Notícia

Fármaco nanotecnológico pode melhorar a eficácia do tratamento do câncer cervical

Aplicação da nanotecnologia para o tratamento de câncer do colo do útero levou pesquisadora ao prêmio “25 Mulheres na Ciência na América Latina”

Shutterstock

Fonte

CNPq | Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Data

sábado, 13 março 2021 14:10

Áreas

Liberação de Fármacos. Nanotecnologia. Oncologia.

Pesquisa sobre o uso da nanotecnologia para o tratamento de câncer do colo do útero levou a Dra. Luiza Abrahão Frank, bolsista de Pós-doutorado Júnior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a ser uma das cientistas contempladas com o prêmio “25 Mulheres na Ciência na América Latina”. Graduada em Farmácia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Dra. Luiza é, atualmente, pesquisadora de pós-doutorado no laboratório de sistemas nanoestruturados para administração de fármacos da UFRGS e professora de cursos da área da saúde na UniRitter.

A pesquisa da Dra. Luiza Frank demonstrou que, associadas à nanotecnologia, doses inferiores de imiquimode, medicamento utilizado para o tratamento do HPV e do câncer cervical, têm efeito significativos sobre células cancerosas da mucosa vaginal, sem provocar os efeitos colaterais que o uso corrente desse  fármaco em sua  forma livre têm sobre as pacientes. Se utilizados pela indústria farmacêutica, os sistemas nanotecnológicos para o tratamento do câncer do colo do útero podem contribuir para aumentar a adesão das pacientes ao tratamento, visto que ajudam a reduzir os efeitos adversos provocados pela administração dos medicamentos utilizados para combater a doença.

Sexto tipo de câncer mais frequente na população em geral e o terceiro mais comum entre mulheres, depois do câncer de mama e do câncer colorretal, o câncer do colo do útero está associado a infecções pelo papilomavírus humano, ou HPV, doença viral sexualmente transmissível, que tem diversos subtipos. Os tipos HPV-16 e HPV-18 são responsáveis por cerca de 70% dos cânceres cervicais.

A proposta da Dra. Luiza foi a de criar plataformas contendo um fármaco com ação antiviral e antitumoral nanoencapsulado, a fim de proporcionar tratamento eficaz contra o câncer cervical e também melhorar a qualidade de vida das mulheres acometidas pela doença. O sistema sugerido permite que a liberação do fármaco seja controlada e produza menos efeitos adversos do que a formulação comercial  em uso. “Meu projeto tem como principal objetivo oportunizar um tratamento diferenciado e de alta qualidade para doenças que acometem a via vaginal. O foco é especificamente no câncer cervical, que é uma das principais causas de morte entre mulheres na América Latina e no Caribe”, explicou a pesquisadora.

O imiquimode foi selecionado pela pesquisadora como fármaco alvo para nanoencapsulação porque preenchia os requisitos necessários para justificar o emprego da nanotecnologia. Fármaco quimioterápico e imuno-estimulante com atividade antitumoral e antiviral, o imiquimode está disponível no mercado brasileiro sob a forma farmacêutica de creme a 5%. Embora sua eficácia seja comprovada para diferentes patologias – o medicamento é utilizado também para tratamento de doenças benignas, como ceratoses actínicas – o imiquimode provoca efeitos adversos que variam desde dor a irritação e ulceração. Nas pacientes com câncer no colo do útero, o tratamento com o fármaco dura 16 semanas, o que faz com que muitas mulheres abandonem a terapia devido ao desconforto provocado pelo medicamento.

Além de ser caro, o fármaco também é um sistema não adesivo, o que facilita sua remoção antecipada quando aplicado à mucosa vaginal. Dessa forma, a Dra. Luiza Frank propôs uma formulação de base nanotecnológica mucoadesiva para melhorar a performance do imiquimode, por meio do aumento de seu tempo de contato com a mucosa, o que possibilita que uma maior quantidade de medicamento possa interagir com o muco vaginal, apresentando melhores resultados.

A sugestão da pesquisadora também contribuiu para diminuir os efeitos colaterais relacionados a seu uso, já que o imiquimode nanoencapsulado é utilizado em quantidade muito menor do que o da formulação comercial. O ambiente da mucosa vaginal contribui para a redução do tempo de contato dos fármacos com a vagina. Por isso, várias formulações farmacêuticas utilizam polímeros mucoadesivos em diferentes apresentações , como óvulos e comprimidos.

A forma proposta de hidrogel de quitosana, com nanocápsulas poliméricas contendo imiquimode, demonstrou ser a mais promissora das sugestões da pesquisadora, devido ao hidrogel apresentar valores mais altos de permeação e de mucoadesão. Para a obtenção das nanoestruturas produzidas para a pesquisa, a Dra. Luiza  Frank usou óleo de copaíba que, em estudos preliminares, foi capaz de solubilizar uma maior quantidade de imiquimode. O óleo de copaíba é conhecido por apresentar ação antifúngica, antitumoral e anti-inflamatória, além de ser utilizado como alternativa para o tratamento de alívio de irritações cutâneas e como substituto a corticoides. A pesquisa foi desenvolvida com a utilização do modelo vaginal suíno, que simula de forma mais adequada a via vaginal feminina.

Todos os experimentos compararam os sistemas nanoestruturados com o imiquimode em sua forma livre e, em todos os casos, foram obtidos melhores resultados com o fármaco na forma nanoestruturada quando aplicado à mucosa vaginal. Além disso, pelo fato de o fármaco apresentar alta performance frente às células quando é encapsulado em nanoestruturas, as doses utilizadas são menores e é mais fácil dele ser internalizado em comparação a sua forma livre, devido ao tamanho nanométrico das estruturas.

Os resultados do trabalho permitiram elucidar a melhor formulação de nanoestruturas para o tratamento do câncer de colo do útero. Em seu estudo, a pesquisadora descobriu que as nanoestruturas sugeridas por ela, como nanoemulsão, nanocápsulas poliméricas e nanocápsulas poliméricas revestidas com quitosana, para aplicação vaginal do imiquimode, potencializaram o efeito citotóxico do medicamento. A quitosana constitui um dos polímeros mucoadesivos mais utilizados pela indústria farmacêutica, ao lado da gelatina e do ácido hialurônico. A pesquisa comprovou que as nanoestruturas inibiram de forma significativa o aparecimento de novas colônias de células de câncer cervical, resultado até então inédito na literatura científica desse campo de conhecimento.

Acesse a notícia completa na página do CNPq.

Fonte: CNPq. Imagem: Shutterstock.

Em suas publicações, o Canal Farma da Rede T4H tem o único objetivo de divulgação científica, tecnológica ou de informações comerciais para disseminar conhecimento. Nenhuma publicação do Canal Farma tem o objetivo de aconselhamento, diagnóstico, tratamento médico ou de substituição de qualquer profissional da área da saúde. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para a devida orientação, medicação ou tratamento, que seja compatível com suas necessidades específicas.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que cadastrados no Canal Farma e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Farma, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2024 farma t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional nas áreas de Ciências Biológicas, Biomédicas e Farmacêuticas, Saúde e Tecnologias 

Entre em Contato

Enviando

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

Create Account