Notícia

Estudo sugere que tratamento simples durante a gravidez pode proteger o bebê de problemas de memória na vida adulta

Novo estudo em animais de laboratório descobriu ligação direta entre baixo oxigênio no útero e função de memória prejudicada na prole adulta: suplementos antioxidantes durante a gravidez podem proteger contra essa situação

Ryan Franco on Unsplash

Fonte

Universidade de Cambridge

Data

sexta-feira, 23 abril 2021 06:05

Áreas

Bioquímica. Farmacologia. Saúde da Mulher. Suplementos.

A falta de oxigênio no útero – conhecida como hipóxia fetal crônica – é uma das complicações mais comuns na gravidez humana. Ela pode ser diagnosticada quando uma ultrassonografia de rotina mostra que o bebê não está crescendo adequadamente e é causada por uma série de condições, incluindo pré-eclâmpsia, infecção da placenta, diabetes gestacional ou obesidade materna.

Resultados de um novo estudo mostram que a hipóxia fetal crônica leva a uma densidade reduzida de vasos sanguíneos e a um número reduzido de células nervosas e suas conexões em partes do cérebro da prole. Quando a prole atinge a idade adulta, sua capacidade de formar memórias duradouras é reduzida e há evidências de envelhecimento acelerado do cérebro.

A vitamina C, um antioxidante, administrada a camundongas grávidas com hipóxia fetal crônica, demonstrou proteger a saúde futura do cérebro da prole. Os resultados foram publicados na revista científica FASEB J.

“É extremamente animador pensar que podemos proteger a saúde do cérebro de um feto com um tratamento simples que pode ser dado à mãe durante a gravidez”, disse o Dr. Dino Giussani, professor do Departamento de Fisiologia, Desenvolvimento e Neurociências da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que conduziu o estudo.

Os pesquisadores usaram a vitamina C porque é um antioxidante bem estabelecido e usado. No entanto, apenas altas doses foram eficazes, o que pode causar efeitos colaterais adversos em humanos. Estudos de acompanhamento estão agora buscando antioxidantes alternativos para tratar a hipóxia fetal crônica em humanos.

Para a realização da pesquisa, um grupo de camundongas prenhas foi mantido em ar ambiente com oxigênio a 13% – causando gestações hipóxicas. O restante dos animais foi mantido em ar normal (oxigênio a 21%). Metade das camundongas em cada grupo receberam vitamina C na água de beber durante a gravidez. Após o nascimento, os ratos bebês foram criados até quatro meses de idade, o equivalente ao início da idade adulta em humanos, e então realizaram vários testes para avaliar a locomoção, ansiedade, aprendizado espacial e memória.

O estudo descobriu que camundongos nascidos de gravidez hipóxica demoravam mais para realizar a tarefa de memória e também não se lembravam de algumas coisas. J[a camundongos nascidos de gestações hipóxicas, nas quais as mães receberam vitamina C durante a gravidez, realizaram a tarefa de memória tão bem quanto os filhos de gestações normais.

Analisando os cérebros dos filhotes, os pesquisadores descobriram que o hipocampo – a área associada à formação de memórias – foi menos desenvolvido em camundongos de gestações hipóxicas.

Em uma análise mais profunda, os cientistas mostraram que a gravidez hipóxica causa uma produção excessiva de espécies reativas de oxigênio, chamadas de “radicais livres”, na placenta. Na gravidez saudável, o corpo mantém o nível de radicais livres sob controle por enzimas antioxidantes internas, mas o excesso de radicais livres oprime essas defesas naturais e danifica a placenta em um processo chamado “estresse oxidativo”. Isso reduz o fluxo sanguíneo e o fornecimento de oxigênio ao bebê em desenvolvimento.

Neste estudo, as placentas de gestações hipóxicas mostraram estresse oxidativo, enquanto as de gestações hipóxicas suplementadas com vitamina C pareciam saudáveis. Tomados em conjunto, esses resultados mostram que a falta de oxigênio no útero durante a gravidez causa estresse oxidativo na placenta, afetando o desenvolvimento do cérebro da prole e resultando em problemas de memória mais tarde na vida.

“A hipóxia fetal crônica prejudica o fornecimento de oxigênio em períodos críticos de desenvolvimento do sistema nervoso central do bebê. Isso afeta o número de conexões nervosas e células feitas no cérebro, que surgem na vida adulta como problemas de memória e um declínio cognitivo mais precoce”, disse a Dra. Emily Camm, professora do Departamento de Fisiologia, Desenvolvimento e Neurociência de Cambridge, primeira autora do artigo, e que recentemente assumiu uma nova posição no The Ritchie Centre na Austrália.

A interação entre nossos genes e estilo de vida desempenha um papel na determinação do nosso risco de doenças como adultos. Há também evidências crescentes de que o ambiente vivenciado durante períodos sensíveis de desenvolvimento fetal influencia diretamente nossa saúde em longo prazo – um processo conhecido como “programação de desenvolvimento”.

Os problemas de saúde do cérebro que podem começar no útero devido à gravidez complicada variam de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade a alterações cerebrais na vida adulta que foram associadas à doença de Alzheimer.

“Na medicina de hoje, é preciso mudar o foco do tratamento das doenças, quando podemos fazer relativamente pouco, para a prevenção, quando podemos fazer muito mais. Este estudo mostra que podemos usar a medicina preventiva mesmo antes do nascimento para proteger a saúde do cérebro em longo prazo”, concluiu o Dr. Dino Giussani.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Cambridge (em inglês).

Fonte: Jacqueline Garget, Universidade de Cambridge. Imagem: Ryan Franco on Unsplash.

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