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Detecção de bactérias resistentes a antibióticos triplicou na pandemia

Os dados reforçam uma preocupação dos especialistas: ao longo da emergência sanitária causada pelo novo coronavírus, vem sendo observado aumento na disseminação de microrganismos capazes de resistir a diversos antibióticos, conhecidos popularmente como ‘superbactérias

Gutemberg Brito, IOC/Fiocruz

Fonte

Fiocruz | Fundação Oswaldo Cruz

Data

quinta-feira, 25 novembro 2021 06:25

Áreas

Bacteriologia. Farmacovigilância. Microbiologia. Saúde Pública.

Em 2019, um pouco mais de mil isolados de bactérias resistentes a antibióticos foram enviados por laboratórios de saúde pública de diversos estados do país para análise aprofundada no Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que atua como laboratório de retaguarda da Sub-rede Analítica de Resistência Microbiana em Serviços de Saúde (Sub-rede RM), instituída pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério da Saúde (MS).

Em 2020, primeiro ano da pandemia de COVID-19, o número de amostras positivas passou para quase 2 mil. Em 2021, apenas no período de janeiro a outubro, o índice ultrapassou 3,7 mil amostras confirmadas, um aumento de mais de três vezes em relação a 2019, período pré-pandemia.

Os dados reforçam uma preocupação dos especialistas: ao longo da emergência sanitária causada pelo novo coronavírus, vem sendo observado aumento na disseminação de microrganismos capazes de resistir a diversos antibióticos, conhecidos popularmente como ‘superbactérias’.

“Durante a pandemia, houve aumento no volume de pacientes internados em estado grave e por longos períodos, que apresentam maior risco de infecção hospitalar. Também houve aumento no uso de antibióticos, o que eleva a pressão seletiva sobre as bactérias. É um cenário que favorece a disseminação da resistência, agravando ainda mais um problema de alto impacto na saúde pública”, afirmou a Dra. Ana Paula Assef, chefe do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar.

De acordo com a pesquisadora, o aumento do uso de antibióticos nos hospitais durante a emergência sanitária tem sido apontada em pesquisas no Brasil e no exterior, com alguns trabalhos sugerindo prescrição exagerada. Um grande estudo internacional publicado em janeiro, por exemplo, identificou tratamento com antibióticos em mais de 70% dos pacientes internados por COVID-19. Em contrapartida, a presença de coinfecções causadas por bactérias foi estimada em 8%.

Em agosto, a Anvisa publicou uma Nota Técnica com orientações para prevenção e controle da disseminação de bactérias resistentes em serviços de saúde no contexto da pandemia. O texto reforçou que os antibióticos não são indicados no tratamento de rotina da COVID-19, já que a doença é causada por vírus e esses medicamentos atuam apenas contra bactérias. Dessa forma, os fármacos são recomendados apenas para os casos com suspeita de infecção bacteriana associada à infecção viral.

“Em parte, a alta na prescrição de antibióticos nos hospitais durante a pandemia pode ser justificada pelo maior número de pacientes graves internados, que acabam desenvolvendo infecções secundárias e necessitando desses medicamentos. Porém, o uso excessivo precisa ser controlado para evitar que se impulsione a resistência bacteriana”, disse a Dra. Ana Paula.

Dupla resistência

A combinação de mecanismos de resistência também preocupa. Em setembro, a Anvisa divulgou um alerta sobre o registro de casos, no Paraná e em Santa Catarina, de bactérias P. aeruginosa capazes de produzir, simultaneamente, as enzimas carbapenemases KPC e NDM, que destroem antibióticos carbapenêmicos. A presença destas duas enzimas inviabiliza a utilização de um novo antimicrobiano, o fármaco ceftazidima-avilbactam, que tem sido usado nos hospitais brasileiros para o combate das bactérias produtoras de KPC.

Em agosto de 2020, foi detectado o primeiro caso dos genes de KPC e NDM em uma mesma cepa de P. aeruginosa. Em 2021, já foram identificados 13 pacientes infectados com P. aeruginosa multirresistente.

A associação de enzimas que inibem a ação de antibióticos carbapenêmicos também tem sido detectada em diferentes espécies de importância clínica analisadas no Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC/Fiocruz. Por exemplo, este ano, a unidade identificou a combinação de enzimas carbapanemases NDM e OXA-58 em amostras de A. baumanni isoladas em Manaus e na Bahia. “Estes achados alertam para uma possível tendência entre as amostras hospitalares”, ponderou a Dra. Ana Paula.

“É importante que as pessoas entendam que os antibióticos só atuam contra bactérias e não têm efeito contra vírus ou qualquer outro microrganismo. Não se pode tomar antibiótico por indicação de conhecido ou familiar. Para que esses medicamentos continuem eficazes, eles devem ser usados com critério, apenas com prescrição médica. O paciente precisa seguir a receita de forma irrestrita, com a quantidade de dose e duração da administração exatas”, salientou a microbiologista.

Acesse a notícia completa na página da Fiocruz.

Fonte: Maíra Menezes, IOC/Fiocruz. Imagem: Gutemberg Brito, IOC/Fiocruz.

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