Notícia

Maior estudo genômico sobre esquizofrenia encontra mais de 100 genes associados à doença

Artigo publicado na ‘Nature’ por consórcio de pesquisadores de 45 países, incluindo o Brasil, analisou dados de 300 mil pessoas do mundo todo e abre caminho para busca por novas terapias

geralt via Pixabay

Fonte

Agência FAPESP e Instituto Karolinska

Data

terça-feira, 12 abril 2022 12:05

Áreas

Bioinformática. Doenças Mentais. Estudo Clínico. Genética. Genoma. Neurociências. Neurologia. Psiquiatria.

Um estudo publicado na revista científica Nature por um consórcio internacional de cientistas revelou que existem pelo menos 120 genes envolvidos com a esquizofrenia. A partir de dados do DNA de cerca de 300 mil pessoas, o grupo, que inclui pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), demonstrou uma relação causal entre esses genes e quadros da doença. Trata-se do maior estudo do tipo já realizado sobre a esquizofrenia, condição que afeta cerca de 24 milhões de pessoas no mundo, mais de 2 milhões no Brasil.

“A esquizofrenia tem uma contribuição poligênica [de múltiplos genes] maior do que se imaginava. A pesquisa encontrou 120 genes associados à doença, todos eles atuando nos neurônios. Isso mostra o papel crucial dessas células para a doença e abre caminho para o desenvolvimento de novas terapias”, contou à Agência FAPESP a Dra. Sintia Belangero, professora da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp) e coautora do trabalho, apoiado no Brasil pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). O time brasileiro inclui ainda os professores da EPM-Unifesp Dr. Ary Gadelha, Dr. Rodrigo Bressan, Dr. Quirino Cordeiro e Dr. Cristiano Noto, além dos pesquisadores Dr. Marcos Santoro e a Dra. Vanessa Ota.

Os pesquisadores fazem parte da Divisão de Esquizofrenia do PGC, sigla em inglês para Consórcio de Genômica Psiquiátrica, liderado por cientistas da Universidade Cardiff, no País de Gales.

“Pesquisas anteriores mostraram associações entre esquizofrenia e sequências de DNA anônimas, mas aqui associamos as descobertas a genes específicos. O presente estudo não apenas aumentou muito o número dessas associações, mas também conseguimos vincular muitas delas a genes específicos, um passo necessário no que continua sendo uma difícil jornada para entender as causas desse distúrbio e identificar novos tratamentos”, disse o Dr. Patrick Sullivan, do Departamento de Epidemiologia Médica e Bioestatística do Instituto Karolinska, na Suécia.

Os 120 genes identificados na pesquisa estão localizados em 287 regiões do genoma humano só agora associadas à doença. Um estudo anterior do mesmo grupo havia apontado apenas 108 regiões associadas ao transtorno. O trabalho atual contou com métodos de análise mais modernos que os anteriores e um número maior de amostras do que qualquer outro.

Foram analisados dados do DNA de 76.755 pessoas com esquizofrenia e 243.649 sem a doença, a fim de compreender melhor os genes e os processos biológicos que sustentam a condição. Mais de 600 voluntários compuseram a coorte brasileira, contribuindo para a diversidade de amostras do estudo.

Levantamentos mundiais do tipo raramente incluem pessoas de ancestralidade não europeia, tornando os resultados obtidos agora mais próximos de beneficiar latinos e afrodescendentes. Nos próximos cinco anos, a Unifesp, sob a liderança do pesquisador Ary Gadelha, pretende coletar mais 20 mil amostras que serão incluídas em futuros estudos do tipo.

Relação causal

Cerca de 60% a 80% da origem da esquizofrenia parece estar relacionada a fatores genéticos. O estudo recém-publicado mostra, porém, que até 24% dessa origem pode ser atribuída a variantes genéticas conhecidas como SNVs (sigla em inglês para variante de nucleotídeo único).

Outros fatores genéticos, além dos ambientais, podem estar envolvidos no desenvolvimento da condição, cujos portadores nem sempre respondem bem aos tratamentos existentes.

Estudo complementar

Um artigo complementar publicado na mesma edição da revista Nature por parte da equipe de pesquisa reforçou as descobertas, apontando para uma base genética e biológica semelhante para esse distúrbio. O estudo complementar analisou mutações que, embora muito raras, têm grandes efeitos na pequena proporção de pessoas que as carregam e encontrou genes sobrepostos e aspectos sobrepostos da biologia.

Ambos os estudos demonstraram a importância e o poder de grandes amostras em estudos genéticos para obter insights sobre transtornos psiquiátricos. Os planos agora são incluir mais participantes da pesquisa e construir conjuntos de dados maiores e mais diversos para avançar ainda mais a compreensão da esquizofrenia.

O professor Dr. Jens Hjerling-Leffler, do Departamento de Bioquímica Médica e Biofísica do Instituto Karolinska, que não fez parte dos estudos, ressaltou: “As descobertas do primeiro estudo revelam vários novos loci genéticos, bem como conexões desses loci com genes, que compõe a principal arquitetura genética da esquizofrenia. Além de revelar importante biologia da doença, os resultados fornecem uma estrutura quantitativa para futuros estudos de esquizofrenia. É uma prova da necessidade de grandes tamanhos de amostra e cooperação entre pesquisadores no estudo de distúrbios complexos. As descobertas do estudo complementar são muito promissoras, uma vez que essas mutações podem ser modeladas em animais, o que pode revelar alguns insights mecanicistas. Isso me dá esperança de que esses dois estudos apontem para uma biologia sobreposta”.

Acesse o resumo do artigo científico na revista Nature (em inglês).

Acesse o resumo do artigo científico complementar na revista Nature (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Acesse a notícia completa na página do Instituto Karolinska (em inglês).

Fonte: André Julião, Agência FAPESP e Anna Svensson, Instituto Karolinska. Imagem: geralt via Pixabay.

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