Notícia

Pesquisa inédita com fármaco abre novo caminho no tratamento do Alzheimer

Divulgação, FAPERJ

Fonte

FAPERJ | Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

Data

sábado, 6 fevereiro 2021 10:55

Áreas

Doenças Neurológicas. Envelhecimento. Farmacologia. Neurociências.

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de Nova York (NYU), nos Estados Unidos, descobriram que um composto sintético que favorece a produção de proteínas no cérebro – processo conhecido como síntese proteica – é capaz de reativar neurônios e impedir a perda de memória em camundongos com a doença de Alzheimer.  O estudo, publicado na revista científica Science Signaling, aponta para um caminho promissor no sentido da melhora do funcionamento cerebral e restauração da memória em animais usados como modelos da doença de Alzheimer. A pesquisa inicia a busca por compostos que atuem no controle da síntese proteica cerebral que possam ser utilizados em pacientes com Alzheimer sem efeitos colaterais importantes.

Doença progressiva, o Alzheimer se caracteriza pelo declínio lento e progressivo das funções cognitivas, ou seja, memória, atenção, linguagem e orientação. Embora sua causas ainda não sejam totalmente conhecidas, há fortes indícios de que defeitos na comunicação entre os neurônios, as chamadas sinapses, levam à perda de memórias nos pacientes. A doença geralmente acomete pessoas idosas, sendo responsável por 60% a 80% dos casos de demência. No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que a doença afeta cerca de 30% da população com mais de 85 anos. As estimativas são de que o Alzheimer atinja 1,2 milhão de brasileiros atualmente, e a previsão é de que em 2050 esse número aumente para 4 a 5 milhões de doentes.

Apesar dos avanços da ciência, até hoje não existe tratamento eficaz para a doença de Alzheimer. Coordenador da pesquisa, que teve início em 2016, o pesquisador Dr. Sergio Ferreira, professor nos Institutos de Biofísica e de Bioquímica Médica da UFRJ, lembra que existem dois tipos de drogas utilizadas na doença. No entanto, elas não são eficazes em todos os pacientes e se limitam, em alguns casos, a retardar por um período relativamente curto (um ano, no máximo) a evolução do Alzheimer, cuja  piora é inevitável. “O último medicamento aprovado para o tratamento do Alzheimer foi em 2003, ou seja, há 18 anos, diante de uma doença que cada vez está mais presente em nossa população”, disse o professor Sergio Ferreira. Em todo o mundo, estima-se que 45 milhões de pessoas sofram algum tipo de demência e, com o envelhecimento da população, a previsão é de que a cada 20 anos este número dobre.

“Esse trabalho é importante porque visa uma nova forma, um novo ponto de vista ainda não explorado e bastante promissor para tratar a doença de Alzheimer”, explica Mauricio Martins Oliveira, primeiro autor do artigo científico. Segundo ele, há alguns anos a ciência trabalha com o fato de que a doença provoca prejuízo na produção de proteínas no cérebro, o que é fundamental na formação da memória de longo prazo. “O principal diferencial da pesquisa é focar num mecanismo celular novo, que ainda não foi testado como terapêutica. Restaurar a memória estimulando a síntese de proteínas é um fato novo e promissor”, ressaltou Maurício Oliveira, que já contou com apoio do programa Pós-Doutorado Nota Dez da Fundação ‘Carlos Chagas Filho’ de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) para desenvolver suas pesquisas.

“A síntese de proteínas no cérebro é essencial para o funcionamento dos neurônios, especialmente para a consolidação das memórias. Já foi comprovado que os cérebros de pacientes acometidos pela doença apresentam sinais claros de que a síntese de proteínas está prejudicada. Nosso trabalho abre uma nova perspectiva para as pesquisas nessa área porque mostra, pela primeira vez, como a conexão entre a doença e a síntese de proteínas no cérebro afeta a memória, que pode ser restaurada com o uso de fármacos”, completou o Dr. Sergio Ferreira, que, desde 1990, conta com o apoio da FAPERJ para desenvolver suas pesquisas.

No estudo, os cientistas brasileiros, em parceria com o grupo do pesquisador Dr. Eric Klann, diretor do Centro para Ciências Neurais da NYU, utilizaram o medicamento ISRIB, um composto sintético capaz de estimular a síntese de proteínas. O fármaco atua no início do processo de produção de novas proteínas a partir da leitura do código genético, estimulando a síntese de proteínas nas células. Alguns estudos anteriores já haviam mostrado sua capacidade de estimular a memória em animais jovens e idosos saudáveis. Os pesquisadores começaram a testar se o ISRIB poderia restaurar a plasticidade sináptica e a memória em duas linhagens diferentes de camundongos que apresentam alterações cerebrais e sintomas de perda de memória característicos da doença de Alzheimer. Ao realizarem uma série de testes nesses animais, os cientistas concluíram que o ISRIB pode, de fato, restaurar a síntese proteica no hipocampo, fortalecer as conexões entre os neurônios e a memória.

Em conjunto, os resultados indicam que a normalização da síntese de proteínas com o uso do composto ISRIB restaura processos cognitivos prejudicados pela doença de Alzheimer.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da FAPERJ.

Fonte: Paula Guatimosim, FAPERJ. Imagem: Fotomontagem representativa do hipocampo dorsal de camundongos transgênicos APP/PS1 tratados com salina (controle, imagem à esquerda) ou com ISRIB (imagem à direita) após imunomarcação para visualização de depósitos amiloides (em verde). Fonte: Divulgação, FAPERJ.

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