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Mutações do HIV dificultam produção de vacina, mas PrEP reduziu em 11% infecções no Brasil

Fonte

Instituto Butantan

Data

domingo. 3 dezembro 2023 12:40

Os primeiros casos de HIV (vírus da imunodeficiência humana) foram registrados em 1978 nos Estados Unidos, Haiti e África Central, mas foi na década de 1980 que o vírus se tornou uma emergência global. Quarenta anos depois, a doença causada por ele, a Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS), já foi responsável por 40 milhões de óbitos em todo o mundo.

Enquanto a busca por uma vacina continua, avançaram os tratamentos e outras estratégias de prevenção, como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que hoje alcança uma eficácia próxima a 100%. No Brasil, o uso de PrEP reduziu as infecções em 11,1% entre 2019 e 2021, de 46 mil para 40,8 mil casos por ano. Apesar dessa vitória, ainda é preciso combater complicações de longo prazo e seguir pesquisando uma cura funcional, visando melhorar a qualidade de vida dos pacientes e evitar que precisem tomar remédios para o resto da vida.

O HIV infecta as células de defesa humanas, mais especificamente os linfócitos T CD4. Ele se integra ao material genético do linfócito e se multiplica, depois mata a célula e reinicia o ciclo, infectando outras células. Com isso, o sistema imune vai ficando enfraquecido, mas pode levar anos até que a infecção cause algum sintoma.

Considerada a epidemia mais longa da história, a infecção pelo HIV foi e continua sendo marcada por inúmeros desafios e preconceitos. O Dr. Esper Kallás, médico infectologista, diretor do Instituto Butantan e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), viveu de perto essa história. Além de atender pacientes com HIV, ele publicou mais de 80 artigos sobre o tema e participou de estudos de tratamentos e métodos profiláticos. “Quando surgiu o HIV, acreditava-se que em poucos anos teríamos uma vacina. O que não se sabia, na época, era o quanto o vírus se modificava. A capacidade mutagênica do HIV é uma das maiores que se conhecem entre os vírus”, disse o Dr. Esper Kallás.

Além do patógeno escapar facilmente da resposta imune, os anticorpos sozinhos não são suficientes para neutralizar o vírus: é preciso ter resposta celular. Mas mesmo as iniciativas mais recentes e avançadas para desenvolver um imunizante esbarraram no obstáculo da resistência que o HIV ganha com as mutações. No início deste ano, uma vacina da Janssen teve seu estudo de fase 3 encerrado, após ter se mostrado ineficaz em ensaios clínicos conduzidos em diferentes países – inclusive no Brasil, no Hospital das Clínicas da FMUSP, com participação do Dr. Esper Kallás: “A vacina que chegou mais perto do ideal, desenvolvida na Tailândia, conferiu uma proteção de 32%, que ainda é muito baixa. Do ponto de vista de saúde coletiva, não há praticidade em adotar uma vacina com esse nível de proteção”.

Métodos atuais de prevenção

O Dr. Esper Kallás participou do primeiro estudo que demonstrou a eficácia da PrEPpublicado em 2010 na revista científica The New England Journal of Medicine e conduzido em colaboração com a Universidade da Califórnia e o Instituto Gladstone, ambos dos Estados Unidos. A terapia consiste em usar os antivirais com regularidade para evitar a infecção em caso de contato com o vírus – na pesquisa, a estratégia reduziu em 44% a prevalência do HIV. O trabalho influenciou na adoção do novo protocolo, que chegou ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 2018. Hoje, mais de 100 mil brasileiros usam a PrEP.

Oferecida em 144 países, a terapia é a combinação de dois medicamentos (tenofovir e entricitabina) que bloqueiam a infecção. Segundo o Ministério da Saúde, a PrEP é indicada para qualquer pessoa em situação de vulnerabilidade para o HIV, como aquelas que possuem histórico de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) ou que têm relações sem preservativo com múltiplos parceiros.

No entanto, um dos principais desafios da PrEP é a manutenção do uso dos comprimidos, que devem ser administrados todos os dias. Se a pessoa esquece muitas vezes de tomar o remédio, os níveis de proteção caem e ela fica novamente exposta à infecção. A atual taxa de descontinuidade do tratamento é de 29%, de acordo com o painel de monitoramento do Ministério da Saúde.

Em junho deste ano, foi aprovado um novo fármaco injetável pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que pode ser administrado a cada dois meses, o cabotegravir. “A alternativa se mostrou três vezes mais eficiente do que o comprimido diário, já que evita problemas relacionados ao esquecimento e a dificuldades de manter o uso”, explicou o Dr. Esper, que também contribuiu no estudo do medicamento ao lado de pesquisadores norte-americanos.

O infectologista ressaltou que a utilização da PrEP não substitui outras formas de profilaxia, como o uso da camisinha. Na verdade, quanto mais estratégias são combinadas, melhor a proteção contra o HIV e outras ISTs. “Mas é importante também respeitar as particularidades de cada indivíduo, que pode se adequar melhor a diferentes métodos. Senão, o sistema de prevenção falha”, concluiu o Dr. Esper Kallás.

Acesse a reportagem completa na página do Instituto Butantan.

Fonte: Aline Tavares, Instituto Butantan.

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