células imunes derivadas de células-tronco transplantadas (macrófagos). Os resultados foram publicados na revista científica Nature Medicine.

Muitas doenças cerebrais levam à desmielinização progressiva do sistema nervoso central com sintomas neurológicos devastadores e risco de morte prematura (por exemplo, leucodistrofia). A terapia gênica destinada a corrigir mutações genéticas causadoras de doenças diretamente nas células-tronco da medula óssea, e seu subsequente transplante autólogo em pacientes, desenvolveu-se nos últimos anos e agora é um tratamento de escolha para muitas dessas condições.

Estudos clínicos mostraram que o uso de quimioterapia antes do transplante de células-tronco de medula óssea, usando um agente quimioterápico chamado bussulfano, permite o enxerto eficiente e a tolerância das células geneticamente modificadas pelo organismo. No entanto, muitas dúvidas permanecem, principalmente sobre os mecanismos envolvidos e o impacto desse tratamento pré-transplante no cérebro dos pacientes.

Portanto, os cientistas estudaram as consequências desse tratamento em várias populações de células cerebrais em um modelo animal. Eles analisaram células microgliais, células imunes cerebrais que são essenciais para manter a fisiologia cerebral saudável em estados normais e patológicos. Essas células têm uma forte capacidade de autorrenovação ao longo da vida.

Em seu trabalho, os cientistas mostram que após a quimioterapia com bussulfano, as células microgliais perdem completamente essa capacidade regenerativa e que muitas dessas células morrem por senescência.

No entanto, esse processo não seria prejudicial ao cérebro, pois após o transplante, as células desaparecidas são rapidamente substituídas por células derivadas da medula óssea (macrófagos). As células microgliais eliminadas pela quimioterapia com bussulfano deixam nichos vazios no cérebro que logo são preenchidos por macrófagos derivados da medula óssea. Esses macrófagos então adotam a morfologia e o comportamento da micróglia normal.

“As células microgliais desempenham um papel essencial no funcionamento do cérebro e na fisiopatologia de muitas doenças neurológicas graves, tanto genéticas quanto complexas, como esclerose múltipla e doença de Alzheimer. Compreender o destino dessas células após o processo de transplante é essencial tanto para esclarecer as consequências da quimioterapia quanto para desenvolver novas estratégias terapêuticas para doenças neurodegenerativas graves”, explicou a Dra. Nathalie Cartier, diretora de pesquisa do Inserm na equipe NeuroGenCell do Paris Brain Institute e coautora do estudo.

Célula microglial (verde) que acabou de se dividir (marcação vermelha) e já está em processo de morte celular (marcador de senescência azul ) após quimioterapia (tratamento com bussulfan). Fonte:  K. Sailor/PM Lledo, Institut Pasteur.

Estudos futuros terão como objetivo determinar se esses macrófagos adotam todas as propriedades das células microgliais endógenas do cérebro.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Paris Brain Institute (em francês).

Fonte: Paris Brain Institute (ICM). Imagem: K. Sailor/PM Lledo, Institut Pasteur.

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