Notícia
Uso indevido de fentanil acende alerta entre pesquisadores e autoridades no Brasil
No Brasil, os registros sobre o uso indevido do fentanil terapêutico e da sua versão ilícita, produzida pelo tráfico, ainda são esparsos
Marcos Patricio, FAPERJ
Fonte
FAPERJ | Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Data
domingo, 16 julho 2023 16:35
Áreas
Biomedicina. Bioquímica. Entrega de Medicamentos. Farmacologia. Medicina Intensiva. Saúde Pública. Toxicologia.
O consumo de fentanil como substância com potencial de causar dependência e transtornos graves vem chamando a atenção de pesquisadores e de autoridades das áreas de Saúde e Segurança Pública do Brasil. O receio é que se repita no País o que vem acontecendo nos Estados Unidos, onde o uso indevido do opioide é considerado um problema de saúde pública. Lá, em 2021, cerca de 70 mil pessoas morreram por overdose da substância. Os números fazem do uso indiscriminado do medicamento a principal causa de morte entre pessoas com menos de 50 anos no país.
No Brasil, os registros sobre o uso indevido do fentanil terapêutico e da sua versão ilícita, produzida pelo tráfico, ainda são esparsos. O perfil de utilização do fentanil no Brasil é um dos estudos que vêm sendo desenvolvidos pela rede temática que investiga o efeito do uso de drogas apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Os pesquisadores vêm analisando o padrão de prescrição de opioides. Em especial, do fentanil, cuja utilização aumentou sensivelmente a partir do início da pandemia de COVID-19, em 2020. O medicamento é adotado por centros cirúrgicos e unidades de terapia intensiva como anestésico e como analgésico para atenuar a dor intensa.
O fentanil foi sintetizado, em 1960, para atender às necessidades da medicina intensiva. O problema é a sua utilização indevida como substância de uso não terapêutico. “Para entender melhor o modo como o fentanil está sendo usado nos hospitais, montamos uma série histórica com informações registradas ao longo de 10 anos sobre o uso de opioides, em 24 unidades de um importante grupo hospitalar privado presente em vários estados brasileiros”, explicou o Dr. Francisco Inácio Bastos, coordenador da rede de pesquisa, que é apoiado pelo programa Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. O Dr. Francisco Bastos é pesquisador titular do Laboratório de Informação em Saúde (LIS) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (ICICT/Fiocruz).
A série histórica faz parte da tese de doutorado do farmacêutico Rômulo Carvalho, orientando do professor Francisco Bastos e do Dr. Arnaldo Prata, pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), também integrante da Rede FAPERJ. Segundo o pesquisador da Fiocruz, trata-se de um detalhado banco de dados sobre a dispensação de opioides, ou seja, com informações sobre os medicamentos que as farmácias dos hospitais liberam para o atendimento, incluindo o fentanil.
Opioide com potência analgésica de 50 a 100 vezes maior do que a da morfina, o fentanil está disponível no Brasil sob a forma injetável e em adesivos transdérmicos. É usado terapeuticamente como complemento da anestesia geral ou local e, também, para intubação. O medicamento tira do paciente o controle sobre a respiração. Daí o perigo quando utilizado sem controle por dependentes de opioides, que muitas vezes acabam vítimas de overdose. A morte se dá, via de regra, por parada cardiorrespiratória.
Um dos especialistas brasileiros em consumo de drogas, o Dr. Francisco Bastos foi convidado pelos editores da revista científica The Lancet Regional Health – Americas a escrever um comentário sobre o uso de fentanil no País. No artigo publicado em maio – em conjunto com a Dra. Noa Krawczyk, pesquisadora do Center for Opioid Epidemiology and Policy da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos – o pesquisador da Fiocruz explicou que, apesar de o uso da substância no Brasil ser preocupante, ainda é possível evitar que a situação fuja do controle.
“Entender como os medicamentos estão sendo prescritos e controlar a sua utilização dentro e fora das unidades de saúde são ações importantes para não deixar acontecer, no Brasil, o problema ocorrido nos Estados Unidos. Lá, os óbitos causados pelo uso indiscriminado de fentanil já são a principal causa de morte entre os adultos até 50 anos, superando o câncer e acidentes de trânsito”, advertiu o pesquisador.
Saiba mais sobre as atividades da Rede de Pesquisas de Drogas da FAPERJ no canal oficial da FAPERJ no YouTube.
Acesse a publicação na revista The Lancet Regional Health – Americas.
Acesse a notícia completa na página da FAPERJ.
Fonte: Marcos Patricio, FAPERJ. Imagem: No Laboratório MultiMassas da UERJ, vinculado à rede temática, os pesquisadores contam com equipamentos que permitem analisar o nível de drogas em amostras do sangue e do cérebro. Fonte: Marcos Patricio, FAPERJ.
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