Notícia

Pesquisadores identificam potencial fármaco contra a disfunção erétil em veneno de aranha

Estudo com toxina da espécie ‘Phoneutria nigriventer’, uma das mais venenosas do Brasil, resultaram em peptídeo cuja ação pode favorecer a ereção

Rodrigo Tetsuo Argenton via Wikimedia Commons

Fonte

UFMG | Universidade Federal de Minas Gerais

Data

quarta-feira, 13 setembro 2023 18:30

Áreas

Biologia. Bioquímica. Biotecnologia. Desenvolvimento de Fármacos. Entrega de Medicamentos. Farmacologia. Indústria Farmacêutica. Microbiologia. Química Medicinal. Toxicologia.

Phoneutria nigriventer, pertencente à família dos ctenídeos, é uma aranha encontrada em países da América do Sul, incluindo o Brasil. Conhecida popularmente como aranha da bananeira ou armadeira – nome derivado de sua ação de ataque, na qual mantém as patas dianteiras erguidas –, é também uma das espécies mais tóxicas conhecidas em todo o mundo. Seu veneno é capaz de causar, especialmente em homens jovens, uma ereção involuntária e dolorosa, conhecida como priapismo.

Essa toxina da aranha, identificada por pesquisadores da Fundação Ezequiel Dias (Funed), embora perigosa, pode resultar em um novo medicamento. Ao buscar compreender, do ponto de vista farmacológico, os mecanismos que geram o priapismo ocasionado pelo veneno da aranha armadeira, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em estudo iniciado há quase 20 anos utilizando a toxina, desenvolveram em laboratório uma molécula sintética com propriedades promissoras para o desenvolvimento de fármaco inovador e seguro para tratar a impotência sexual. Até o momento, o peptídeo, batizado de BZ371A, já gerou 22 patentes internacionais e nove aplicadas. Os pesquisadores foram liderados pela Dra. Maria Elena de Lima, professora aposentada do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (ICB-UFMG).

“É uma pesquisa inspirada pela nossa biodiversidade, que começa com o estudo do veneno de uma aranha e está próxima de gerar um possível medicamento. Isso ajuda a demonstrar por que a nossa fauna deve ser preservada: ela é uma fonte inesgotável de moléculas bioativas, e não conhecemos nem 1% desse potencial. Nosso trabalho, que é de ciência básica, busca identificar atividades biológicas de interesse nos venenos e detectar potenciais modelos de fármacos para uma ampla gama de doenças”, afirmou a Dra. Maria Elena de Lima.

O candidato a fármaco para impotência sexual, aprovado recentemente na fase I de testes, tem o potencial de atender a homens com disfunção erétil que, por diferentes motivos, não podem fazer uso dos medicamentos hoje disponíveis no mercado. Autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a primeira etapa de testes clínicos já provou que o composto não é tóxico para humanos. Em teste-piloto, realizado em homens e mulheres, os pesquisadores observaram que a aplicação tópica do BZ371A resulta na vasodilatação e no aumento do fluxo sanguíneo local, independentemente de qualquer outro estímulo, facilitando a ereção peniana. Esses resultados indicam que o BZ371A é forte candidato a fármaco eficaz para o tratamento da disfunção sexual.

Atualmente, os remédios orais disponíveis para tratar a condição – entre os quais, os conhecidos Viagra e Cialis – pertencem a uma classe de medicamentos que funciona para 70% dos pacientes. Os outros 30%, como homens hipertensos ou com diabetes grave, têm alguma contraindicação para o uso desses remédios, por conta de seus riscos e efeitos colaterais – como hipotensão, desmaio e dor de cabeça – provenientes de exposição sistêmica. Agora, a Biozeus Biopharmaceutical, empresa que adquiriu a patente do potencial fármaco, prepara-se para dar início aos ensaios clínicos da fase II, em que o BZ371A será testado em homens prostatectomizados com disfunção erétil.

O Dr. Paulo Lacativa, diretor executivo da Biozeus, empresa que assumiu a patente e o desenvolvimento do fármaco,  afirma que a UFMG é uma das três universidades brasileiras com mais projetos com qualidade na área de produção de medicamentos. “Como empresa que abraçou esse projeto, temos alguns pontos a destacar. O primeiro deles é que esta talvez se torne a primeira vez em que uma descoberta da universidade brasileira resulta numa medicação que seja desenvolvida para todo o mundo. E acreditamos que esse caso bem-sucedido, conduzido por brasileiros no Brasil, com repercussão mundial, pode ser capaz de mudar todo o ecossistema de inovação em fármacos no país”, projetou o gestor.

Uso tópico, vantagens e perspectivas

Os pesquisadores destacaram  as vantagens de um medicamento para uso tópico. “Os testes, até o momento, já demonstraram que o composto funciona com a aplicação de uma quantidade mínima e sem nenhuma toxicidade, já que praticamente não é detectado na corrente sanguínea. A grande vantagem é que a aprovação de medicamentos tópicos costuma ser bem mais rápida, em razão da menor possibilidade de efeitos colaterais adversos. Além disso, o candidato a fármaco já demonstrou que não gera nenhum efeito colateral detectado, mesmo quando injetado em altas doses”, ressaltou a professora Maria Elena.

Outro ponto benéfico é a possibilidade de uso por homens que não podem se medicar com as terapias hoje disponíveis. Na etapa preliminar, de testagem em animais, o composto foi utilizado em animais diabéticos, hipertensos e idosos. “Nós aplicamos em animais desses três modelos e observamos recuperação muito boa da função erétil”, informou a professora. Há expectativa que o futuro fármaco ocupe uma lacuna hoje deixada pelos medicamentos existentes no mercado.

Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal de Minas Gerais.

Fonte: Hugo Rafael, UFMG. Imagem: Aranha armadeira (Phoneutria nigriventer). Fonte: Rodrigo Tetsuo Argenton via Wikimedia Commons.

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