Notícia

Estudo examinou como as superfícies de implantes mamários afetam a resposta imunológica

Estudo de seis anos analisou sistematicamente como a arquitetura da superfície dos implantes mamários influencia o desenvolvimento de efeitos adversos, incluindo um tipo incomum de linfoma

Shutterstock

Fonte

Universidade Rice

Data

terça-feira, 22 junho 2021 06:05

Áreas

Imunologia. Saúde da Mulher.

Todos os anos, cerca de 400.000 pessoas recebem implantes mamários de silicone nos Estados Unidos. De acordo com dados da agência regulatória FDA, a maioria desses implantes precisa ser substituída em 10 anos devido ao acúmulo de tecido cicatricial e outras complicações.

Uma equipe de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), da Universidade Rice, do MD Anderson Center da Universidade do Texas e do Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, publicou novas descobertas sobre os implantes mamários na revista científica Nature Biomedical Engineering.

“A topografia da superfície de um implante pode afetar drasticamente como a resposta imune o percebe, e isso tem ramificações importantes para o design [dos implantes]”, disse o Dr. Omid Veiseh, professor de Bioengenharia da Universidade Rice que iniciou a pesquisa há seis anos durante uma bolsa de pós-doutorado no MIT. “Esperamos que este estudo forneça uma base para que os cirurgiões plásticos avaliem e entendam melhor como a escolha do implante pode afetar a experiência do paciente”, continuou o pesquisador.

Impacto

O Dr. Omid Veiseh, cujo laboratório se concentra no desenvolvimento e estudo de materiais biocompatíveis, disse que está particularmente animado com a descoberta de que a arquitetura de superfície pode ser ajustada para reduzir as respostas imunológicas do hospedeiro e a fibrose devida aos implantes mamários. “Há muito que ainda não entendemos sobre como o sistema imunológico organiza sua resposta aos implantes, e é muito importante entender isso no contexto dos biomateriais”, disse o Dr. Veiseh.

“Clinicamente, observamos que os pacientes expostos a implantes de superfície texturizada podem desenvolver linfoma de células grandes associado ao implante de mama (BIA-ALCL), mas isso não ocorreu com implantes de superfície lisa. Este artigo fornece novos insights importantes sobre a patogênese do câncer com implicações claras para a prevenção da doença antes que ela se desenvolva.”, disse o Dr. Mark Clemens, professor de Cirurgia Plástica da Universidade do Texas que lidera uma equipe multidisciplinar de tratamento da doença.

Análise da superfície

Os implantes mamários de silicone estão em uso desde 1960. As primeiras versões tinham superfícies lisas, mas os pacientes com esses implantes geralmente apresentavam uma complicação chamada contratura capsular, na qual o tecido cicatricial se formava ao redor do implante e o comprimia, criando dor ou desconforto, bem como deformidades visíveis. Os implantes também podem virar após a cirurgia, exigindo ajuste ou remoção cirúrgica.

No final da década de 1980, algumas empresas introduziram superfícies mais ásperas com o objetivo de reduzir as taxas de contratura capsular e fazer com que os implantes permanecessem no lugar. As superfícies texturizadas têm picos de alturas variadas, mas de algumas centenas de microns em média.

Em 2019, a agência FDA solicitou que a fabricante de implantes mamários Allergan retirasse os implantes mamários altamente texturizados que tinham uma aspereza superficial média de cerca de 80 mícrons devido ao risco de BIA-ALCL, um câncer do sistema imunológico.

Em 2015, os pesquisadores começaram a testar cinco implantes disponíveis comercialmente com diferentes designs de superfície para ver como eles interagiriam com o tecido circundante e o sistema imunológico. Estes incluíam o implante altamente texturizado que tinha sido retirado anteriormente, um que era completamente liso e três que tinham uma superfície com textura intermediária.

Resultados experimentais

Em um estudo com coelhos, os pesquisadores descobriram que o tecido exposto às superfícies dos implantes mais texturizadas mostrou sinais de aumento da atividade dos macrófagos – células do sistema imunológico que normalmente eliminam  células estranhas e resíduos.

Todos os implantes estimularam células imunes chamadas células T, mas de maneiras diferentes. O estudo descobriu que implantes com superfícies mais ásperas estimularam mais respostas de células T pró-inflamatórias. Entre os implantes não lisos, aqueles com menor grau de rugosidade (4 mícrons) estimularam as células T de modo a inibir a inflamação do tecido.

As descobertas sugerem que implantes mais ásperos interagem mais contra o tecido circundante e causam mais irritação. Isso pode explicar por que os implantes mais ásperos podem levar ao linfoma: a hipótese é que parte da textura se desprende e fica presa no tecido próximo, onde provoca inflamação crônica que pode levar ao câncer.

Os pesquisadores também testaram versões miniaturizadas de implantes em camundongos. Eles fabricaram esses implantes usando as mesmas técnicas usadas para fabricar versões em tamanho humano e mostraram que implantes mais texturizados provocavam mais atividade de macrófagos, mais formação de tecido cicatricial e níveis mais elevados de células T inflamatórias.

Rumo a implantes mais seguros

Após seus estudos em animais, os pesquisadores examinaram como os pacientes humanos respondem a diferentes tipos de implantes mamários de silicone. Eles encontraram evidências dos mesmos tipos de respostas imunológicas observadas nos estudos com animais. Por exemplo, observaram que amostras de tecido de pacientes que haviam sido hospedeiros de implantes altamente texturizados por muitos anos apresentavam sinais de resposta imunológica crônica e de longo prazo. Também descobriram que o tecido cicatricial era mais espesso em pacientes que tinham implantes mais texturizados.

“Fazer comparações em camundongos, coelhos e depois em humanos [amostras de tecido] realmente fornece um corpo de evidências muito mais robusto e substancial sobre como eles se comparam entre si”, disse o Dr. Veiseh. Os autores disseram que esperam que seus conjuntos de dados ajudem outros pesquisadores a otimizar o design de implantes mamários de silicone e outros tipos de implantes médicos de silicone para maior segurança.

“Estamos satisfeitos por termos sido capazes de trazer novas abordagens de ciência de materiais para entender melhor as questões de biocompatibilidade na área de implantes mamários. Também esperamos que os estudos que conduzimos sejam amplamente úteis na compreensão de como projetar implantes mais seguros e eficazes de qualquer tipo”, concluiu o Dr. Robert Langer, autor sênior do estudo e professor do MIT.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade Rice (em inglês).

Fonte: Anne Trafton, para a Universidade Rice. Imagem: Shutterstock.

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