Notícia

Em testes com animais, corticoide foi eficaz para tratar picadas de escorpião e evitar risco de morte

Experimentos mostraram que o medicamento bloqueia a inflamação causada pelo veneno que provoca falência do coração e edema pulmonar

Pixabay

Fonte

Jornal da USP

Data

terça-feira, 23 novembro 2021 12:25

Áreas

Farmacologia.

Pesquisa realizada com animais mostrou que o uso de corticoide pode bloquear a inflamação causada pela picada do escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), minimizando, assim, o risco de morte. O veneno causa reações sistêmicas no organismo que culminam em edema pulmonar (acúmulo de líquido no pulmão) e choque cardiogênico (falência do coração). A espécie é típica das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil e é a que mais causa acidentes graves no País, com registros de óbitos principalmente em idosos e crianças.

A tese Investigação sobre alterações cardíaca que ocorrem no envenenamento pela peçonha do escorpião Tityus serrulatus contou com orientação da professora Dra. Lúcia Helena Faccioli, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), e recebeu o Prêmio Capes de Teses 2021. A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Communications.

O autor do trabalho, Mouzarllem Barros dos Reis, mestre e doutor em Imunologia Básica e Aplicada,  ressaltou ao Jornal da USP que os testes foram feitos em laboratório com camundongos inoculados com as toxinas do animal e, embora as reações sejam semelhantes em  humanos, o pesquisador reforça a necessidade da realização de pesquisas clínicas randomizadas para confirmar os resultados.

O pesquisador explicou que o objetivo do trabalho foi estudar como o veneno do escorpião induz o choque cardiogênico, que faz o coração não bombear o sangue de maneira adequada no corpo, o que irá ter repercussões clínicas graves, podendo evoluir para a morte.

Segundo o pesquisador, o estudo é altamente relevante porque têm aumentado muito os casos de envenenamento por escorpião. O número de pessoas picadas pelo Tityus serrulatus é maior que a quantidade de todos os acidentes por animais peçonhentos juntos, relatou o trabalho.

Testes em animais

Após a inoculação do veneno, os animais receberam doses de corticoide (dexametasona) – medicamento supressor da resposta imune, que foi capaz de reverter o quadro de morte e o problema cardiogênico, além dos outros sintomas associados ao escorpianismo (dor forte no local, sudorese, agitação, febre, taquicardia e óbito). “Embora os resultados tenham sido obtidos em laboratório e em situação controlada, propomos o uso da dexametasona logo após o envenenamento para inibir a produção de mediadores inflamatórios e a liberação de acetilcolina (neurotransmissor), reduzindo as manifestações graves e morte no envenenamento”, disse o pesquisador.

O pesquisador ressaltou que o protocolo proposto no artigo foi aplicado somente em animais. Por isso, é preciso realizar estudos clínicos para o uso em humanos. “Por hora, o soro antiescorpiônico continua sendo a principal arma para tratar o envenenamento”, destacou o Dr. Mouzarllem dos Reis.

Escorpião: praga rural e urbana

O escorpião amarelo (Tityus serrulatus) é uma praga rural e urbana, não existindo nenhum pesticida que consiga combatê-lo, relatou o estudo. Eles costumam se esconder em frestas de pedras, barrancos, paredes e muros mal rebocados, madeira empilhada, entulhos, ralos e forros e gostam muito de umidade e pouca luz. Em algumas regiões, há verdadeiras infestações desses animais.

Mesmo quem mora na cidade também não está livre de sofrer algum tipo de acidente, como consta no estudo. O animal está adaptado aos centros urbanos, onde há acúmulo de entulho e lixo. O escorpião amarelo pode ser encontrado até mesmo em apartamentos altos de prédios, nos quais sobe pelo encanamento. O motivo de sua rápida replicação, além de não haver pesticida eficiente para combatê-lo, é o fato de a fêmea, sozinha, conseguir se autofecundar, processo denominado partenogênese. Cada fêmea gera até trinta filhotes por ninhada, podendo ter até duas ninhadas por ano, de acordo com o estudo.

Como proceder em caso de picadas?

Segundo o Ministério da Saúde, o verão é o período de maior risco para a proliferação de animais peçonhentos. Quando a pessoa é picada por escorpião, recomenda-se lavar o local com água e sabão, manter a região da picada voltada para cima, beber bastante água e levá-la ao pronto-socorro o mais rápido possível.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Jornal da USP.

Fonte: Jornal da USP. Imagem: Pixabay.

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