Notícia

Medicamento antimetastático poderá ser desenvolvido a partir de vieiras

Novo laboratório está em fase de montagem e poderá também purificar e estudar outros compostos de origem marinha

Flickr

Fonte

Programa de Oncobiologia da UFRJ

Data

quarta-feira, 24 julho 2019 17:10

Áreas

Oncologia. Desenvolvimento de Fármacos.

Cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) trabalham no desenvolvimento de um medicamento antimetastático desenvolvido a partir de uma substância encontrada nas vieiras, um molusco muito apreciado na culinária e facilmente encontrado na costa brasileira.

O composto antimetastático é análogo a heparina, uma substância unicamente encontrada no intestino de porcos, e utilizada para combater a trombose. O Dr. Mauro Pavão, coordenador do projeto, pesquisador da UFRJ e apaixonado pelo mar, trabalha há anos estudando substâncias encontradas em animais marinhos – como o pepino-do-mar, ouriço e ascídia – quando percebeu que a estrutura química de muitas dessas substâncias era semelhante à heparina. “Trabalhos feitos por outros pesquisadores mostraram que a heparina inibe várias moléculas de adesão celular que estão envolvidas na progressão do câncer. Mais especificamente: quando a célula tumoral entra na corrente sanguínea, ela é protegida por um cinturão de plaquetas, e a heparina atua justamente removendo essa proteção e fazendo com que as células tumorais sejam atacadas pelas células do sistema imune que circulam no sangue”, afirma o Dr. Mauro Pavão.

Os pesquisadores então fizeram uma série de testes in vitro que confirmaram que as substâncias análogas à heparina, encontradas em moluscos como a vieira, também atuavam destruindo o complexo célula tumoral-plaquetas, mas com um grande e importante diferencial. “Nós observamos que várias dessas substâncias análogas não tinham efeito anticoagulante, não causavam sangramento, que é um dos efeitos colaterais da heparina e que limita drasticamente seu uso clínico”, explica o pesquisador. Os testes foram feitos em animais, com câncer de mama, melanoma e cólon, e confirmaram a ação antimetastática da substância nos três modelos de câncer sem o indesejado sangramento.

O grupo de pesquisa coordenado pelo Dr. Mauro é integrante do Programa de Oncobiologia. O atual projeto, financiado pelo Ministério da Saúde, também reúne pesquisadores da Faculdade de Oceanografia da UERJ, que pesquisam e desenvolvem o cultivo da vieira junto a pescadores e produtores da Ilha Grande, na costa verde do estado do RJ. “A vieira é uma potencial fonte de substância para produção desses remédios antimetastáticos porque é cultivável, e a heparina está alocada justamente em um tecido que é descartado pelos produtores. São vários aspectos positivos no ponto de vista ecológico e social”, afirma Mauro. O grupo também elaborou uma vídeo animação, em inglês, para divulgar o projeto,

Graças ao financiamento destinado ao projeto, os pesquisadores estão montando um laboratório no Hospital Universitário da UFRJ, na Ilha do Fundão, para a produção em larga escala dos compostos, destinados aos testes pré-clínicos, que precisam ser realizados em animais antes de chegar aos testes em seres humanos. Por enquanto, os pesquisadores trabalham com a ideia de produzir um medicamento que possa ser usado na prevenção da metástase do câncer. “Com o uso deste medicamento, se células tumorais caírem na corrente sanguínea, o sistema imune vai estar mais capacitado para remover essas células, por causa da ação intravascular que esse composto tem. Essa seria uma abordagem. Uma outra abordagem seria ministrar o medicamento antes do paciente fazer uma cirurgia de remoção de um tumor primário, já que é comum que células cancerígenas caiam na corrente sanguínea durante esses procedimentos”, afirma o Dr. Mauro.

O novo laboratório está em fase de montagem – e poderá também purificar e estudar outros compostos de origem marinha. Além disso, o projeto inclui investimento em longo prazo na produção em larga escala da substância e prevê a construção de um laboratório de reprodução das vieiras, em Ilha Grande, e a ampliação da fazenda marinha onde os moluscos são cultivados – etapas estas que ainda aguardam os recursos previstos do Ministério da Saúde

Acesse a video animação (em inglês). 

Acesse a notícia no Portal do Programa de Oncobiologia da UFRJ.

Fonte: Rosa Maria Mattos, Portal Oncobiologia. Imagem: Flickr.

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